
São Paulo – O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores
Sem-Teto, Guilherme Boulos, afirmou em debate realizado ontem (29), no
Instituto Casa da Cidade, em São Paulo, que o crescimento da especulação
imobiliária nas grandes cidades brasileiras é responsável pela criação
de periferias e exclusão social. “Os fenômenos urbanos que vimos nos
últimos anos no Brasil foi o fenômeno de criação de novas periferias,
por causa desse mecanismo de especulação imobiliária.”
“O aluguel que custava 500 reais passou a custar mil reais. A pessoa
que morava nessa região teve que sair de lá, e foi jogada para lugares
cada vez mais distantes”, afirma.Segundo Boulos, o volume anual de financiamento de crédito
imobiliário para aquisição de moradia era de R$ 4,8 bilhões em 2005 e
saltou para R$ 102 bilhões este ano.
“A moradia deixa de ser tratada como um direito social humano e passa
a ser tratada como algo que o valor se define pelas situações da Bolsa,
e cada vez mais nossas cidades são a expressão viva dessa
mercantilização da terra e direitos”, diz o ativista.
Para Boulos, a falta de uma regulação pública no setor e uma política
de crescimento baseada no crédito para consumo são os principais
responsáveis pelo aumento no preço dos aluguéis. Guilherme afirma que as
construtoras são as maiores beneficiadas por esse sistema. “A terra
virou ouro nas grandes cidades brasileiras. Nelas teve um aumento médio
de 2008 pra cá na casa dos 200%. Aqui o sistema financeiro despejou
muito crédito para aquecer o mercado, dando poder às construtoras, sem
regulação pública, assim, aumentando o preço da terra e os valores dos
aluguéis. Uma parte expressiva dos trabalhadores mais pobres paga
aluguel.”
O coordenador diz que o crescimento econômico nem sempre é sinônimo
de inclusão social. “É a lição de uma parte da nossa esquerda que ainda
insiste em se apegar à ideia de que o crescimento econômico vai trazer
inclusão social. Essa ideia é contradita por vários processos de
crescimento econômico ao longo do tempo, a começar pela nossa história, o
período de maior crescimento econômico foi durante a ditadura militar
que foi o período de maior concentração de renda no Brasil.”
Boulos ainda defendeu a união da esquerda em pautas para uma reforma
política e econômica como saída para a crise brasileira. “Nós temos que
ter a capacidade de escutar a insatisfação social, mas apresentando um
projeto de esquerda, popular e de reformas. As cidades brasileiras são
explosivas, e nós temos condições de defender essas pautas e levantar um
projeto político para o avanço, de forma unitária no campo popular do
Brasil.”
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