sexta-feira, 28 de março de 2014

O Papel do Exército na região de conflito no sul da Bahia

           O Exército chegou à região do sul da Bahia para realizar Operações de Garantia da Lei e da Ordem. Tais operações solicitadas pelo Governador do Estado da Bahia e autorizadas pela Presidente da República tinham como objetivo aumentar a segurança dos moradores locais, índios ou não índios, impedindo a ocorrência de ilícitos. Aguardando até os dias de hoje uma resolução da justiça para solucionar o problema da região.

         Segundo moradores da região atingida pelo conflito, como o Sr. Luciano, logo da sua chegada, a ação dos militares foi considerada inadequada, com abordagens e revistas que constrangiam a população. Com o passar dos dias, a tropa do Exército passou a agir corretamente, respeitando os direitos e a integridade dos cidadãos, mudando a opinião pública local. 

        Hoje a população se preocupa com a saída das tropas da região, pois se sentem seguros e protegidos com os constantes patrulhamentos na área. Moradores como o Sr. Geovani  relatam que tropas militares são bem vindas na região e que devido a sua atuação o dia a dia da população voltou à normalidade.  

Após 45 dias da presença das forças Armadas na região o que se vê são moradores satisfeitos com a presença do Exército em Ilhéus, Una e Buerarema. 
Luciano e Geovani, moradores da região

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terça-feira, 25 de março de 2014

COMO SE JÁ NÃO SE SOUBESSE.

HILTON AFIRMA QUE LUTAR PELO AMBIENTALISMO VIROU AÇÃO DE RISCO


O vereador Hilton Coelho (PSOL) afirma que após cinco dias do assassinato do ambientalista Ivo Barreto Filho, de 48 anos, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia deve uma explicação à sociedade. “Depois das denúncias feitas por Ivo Barreto à Comissão de Meio Ambiente, Seca e Recursos Hídricos, da Assembleia Legislativa da Bahia, ele foi assassinado. A tese de latrocínio, em minha opinião, está descartada. Acredito que foi um crime político contra a luta ambientalista”, disse.

 
“É preciso que a apuração do crime seja feita de maneira mais efetiva. A luta em defesa do ambientalismo tornou-se uma atividade de risco. Salvador tem destruído sua área remanescente de Mata Atlântica com a omissão ou conivência das autoridades estadual e municipal. Basta vermos o que foi feito na área do Parque Tecnológico e a liberação desenfreada para as construtoras na área da Avenida Luiz Viana Filho, a Paralela. Os governos viraram grandes licenciadores aos ataques ao meio ambiente”, avalia Hilton Coelho.
 
O vereador expressa solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de atividades ambientais. “Quem ousa defender o meio ambiente e defende os interesses da maioria da população contra as ambições das grandes empresas, estrangeiras ou nacionais, coloca-se em uma posição de risco. Que o governo estadual, através da SSP-BA, apure quem assassinou Ivo Barreto e a mando de quem ele estava. Ivo Bacana, como era conhecido, morreu na luta, mas a luta não morre”.

E SOBRE A MARCHA DAS FAMÍLIAS COM DEUS E PELA PÁTRIA???

ESSE BLOG NÃO COMENTA MARCHAS DA FAMÍLIA COM DEUS E PELA PÁTRIA...

FAÇAM QUANTAS MARCHAS QUISEREM, AGORA ESTAMOS EM UM PAÍS LIVRE.

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ÍNDIOS X ARICULTORES. MAIS UM ROUND (DISCUSSÃO)

