terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Lula participa de manifesto em defesa da Petrobras

Ato conta com a presença de diversas autoridades, de artistas e de representantes de movimentos sociais. A manifestação denuncia uma “campanha visando a desmoralização da Petrobras” e exige ações de defesa do governo diante de “ataques” sofridos pela empresa.

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou participação no manifesto em defesa da Petrobras, realizado nesta terça-feira (24). Organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o ato acontece a partir das 18h, na sede da Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio de Janeiro.

Com a presença de diversas autoridades, de artistas e de representantes de movimentos sociais, a manifestação denuncia uma “campanha visando a desmoralização da Petrobras” e exige ações de defesa do governo diante de “ataques” sofridos pela empresa. Registrado em carta online (http://www.fup.org.br/2012/assinatura-de-manifesto), o ato lembra que a Petrobras tem sido atacada e prejudicada diariamente por notícias dos mais diversos veículos de comunicação.

De acordo com o documento, os que dirigem esses ataques, por meio de notícias e ações políticas, são os mesmos que se opuseram à criação da Petrobras na década de 50, “que tentaram privatizá-la e enfraquece-la na década de 90 e se opuseram ferozmente a nova legislação do pré sal brasileiro”.

Abrir o mercado brasileiro para empresas fornecedoras internacionais que querem privatizar a Petrobras seria o objetivo dos ataques. Assim, o manifesto pretende mostrar que “cabe ao governo rechaçar com firmeza as investidas políticas e midiáticas desses setores, para preservar uma empresa e um setor que tanto contribuíram para a atração de investimentos e a geração de empregos nos últimos anos”.

O documento também denuncia que “essa campanha contra a Petrobras já prejudicou a empresa e o setor em escala muito superior à dos desvios investigados”, inclusive sobre os reflexos diretos sofridos no setor de Óleo e Gás no Brasil.

 

 

 

O crime de femicídio no código penal brasileiro

Essa matéria foi publicada na Edição 476 do Jornal Inverta, em 12/02/2015 
 
Foi aprovada no dia 17 de dezembro de 2014, pelo Senado, a inclusão do crime de femicídio no código penal. O que representa um grande avanço para a luta feminista. O femicídio é um crime de assassinato cometido contra mulheres, pelo simples fato de serem mulheres. Este crime é geralmente praticado por seus parceiros ou ex-parceiros. E seguem de abusos no domicílio, ameaças, violência sexual, ou situações em que as mulheres se encontram vulneráveis.

No mundo, aproximadamente 40% dos homicídios de mulheres são praticados por seus parceiros íntimos. E em relação aos homens, essa proporção é de 6% entre os assassinados.Então, é essa a importância do femicídio ser considerado crime. Porque milhares de mulheres continuam morrendo apenas por serem mulheres.

E em um país com a cultura machista como o Brasil, em que os homens  violentam as mulheres por acharem que elas merecem ser violentadas, resultando na sétima posição em um ranking de 84 nações com maior índice de homicídios femininos, é mais do que necessária uma lei que proteja as mulheres.
Para que junto com a Lei Maria da Penha, consigamos desconstruir essa cultura desumana, que trata nossos corpos como objetos a todo instante. Essa cultura que mata, que naturaliza a violência e que é dita como certa.

Olívia Santana comenta polêmica prisão após beijo forçado: 'subjugar a mulher é inaceitável'