Os índios Tupinambá e a cobertura enviesada

Em 26 de fevereiro último, o Jornal da Band veiculou uma reportagem denunciando a “fraude que criou uma tribo de falsos índios”, dando origem à Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. Numerosos dados equivocados foram apresentados na matéria, que sustenta, por exemplo, que a Constituição Federal proíbe a “ampliação de áreas indígenas” – como se sabe, a lei maior determina o reconhecimento pelo Estado dos direitos territoriais indígenas. Nenhum índio foi ouvido pela reportagem; dos sete entrevistados, ao menos três são pretensos proprietários de áreas no interior da TI, o que não é informado aos espectadores. Chega-se a insinuar que um criminoso colombiano estaria “por trás” da mobilização indígena pela demarcação de seu território, em uma conspiração internacional para arrebatar terras a produtores rurais brasileiros.
A reportagem enviesada debruça-se sobre um contexto de intenso conflito territorial e de violência contra os Tupinambá. Em 28 de janeiro de 2014, agentes da Força Nacional de Segurança Pública e da Polícia Federal instalaram uma base policial na aldeia Serra do Padeiro, no interior da TI. Com isso, tratavam de consolidar sua presença na área – onde atuavam desde agosto do ano anterior, por determinação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo –, dando início à ocupação militar permanente do território indígena. No mês seguinte, cerca de 500 soldados do Exército deslocaram-se à região, por ordem da presidenta Dilma Rousseff, para “garantir a lei e a ordem”, “pacificando” as relações entre indígenas e não-índios contrários à demarcação da TI. Os indígenas passaram a ser vigiados ostensivamente e tiveram lugar ações de reintegração de posse violentas.
Na tarde de 8 de novembro de 2013, três indígenas do povo Tupinambá foram assassinados em uma emboscada, no interior da TI. As vítimas – Aurino Santos Calazans (31 anos), Agenor Monteiro de Souza (30 anos) e Ademilson Vieira dos Santos (36) – foram atacadas a tiros e golpes de facão por quatro homens, que se aproximaram em duas motocicletas. A esposa de Aurino também estava no local, mas conseguiu escapar. Ela descreveu um ataque brutal. Um dos indígenas foi encontrado quase decepado, apresentando sinais de tortura (foi chicoteado) e muitos ferimentos provocados por facão.
Desde o início dos anos 2000, os Tupinambá vêm demandando do Estado brasileiro o reconhecimento das terras que tradicionalmente ocupam e, por meio de ações conhecidas como “retomadas de terras”, vêm tratando de recuperar as áreas que lhes foram tomadas. A penetração massiva de não-indígenas no território Tupinambá teve início no final do século 19, quando a região tornou-se a principal fronteira agrícola do estado da Bahia, com o estabelecimento da cultura do cacau. Entre os anos de 1920 e 1940, esse processo se intensificou. Os indígenas que não migraram para as zonas urbanas mantiveram-se em pedaços de terra muito diminutos ou passaram a trabalhar em fazendas de cacau, em condições extremamente precárias, em alguns casos, inclusive como mão-de-obra escrava.
O processo de identificação da TI Tupinambá de Olivença – que se estende por porções dos municípios de Buerarema, Ilhéus e Una, e onde vivem cerca de 4.700 indígenas, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde para 2009 –, teve início em 2004, como resultado de prolongada pressão por parte dos indígenas. Cinco anos depois, a Fundação Nacional do Índio delimitou a TI em cerca de 47 mil hectares. Descumprindo os prazos estabelecidos pelo Decreto 1.775/96, o ministro da Justiça ainda não assinou a portaria declaratória da TI, para que o processo então se encaminhe para as etapas finais. Em razão da omissão governamental, o conflito se acirrou. Em 14 de agosto último, um veículo que transportava estudantes indígenas foi alvejado, em uma emboscada, deixando dois jovens feridos. Nas semanas subsequentes, veículos de órgãos públicos e casas de indígenas foram incendiadas, em protesto contra a demarcação.
Pouco mais de dois meses antes dos assassinatos dos três Tupinambá, referido acima, editorial do jornalA Região, de Itabuna, publicado em 31 de agosto, arremetia contra o reconhecimento dos direitos territoriais dos índios: demarcar a TI equivaleria a “entregar 30% do território de Ilhéus a malandros que nunca foram índios”. “Nem é preciso olhar muito para ver que a maioria dos que se dizem tupinambá não tem qualquer característica física de índio. O chefe do bando, por exemplo, Babau, está mais para vocalista do Olodum que para cacique indígena. Posso dizer que sou mais índio que ele.” Nessa passagem, o editorialista refere-se a Rosivaldo Ferreira da Silva (Babau), um dos caciques Tupinambá, e alude ao fenótipo de parte dessa população – decorrente de seu prolongado contato com a sociedade envolvente e dos muitos casamentos interétnicos ocorridos na região – para negar a identidade étnica dos Tupinambá.
Após descrever o que seria a dramática situação dos pretensos proprietários de terras da região – vítimas da “justiça caolha”, da “suspeita Funai” e do “governo esquerdóide Dilma” –, o autor conclui, com a mesma frase da manchete: “Só restam as armas”. Na mesma época, um outdoor instalado na região acusava os índios de “genocídio” e trazia a imagem de dois homens sem rosto apontando armas, acima dos dizeres: “Responda governador antes que seja tarde demais”. Como se verá, a criminalização dos Tupinambá pela imprensa deita raízes no passado – remontando a um episódio de resistência indígena ocorrido nas décadas de 1920 e 1930 – e, contemporaneamente, tem implicações diretas no processo de demarcação.
Flagelo perturbador da ordem pública
“Criminoso perigosíssimo e hediondo”, “facínora”, “repelente criminoso”, “o terror de Olivença”, “truculento cafuzo”, “bandido” e “bandoleiro”. Essas foram algumas das expressões utilizadas por João da Silva Campos, autor da Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus (escrita entre os anos de 1936 e 1937, e publicada em 1947), para se referir ao indígena Marcellino José Alves, principal personagem do que ficou conhecido como a “revolta do caboclo Marcellino”. Entre os últimos anos da década de 1920 e o final da década de 1930, com o intuito de barrar o avanço dos não-índios sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos Tupinambá, Marcellino organizou a resistência indígena e, em decorrência disso, foi perseguido e preso em diferentes ocasiões.
Na época, teve lugar uma intensa campanha de criminalização contra os indígenas levantados, operada em grande parte pela imprensa regional. Em 1929, os jornais de Ilhéus começaram a noticiar, de forma sensacionalista e tendenciosa, supostos atos de vandalismo que estariam sendo praticados por Marcellino e seus companheiros. As denúncias eram unilateralmente apoiadas em relatos de fazendeiros, sustentando que os indígenas estariam percorrendo a região incendiando fazendas, destruindo plantações e disseminando o terror entre os pacatos moradores da área.
Ainda em 1929, foi noticiada a primeira prisão de Marcellino, acusado, entre outros crimes, de assassinato. A 5 de novembro, lia-se no Correio de Ilhéus: “Comunicam-nos de Olivença que acaba de ser preso pela polícia e paisanos o caboclo Marcellino pronunciado por crime de morte e que ali estava cometendo grandes depredações auxiliado por irmãos e outros caboclos. Este criminoso constituiu-se um permanente flagelo e perturbador da ordem pública. (...) É uma notícia que vai alegrar a todos que tinham conhecimento dos desatinos praticados pelo bandido (...)” (português atualizado).
Frequentemente, Marcellino era comparado ao célebre bandido social Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que “aterrorizava” os sertões nordestinos. Tornou-se, também ele, um famigerado, realizador de inigualáveis “façanhas criminosas”, como se lê no Diário da Tarde, também de Ilhéus, na edição de 10 de junho de 1936. Na mesma matéria, Marcellino é referido como o “homem que se fez bugre”, construção discursiva que busca enquadrá-lo em um “estágio evolutivo” atrasado. “Bugre”, neste caso, figura como termo análogo a expressões como “índio selvagem” ou “gentio bravo”, frequentemente mencionadas em documentos do século XIX para designar a “praga” que infestava as matas do sul da Bahia: as “hordas indígenas” que, resistindo a ingressar no “grêmio da civilização”, impunham óbices ao “desenvolvimento” da região.
Nesse quadro, eram constantes os alarmes falsos alardeando a captura e a morte de Marcellino. Os boatos fervilhavam, alimentados pela pródiga cobertura jornalística, que, de tempos em tempos, anunciava eminentes “invasões” de Marcellino e seu “bando” à vila de Olivença. Em 16 de janeiro de 1936, o Diário da Tarde referiu-se a um desses boatos, endossando-o: “Circulou ontem na cidade, quando se realizava o pleito municipal, uma notícia alarmante. O caboclo Marcellino, o já bastante famoso ‘homem que se fez bugre’, aproveitando o fato de estar Olivença desguarnecida, com a vinda para o Pontal [de Ilhéus] de muitos cidadãos eleitores, ameaçava assaltar aquela localidade”.
O indígena era associado agora não apenas a Lampião, mas também ao líder comunista Luís Carlos Prestes, no contexto da repressão à “ameaça vermelha”. Em 1937, Marcellino e ao menos mais três indígenas, ao lado de alguns não-índios, foram indiciados como comunistas. Enviado ao Rio de Janeiro, foi condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional, mas libertado ainda no mesmo ano, por não ter culpa formalizada. Sabe-se que então retornou a Ilhéus e que uma autoridade policial local aconselhou-o a não permanecer na região, argumentando que sua vida corria perigo. É então que os arquivos silenciam sobre seu paradeiro.
Caboclos fantasiados de índios
Uma análise da cobertura midiática da disputa contemporânea em torno do território Tupinambá indica que a ampla maioria das peças jornalísticas alinha-se com a perspectiva de sujeitos e grupos contrários à demarcação, reverberando seus discursos. Nesse contexto, a produção jornalística vem sendo acionada inclusive por juízes, em suas decisões, para “comprovar” práticas delituosas atribuídas aos índios. Ao conceder liminar de interdito proibitório a um fazendeiro em face dos Tupinambá, em 2006, uma juíza federal em Ilhéus justificava que as “ameaças” de que eram acusados os indígenas constituíam “fato notório, conforme amplamente divulgado recentemente na imprensa escrita, falada e televisionada”.
Jornais como Agora e A Região, de Itabuna, trazem reportagens claramente editorializadas – não é difícil encontrar em seus textos afirmações preconceituosas em relação aos indígenas e se notam, também, procedimentos como a veiculação de informações não checadas. Em 27 de fevereiro de 2010, A Regiãofalava em “bandidos que se dizem índios” e “caboclos fantasiados de índios”. Já em 11 de março, quando o cacique Babau foi ilegalmente preso, o jornal comemorou: “Foi de alívio o clima no sul da Bahia, ao receber a notícia de que o suposto cacique Babau (...) foi preso (...). Ele estava sendo caçado desde agosto do ano passado”.