Olívia Santana comenta polêmica prisão após beijo forçado: 'subjugar a mulher é inaceitável'
Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) do governo Rui Costa, Olívia Santana (PC do B) esteve presente na abertura do Carnaval nesta quinta-feira (13), no Campo Grande. Questionada pelo Bahia Notícias, Olivia comentou sobre o caso de um homem que foi condenado a sete anos de prisão por ter beijado uma foliã à força no carnaval de Salvador. Para a secretária, o caso acabou conscientizando o que o ‘beijo forçado’ também é um crime "Eu acho que o aconteceu nesse caso deu uma sacudida pela polêmica que instaurou. Ninguém nunca tinha visto alguém ser condenado por isso. Mas ele foi enquadrado no artigo 213, que diz que qualquer conjunção carnal forçada está sujeita a este tipo de pena. Independente se a pena foi desproporcional ou não, está posta uma violação à lei que teve imediata punição. As mulheres precisam ir às ruas conscientes do seu direito. Sabemos que o homem que faz isso não representa a totalidade dos homens, que muitos ficam indignados com isso. Podem ir namorar, mas precisam saber os limites. Quando se quebra o limite, se instaura a barbárie". Olivia também falou sobre a campanha da que a SPM lançou chamada "vá na moral ou vai se dar mal", que conta com depoimentos de diversos artistas e celebridades. "É uma campanha educativa e informativa contra a violência contra a mulher. Não se pode pegar uma mulher para beijar a força. Não é uma campanha moralista, mas sim de afirmação do direito da mulher. O homem não pode usar a força física para isso, subjugar a mulher é inaceitável. Por isso estamos com essa campanha de esclarecimento, estimulando a denúncia pelo número 180. Convidamos muitos artistas, porque acho que o artista tem uma função social, para além apenas da diversão".


Levante Popular da Juventude e as novas formas de vivenciar a política

A vitalidade dos movimentos sociais e, sobretudo, as novas formas de se pensar e viver política são temas de extrema importância a todos os que pensam e debatem o Brasil. É neste sentido que fazemos questão, aqui no blog, de destacar a vigorosa e importante lição que o Levante Popular da Juventude, em tão pouco tempo de existência, vem trazendo ao país.

Em 2012, ano de seu primeiro acampamento nacional, o movimento reuniu 1.500 jovens procurando pensar em uma identidade própria. Ano passado, o número dobrou. Mais de 3 mil jovens, de todos os cantos do país, deram um show de organização coletiva durante o segundo acampamento do movimento, em Cotia, no interior de São Paulo.

As bandeiras do Levante podem ser conhecidas em seu blog. Os leitores deste blog já as conhecem e sabem que o movimento se faz presente em lutas que vão desde as manifestações contra a Lei de Anistia recíproca – que deixa impune ex-torturadores e criminosos da ditadura -, a bandeiras mais do que fundamentais da luta contra o racismo, o machismo e a homofobia.

Movimento quer o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais

Além da defesa de uma reforma política a partir de uma Constituinte exclusiva. “A forma de fazer política hoje só interessa aos ricos, pois estes se mantém no poder através da lógica de financiamento privado, entre outras. Mudar radicalmente o sistema político é tarefa da classe estudantil. E a mudança na política não virá desse Congresso conservador, mas tão somente do próprio povo. Por isso, precisamos realizar uma Assembleia Constituinte Exclusiva e Soberana, para garantir a representação popular e construir um sistema político que resolva nossos problemas”, afirma o Movimento Levante Popular da Juventude.

Recentemente, o Levante denunciou o que está por trás da campanha contra a Petrobras, destacando que ao associar a estatal brasileira a um punhado de corruptos, o objetivo é privatizá-la. “Querem o petróleo para encher ainda mais seus bolsos, acabando com a única possibilidade do uso soberano de nossa riqueza para ampliar direitos sociais”.  O Levante também está, neste momento, na luta em prol da Educação e contra o pacotaço de ajuste orçamentário do governo Beto Richa no Paraná.

Essas são algumas lutas que citamos aqui, convidando a todos para assistirem ao documentário que eles divulgaram, durante o II Acampamento Nacional em Cotia (SP). Nestas imagens vocês poderão saber quem são estes jovens que se auto-definem como a “juventude do projeto popular” e que – felizmente! – o Movimento “não baixa a cabeça para as injustiças e desigualdades”.

Stédile: “estamos aprendendo com essa juventude a fazer política”

O vídeo traz depoimentos dos militantes, suas bandeiras e sonhos. Também mostra a vitalidade, o resgate da cultura (música, teatro etc), o debate das ideias políticas, a seriedade e, ao mesmo tempo, a alegria própria da prática da luta coletiva por um país melhor. Como destaca um dos líderes do MST, João Paulo Stédile, que aparece no documentário, “o que estamos aprendendo com a juventude é debater política” e “fazer política pela arte, pela simbologia, pela cultura. É isso que vai enraizar o conhecimento”.