Emissoras de rádio têm sido ainda mais virulentas. Rivamar Mesquita, apresentador do programa Novo Amanhecer, da Rádio Jornal, de Itabuna, sugeriu a realização de emboscadas contra os índios, conforme se lê em documento da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Estado da Bahia datado de 2010. Notícias atacando os indígenas são constantemente veiculadas também pela rádio Sideral, de Buerarema – cujo diretor, Carlos Freitas, tomou posse em 19 de dezembro último como um dos diretores da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias. No site da emissora, notas aludem aos “supostos índios” e às “barbaridades” que teriam sido por eles cometidas.
No que diz respeito à imprensa de circulação nacional, duas reportagens tornaram-se notórias, pela profusão de erros factuais e afirmações preconceituosas: “O Lampião tupinambá”, publicada pela revistaÉpoca em 2009, e “A farra da antropologia oportunista”, publicada pela revista Veja em 2010. Na última, os índios da Serra do Padeiro são referidos como “neotupinambás” e como “os novos canibais”. Em 17 de julho de 2010, o ex-diretor de redação da Época, Paulo Moreira Leite, publicou no portal da revista na internet uma inventiva nota afirmando que estava em elaboração, pela Funai, um decreto anulando a demarcação da TI, após o órgão haver constatado “que os estudos antropológicos que identificam as terras como sendo dos tupinambás eram grosseiramente falsificados”. O texto dizia ainda que o cacique Babau estava prestes a perder “sua carteira de identidade indígena”. Como se sabe, nada disso ocorreu – e, se houvesse ocorrido, tratar-se-ia de violações grosseiras ao ordenamento jurídico brasileiro.
Demarcação traumática
Para indicar alguns mecanismos manipulatórios adotados pela imprensa, interessa analisar a produção de um jornal de circulação estadual, A Tarde, de Salvador, no qual o engajamento com os setores contrários à demarcação é menos caricato, mas, ainda assim, evidente. Os textos caracterizam os índios de maneira preconceituosa – por exemplo, ao falar em “mestiços que se intitulam índios tupinambás” (26 de março de 2010). Fazendo as vezes de juiz, apresentam os indígenas como culpados de crimes ainda não julgados. Também veiculam as versões de fontes envolvidas no conflito como se fossem os fatos.
Em um exemplo claro de seu engajamento na disputa, em 14 de junho de 2009, A Tarde publicou reportagem em destaque (texto de página inteira, em um domingo) sobre a demarcação da TI Kiriri, no nordeste da Bahia. Tratava-se de uma matéria “fria” – para usar o jargão jornalístico, sem “gancho” a lhe atribuir atualidade e justificar sua publicação –, que cumpria um papel claro: indicar o caso Kiriri como um exemplo a ser evitado no sul da Bahia. Intitulada “Demarcação traumática”, a matéria trazia os seguintes dizeres, em destaque: “Caso de Banzaê expõe os riscos que rondam os municípios de Ilhéus, Buerarema e Una, no sul”.
“Ataque de índios deixa 4 feridos e 3 desaparecidos”, lê-se em manchete de A Tarde de 26 de fevereiro de 2010, em referência ao conflito ocorrido na fazenda Serra das Palmeiras nos dias 23 e 24 do mesmo mês, quando agentes da Polícia Federal e fazendeiros tentaram retirar à força os indígenas que estavam na área, que fora por eles retomada no dia 19. Como se vê, em lugar de atribuir as informações a fontes, o jornal afirma categoricamente. Já no corpo do texto, descobrimos que a informação baseia-se em relato de testemunha não identificada, que fala ainda em dois mortos. Apenas no último parágrafo o leitor é informado, a partir de declaração do delegado da Polícia Civil de Buerarema, sobre o fato de não terem sido registradas na polícia denúncias de morte ou desaparecimento. Além disso, a expressão “ataque de índios” é eficaz quando se trata de evocar construções históricas em torno da índole “selvagem” que, segundo certo pensamento, seria inerente aos indígenas.
Em reportagem de 27 de fevereiro, o jornal recua – mas não retifica o que escrevera na véspera – e fala em “pelo menos um desaparecido”. O “terror” vivido na mão dos índios ganha em densidade dramática: “Foi um massacre, uma carnificina. Fomos cercados pelos índios sem chance de defesa, estávamos despreparados. Nunca vi nada igual”, diz “um dos baleados”, que, conforme apurou o jornal junto a sua esposa, “teria sido atingido pelos disparos quando tentava dizer aos índios que se rendia” e sobreviveu “por milagre”. Ainda segundo a mulher, “mesmo à noite, o céu ficou claro com tantos tiros”. E o pior ainda estaria por vir, já que, segundo a reportagem, os índios ameaçavam “invadir” o centro de Buerarema – “ainda hoje”. Impossível não ouvir ecos, nesse episódio, do “medo” que tomou conta de Olivença em janeiro de 1936, quando correu o boato de que Marcellino “invadiria” a vila para expulsar os não-índios. Nos dois casos, os boatos foram suficientes para mobilizar as forças policiais.
Ao assumir como verdadeiras as declarações concedidas por fontes envolvidas no conflito, o jornal exime-se de apurar, a ponto de veicular informações jurídicas equivocadas, que poderiam ser facilmente verificadas. Em reportagem de 2 de março de 2010, noticiando a permanência dos índios na Serra das Palmeiras, A Tarde conversa com um fazendeiro e informa que o fazendeiro “mostrou o interdito proibitório, documento que proíbe a demarcação da terra”. Como se sabe, “proibir demarcações” não está no escopo deste instrumento jurídico, já que o Estatuto do Índio (Lei nº6.001/73) veda a utilização de interditos possessórios contra a demarcação de Terras Indígenas.
Oferecendo uma cobertura parcializada e discriminatória, os veículos de comunicação hegemônicos vêm contribuindo para a cristalização dos estereótipos sobre os povos indígenas no senso comum. Como se viu, têm se esforçado para definir a disputa fundiária em favor dos setores contrários à demarcação da TI Tupinambá de Olivença, perpetuando, assim, as violações historicamente cometidas contra o povo Tupinambá.

STÉDILE EM SALVADOR.

 PLEBISCITO POPULAR

   Os soteropolitanos receberão uma visita ilustre neste sábado. João Pedro Stédile, líder nacional do MST estará no município para divulgar o Plebiscito Popular por uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político. É a oportunidade dos movimentos dos excluídos se reunirem e trocarem ideias, formatar as lutas e organizar as reivindicações e maneiras de apresentar ao poder público e à sociedade nossas bandeiras e nossas necessidades.
   Lugar de lutador é no centro de cultura da câmara, todos e todas lá!

TANTA CASA SEM GENTE, TANTA GENTE SEM CASA...

Casarões do Centro Histórico são pichados em ato de protesto contra abandono


Casarões do Centro Histórico são pichados em ato de protesto contra abandono

   Em um ato de protesto, moradores do Centro Histórico de Salvador picharam as fachadas de cerca de 30 casas desabitadas entre o Santo Antônio Além do Carmo e o Pelourinho na madrugada deste sábado (22). Com a frase “Aqui podia morar gente”, as pichações fazem referência ao estado de abandono dos imóveis da região. Um grupo de cerca de dez moradores assumiu a autoria do protesto, dentre eles o produtor cultural Dimitri Ganzelevitch e o cineasta Cláudio Marques, diretor do Espaço Itaú Glauber Rocha. O grupo chegou a ser abordado por uma viatura policial, mas não foi impedido de prosseguir com as pichações nas fachadas pintadas recentemente  pelo governo do estado. Além de sugerir o resgate do perfil residencial da área, o protesto visou chamar atenção para a especulação imobiliária. A crítica se estende tanto aos imóveis restaurados que continuam desocupados quanto às 25 casas compradas pela herdeira do Shopping Iguatemi, Luciana Rique, há quase quatro anos, sob o anúncio de que seria construído um espaço comercial a céu aberto. Cerca de 1,5 mil casas da região estão vazias, segundo levantamento do Escritório de Referência do Centro Antigo.

segunda-feira, 24 de março de 2014

MARCHA DOS POVOS DA CABRUCA E DA MATA ATLÂNTICA

     
            Entre os dias 14 e 16 de março foi realizado a Marcha dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica na região da Serra do Padeiro no sul da Bahia. Movimento que tinha como objetivo maior uma reivindicação pela demarcação de terras indígenas das tribos Tupinambás. 







           O evento contou com uma marcha que saiu de São José da Vitória e seguiu até a aldeia indígena e chegando no local todos foram muito bem recepcionados. Com a chegada dos participantes da marcha a aldeia se coloriu com diversos cartazes, faixas e pessoas das mais diversas tribos. A presença de integrantes de diversas Entidades da América do Sul e Europa, além de trabalhadores do campo (MLT, MST, FLT, CETA, MPA) e quilombolas mostrou que a questão indígena não é um problema dos índios, mas de todo o povo brasileiro.



           Após serem instalados na aldeia, os participantes tiveram uma palestra rica em conhecimento com o Cacique Babau. Assim um dos líderes Tupinambás explanou sobre a história e a luta do povo Tupinambá da Serra do Padeiro. De forma confiante e determinada afirmou: “temos que revolucionar o nosso querer e conquistar autonomia”, para isso ele destacou três pontos fundamentais: unidade de luta, o foco na conquista da terra e o fortalecimento da espiritualidade ancestral.  E foi assim que o Cacique e outros líderes Tupinambás e Pataxó presentes deram sentido e poder ao ritual da noite.





           No segundo dia, ocorreram mais palestras com o Cacique Babau além da realização de trabalhos do campo como a farinhada, o plantio do milho, cacau e a compostagem. Após os trabalhos de campo, uma análise de conjuntura foi feita para se estruturar uma agenda positiva de lutas da solidariedade dos povos. Em seguida, uma confraternização em torno da fogueira com toré e capoeira concluíram mais um importante dia da programação.

          No último dia várias atividades ocorreram simultaneamente, a farinhada, plantio de milho, banho de rio e ritual de plantio do baobá. Fechando essa tão especial agenda foram realizadas as últimas conversas entre as lideranças que permitiram reforçar um movimento de unificação de agendas e apoio numa resistência rebelde para REEXISTIR DIGNIDADE DOS POVOS!!

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sexta-feira, 21 de março de 2014

ESPAÇO DE MATRIZ AFRICANA

Edital para espaços de Matriz Africana é lançado nesta sexta (21)



   Nesta sexta-feira (21/03), acontece o lançamento do Edital de Apoio a Empreendimentos Econômicos Solidários e Redes de Economia Solidária no âmbito dos Espaços Socioculturais de Matriz Africana. Subsidiado pela Secretaria Estadual do Trabalho (Setre), através da Superintendência de Economia Solidária (Sesol) e da Comissão de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, o lançamento será às 15h, no anfiteatro da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus, em Salvador.



   Lançado no Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, o edital busca incentivar o empreendedorismo negro no Estado com investimentos da ordem de R$ 5 milhões. A iniciativa recebeu sugestões dos mais diversos segmentos, pois ao longo de 2013, a Setre promoveu audiências públicas para escutar as demandas e reivindicações dos segmentos organizados – blocos afro, baianas de acarajé, terreiros e grupos de expressão cultural/musical.

   A decisão de lançar a Chamada Pública foi tomada após ser identificado o imenso potencial produtivo existente nos espaços de cultos de religiões de matriz africana, onde homens e mulheres, livremente associados, produzem uma gama de artefatos ligados ao culto. Esses núcleos produtivos revelam uma força pulsante da economia solidária, até então invisível nos espaços urbanos. 

   O evento contará com a presença do secretário estadual do Trabalho, Nilton Vasconcelos, da chefa de Gabinete da Setre, Olívia Santana, do secretário extraordinário para Assuntos Estratégicos da Bahia e presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia, Edvaldo Brito, da professora Makota Valdina, e do presidente da Fundação Palmares, Hilton Cobra, além de lideranças religiosas, diretores de blocos afro e entidades ligadas ao movimento negro.

Documentário

Às 19h, na Sociedade Protetora dos Desvalidos, no Pelourinho, haverá uma apresentação do documentário “A Cor do Trabalho”, mais uma iniciativa da Setre para valorização do empreendedor negro. Fruto de uma parceria entre a secretaria e o cineasta Antonio Olavo, a ação é relevante por se tratar do primeiro registro cinematográfico a dar visibilidade à história do trabalho negro coletivo no Brasil.

CONSELHO LGBT.

Conselho da População LGBT inicia as atividades em maio.




   O Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), criado em fevereiro para formular e propor diretrizes e políticas voltadas ao combate à discriminação e à defesa dos diretos do segmento, vai iniciar as atividades em maio. A escolha do mês se deu porque em maio é celebrado o Dia Mundial Contra a Homofobia.


   Na última quarta-feira (19/3), dirigentes da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), que abrigará o conselho, se reuniu com representantes do movimento LGBT do estado. Na pauta, estava a composição do Conselho e do colegiado eleitoral.

   Estiveram presentes o titular da SJCDH, Ailton Ferreira, os coordenadores da secretaria Paulette Furacão (Núcleo LGBT) e Adriano Figueiredo (Política de Direitos Humanos), e representantes do Fórum LGBT Baiano, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), do Movimento de Lésbicas Bissexuais da Bahia e da Associação Beco das Cores.

   Criado através da Lei nº 12.94, o Conselho LGBT terá 30 participantes - sendo 15 representantes do poder público e os outros 15 oriundos da sociedade civil. Entre os integrantes do poder público, estarão representantes das secretarias estaduais, Ministério Público Estadual (MP-BA) e Defensoria Pública do Estado (DPE).

A pretensão da secretaria é incluir, além das entidades de defesa dos direitos da população LGBT da capital, também as que atuam no interior do estado, segundo nota enviada pelo órgão.

COTAS PARA O SERVIÇO PÚBLICO.

Decreto que reserva cota de 30% para negros em cargos da prefeitura de Salvador será assinado nesta sexta



   O decreto que cria a cota de 30% para afrodescendentes em concursos públicos e cargos comissionados da administração de Salvador será ratificado pelo prefeito ACM Neto nesta sexta-feira (21). A assinatura será feita em solenidade no Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador, na Praça Thomé de Souza e integrará a comemoração ao Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, que marca o Massacre de Sharpeville, ocorrido em 21 de março de 1960 na África do Sul. Durante a cerimônia, também será promovido oficialmente o reconhecimento jurídico-administrativo e social dos templos dos povos de terreiros e religiões de matriz africana e correlatas.

RISCO AMBIENTAL, PIRATARIA, FALTA DE CONSCIÊNCIA.

Extração ilegal devasta dunas em Jauá


Uma área de dunas no bairro Bela Vista de Jauá, em Camaçari (Grande Salvador) está sendo devastada pela extração ilegal de areia. 
Diariamente, várias caçambas são abastecidas com o mineral, que é carregado, com a utilização de pás, por trabalhadores informais.
O movimento dos veículos é intenso e ocorre a qualquer hora do dia, inclusive à noite. Na sexta-feira, 7, por volta das 16h, uma equipe do jornal A TARDE flagrou duas caçambas sendo abastecidas.
Os moradores ficam incomodados com a degradação do meio ambiente, entretanto alguns têm medo de comentar o assunto.
"É melhor não mexer com isso. Essa extração é realizada por uma máfia. Os responsáveis têm olheiros pela região", disse uma pessoa, sem querer se identificar.
Outro morador contou ter denunciado a  atividade, por e-mail, ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), mas não obteve retorno.
"A paisagem é linda e o  é habitat de algumas espécies. É uma pena que esteja sendo destruída, sem a menor  fiscalização", lamentou. Segundo ele, crianças da localidade são pagas para abastecer as caçambas.
Ainda de acordo com a população, parte da areia é levada para outros municípios e o restante é comercializado em Jauá e Abrantes.
"A caçamba custa R$ 250", disse um comerciante, que afirmou  ter usado a  areia ilegal para construir uma casa de veraneio. De acordo com ele, a atividade  ocorre há, pelo menos, seis anos.
Na entrada de Jauá, uma placa afixada em frente a uma residência  anuncia a venda. "Temos areia fina e grossa", diz o informativo.
Segundo Luiz Edmundo de Campos, diretor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), a extração em região de dunas é ilegal.
O mineral, inclusive, não deve ser usado em construções por causa da salinização. "As paredes construídas com areia de dunas próximas à praia ficam sempre úmidas. Isso acontece porque o sal, presente no mineral, retém a umidade", explica.
O Inema não se pronunciou sobre o caso até o fechamento da edição. Já a Prefeitura de Camaçari disse, por meio de assessoria de comunicação, que já comunicou a atividade à Polícia Federal, que, por sua vez, já prendeu vários motoristas e autuou algumas empresas.
A prefeitura alegou que, com o tempo, os grupos voltam a atuar na região.
Para a gestão do município, é necessário que seja implantado um plano constante de proteção ambiental para fiscalizar a região e coibir a ação clandestina.
Ainda conforme  a assessoria, a prefeitura tem feito  ações educativas, instalando placas que informam sobre a proibição da extração. E o Inema, inclusive, já estaria ciente da atividade ilegal.
Área de proteção
A resolução 2.974/2002 do Conselho Estadual de Meio Ambiente classifica as dunas situadas na zona costeira do município de Camaçari como Zona de Vida Silvestre, e inclui o espaço na Área de Proteção Ambiental Joanes-Ipitanga.
Pelo documento, não são permitidas novas ocupações do solo. E é proibido o tráfego de veículos  fora dos acessos viários locais.
Para a extração da areia, os responsáveis construíram uma passagem rudimentar de barro até o areal.
A região que dá acesso à passagem é conhecida como desvio d o pedágio da BA-099. O lugar  deserto facilita a atividade ilícita.
Conforme o estabelecido no documento, a área devastada deveria ser  destinada a visitações para fins educativos, ambientais, turísticos, ecológicos e relacionados a pesquisas.
DO PORTAL A TARDE ON LINE

III FÓRUM DO PENSAMENTO CRÍTICO



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Apresentação


O ano de 2014 será emblemático para uma reflexão sobre autoritarismo e democracia no Brasil e na Bahia. Em 2014, os 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964 devem servir como memória viva para que ditaduras e autoritarismos não sejam mais possíveis no presente e no futuro da sociedade, em especial da brasileira e baiana. Em 2014, os 30 anos da campanha das Diretas Já devem ser comemorados como momento catalisador e exemplar de luta pela democracia no país e no estado e como inspiração para novas lutas democráticas imprescindíveis na atualidade.
A ditadura civil-militar marca profundamente a história e mesmo o presente da sociedade brasileira e baiana. Ela interditou a realização das “reformas de base” (urbana, agrária, universitária etc.) e bloqueou naqueles anos a possibilidade da construção no Brasil e na Bahia de uma sociedade mais justa, democrática e livre, que incorporasse toda população em sua dinâmica societária. Em lugar disto, ela impôs uma “modernização conservadora” com um modelo de desenvolvimento altamente concentrador, desigual e excludente, alicerçado no arrocho salarial; na restrição às liberdades; no apoio e controle rigoroso da mídia; na censura às opiniões diferentes e às manifestações culturais divergentes; na perseguição, repressão, tortura e assassinato de todos aqueles que fossem considerados adversários da ditadura. Ela marcou profundamente o passado, ainda marca o presente e talvez o futuro da sociedade brasileira e baiana.
A campanha das Diretas Já pode ser considerada como momento emblemático da luta pela democracia no Brasil e na Bahia. Ela de algum modo sintetiza as muitas e variadas modalidades de luta que foram empreendidas contra a ditadura civil-militar. Ela possibilita a transição do autoritarismo para a democracia, com suas virtudes e limitações. O movimento das Diretas Já, ainda que derrotado em 1984 no seu intento maior de eleição direta do presidente do Brasil, expressara o desejo da sociedade brasileira e baiana de construção da democracia e de derrubar a ditadura.
O processo de construção da democracia no Brasil e na Bahia tem se mostrado bastante complexo. O modo específico da transição do autoritarismo para a democracia no Brasil e na Bahia, uma transição pelo alto no dizer de alguns autores, impacta profundamente no processo de construção da democracia. Ele articula de modo desigual e combinado: avanços e retrocessos, mudanças e persistências, possibilidades e limitações, aliados e adversários. Por conseguinte, ele permite modalidades bem distintas de pensar e de realizar a democracia.
Os movimentos acontecidos em junho de 2013, com todas as suas ambiguidades, contradições e tentativas de manipulação, expressam a tensão entre alternativas possíveis de democracia: algumas meramente formais outras substantivas; algumas somente representativas outras incorporando com novos formatos de participação. Os movimentos atualizam e colocam em cena a discussão sobre o presente e o futuro da democracia. As ruas trazem para o cenário púbico e recolocam em disputa estas distintas e muitas vezes antagônicas concepções de democracia.
O III Fórum do Pensamento Crítico pretende se debruçar – criticamente, por óbvio – sobre o tema autoritarismo e democracia, como campo de força e de disputa, que reúne memória e contemporaneidade, que olha o passado para pensar e atuar no presente e para imaginar futuros possíveis. O Fórum busca reavivar nossa memória dos autoritarismos, que marcam drasticamente a história do Brasil e da Bahia e muitas vezes ainda persistem de modo expresso ou camuflado, e relembrar a todo instante o vital compromisso de enfrentar e superar todos eles. Ele busca, em sintonia fina de memória e atualidade, colocar na cena e no debate público temas essenciais para a superação de todas as modalidades de autoritarismos e para o aprofundamento da democracia na contemporaneidade. O III Fórum do Pensamento Crítico entende a democracia como um processo vivo, sempre em atualização e atento aos perigos do autoritarismo.

quinta-feira, 20 de março de 2014

UNIÃO FEMININA, NO CAMPO E NA CIDADE.

Mulheres camponesas debatem autonomia no 12º Acampamento na BA.


Fotos: Klívia Gadêlha

Sob o compasso da mística e da força do campo e das florestas, cerca de 500 mulheres deram início ao 12º Acampamento das Mulheres Trabalhadoras Rurais da Bahia, no Parque de Exposição em Salvador, nesta segunda-feira (17).

Organizadas no MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA) e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD), o encontro visa debater as pautas e os desafios das trabalhadoras rurais.

Na mesa de saudação, composta por representantes dos movimentos sociais de luta pela terra - além da presença da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), da Marcha Mundial das Mulheres, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Oposição Operária -, as mulheres colocaram as expectativas em relação ao encontro, ressaltando a luta e as conquistas fruto da auto-organização.

Debates
Elisabeth Rocha, do MST, e Saiane Moreira, do MPA, iniciaram os debates trazendo os avanços e desafios em torno da luta das mulheres. 

As militantes fizeram uma análise sobre a vida das mulheres camponesas nos últimos anos, ressaltando os desafios do enfrentamento ao agronegócio. 

Nessa perspectiva, refletiram sobre os impactos do modelo destrutivo do agronegócio, como a monocultura em grandes extensões de terra, uso de agrotóxico, controle e transgenia das sementes.

A violência direta do agronegócio sobre a mulher também foi ressaltada, ao identificarem que esse modelo estimula a divisão sexual do trabalho, a precariedade, o envenenamento do próprio corpo, assim como da terra e das águas.

Segundo elas, estes aspectos atingem diretamente as mulheres, já que são 70% da população pobre em todo mundo.

Na Bahia existem aproximadamente 4 milhões de pessoas vivendo no campo e nas florestas, sendo o estado brasileiro com o maior número de camponesas e camponeses. 

Leia mais:Escola itinerante do MST faz contraponto à escola capitalista, diz Isabela Camini Anvisa libera 19 agrotóxicos e Brasil passa a consumir 1 milhão de toneladas 
As militantes reafirmaram o protagonismo das mulheres na agricultura e também na luta pelo direito de viver e se desenvolver no campo, com qualidade e soberania.

Patriarcado

No período da tarde, o tema da mesa foi “Autonomia das mulheres: avanços e desafios” e contou com a colaboração de Edileusa Silva do IRPA e Nólia, militante do CETA. 

Neste espaço as companheiras discutiram sobre o patriarcado e o machismo como sistemas de dominação e exploração do corpo, do trabalho e vida das mulheres, aspectos fundamentais para a manutenção do capitalismo. 

Edileusa destacou a importância da construção do feminismo socialista como algo fundamental para transformações radicais da sociedade. 

Já Nólia ressaltou a importância das políticas públicas voltadas à melhoria de vida dos camponesas e camponeses, assim como as políticas específicas às mulheres, sem deixar de identificar seus limites. 

A temática em torno da violência contra as mulheres também fez parte das discussões ao longo do dia. Sobre este tema, foram destacados três vias de violência por parte dos maridos: física, psicológica e moral.

Nesse sentido, foi dado como desafio encarar a violência machista como um problema político a ser enfrentado dentro dos núcleos familiares do meio rural.

A metodologia da atividade permitiu que todas as participantes pudessem discutir em pequenos grupos sobre as questões expostas. Com isso, a plenária foi finalizada com sínteses trazidas pelas próprias camponesas. 

Para elas, os debates reafirmaram o mês de março como um momento para intensificar a luta e o enfrentamento ao capital, ao agronegócio, ao machismo e todas as formas de opressão contra as mulheres da classe camponesa e trabalhadora.