O vídeo traz, também, um convite: em seu blog (confiram aqui), o Levante lançou a coluna “Papo da Semana” que traz um texto de análise de conjuntura comentando o que está acontecendo nacional e internacionalmente. “Análise de conjuntura pé no chão e fresquinha, feita pelo Levante a partir das nossas próprias vivências, anseios e necessidades”, afirma a chamada no blog deles. Não percam e cliquem aqui para assistir ao vídeo.

Por Blog do Zé Dirceu

OS ÍNDIOS PATAXÓS BARRA VERMELHA

Originários do Norte ao Sul da Bahia os índios Pataxós eram livres, distribuído em várias aldeias por diversos municípios (Prado, Itamaraju, Santa CruzCabrália e Porto Seguro), não estabeleciam limites territoriais fixos, vivam exclusivamente da pesca, da caça e de frutas da floresta. A caça e pescaria eram realizadas com suas próprias armas e armadilhas, não passavam fome nem sede. Não tinham conhecimento das armas dos brancos. Hoje habitam terras delimitadas e necessitam estudar para defender seus direitos.

É possível considerar que a luta pelos estabelecimentos das terras Pataxó sempre foi uma questão urgente para esta população desde o período colonial. Lutam para se firmar em um lugar e preservar história, cultura e língua, costumes e tradições que foram se perdendo desde que os pataxós foram juntados a tribos Maxacalis e Botocurus em uma aldeia de onde não podiam sair
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O contato com os não indígenas colocou o povo diante de diferentes formas de ocupar o espaço e trazendo com isso novos desafios para eles.

Para os povos indígenas as terras são de uso comunitário e familiar, não são propriedade de ninguém. Os indígenas Pataxós vivenciam uma solidariedade mecânica. “A única divisão que geralmente existe – além da presença de indivíduos destacados, como o chefe ou o curandeiro – é a divisão sexual de tarefas entre homens e mulheres. As pessoas estão juntas porque fazem juntas as mesmas coisas.” (RODRIGUES, Alberto Tosi, A Sociologia Da Educação, 2007, p.24)

Assim como a perda de seus territórios, durante a colonização os indígenas quase perderam toda sua cultura, foram proibidos a falar sua língua primitiva, de fazer seus rituais religiosos e até mesmo de falar quem eram.

Greve de caminhoneiros também pode parar BA

Os protestos dos caminhoneiros contra os elevados preços dos pedágios nas estradas do país e o aumento do óleo diesel já alcança sete estados. Nesta segunda-feira, o movimento chegou à Bahia.

Motoristas da região Oeste do estado organizaram uma paralisação a partir das 8h, em três pontos estratégicos perto do município Luís Eduardo Magalhães: na altura do Complexo Bahia Farm Show, km 535 da BR-020; na mesma rodovia, no Posto 020; e na BR-242, próximo à Bunge Brasil, no km 01.

“Vamos aderir com certeza. Já tivemos duas reuniões, uma anteontem (sábado) e uma quinta-feira. Vai ser uma greve praticamente nacional, mas localizada. Amanhã (terça-feira) vamos estar nos pontos estratégicos e orientar os caminhoneiros em relação a carro pequeno, ônibus. Apesar de eles também deveriam participar, porque esse movimento é para todo mundo”, disse Benedito Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Cargas e Passageiros de Barreiras (Sintracarpas).

Entre as reivindicações dos caminhoneiros, que iniciaram os bloqueios por Jataí (Goiás) e em Dourados (Mato Grosso do Sul), estão a redução do valor dos combustíveis, que representa 60% do valor do frete; e do preço dos pedágios. Além disso, querem a aprovação da Lei dos Caminhoneiros, que estabelece rotina de 8 horas diárias de trabalho.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Arquivos da Pastoral da Terra estão disponíveis na Internet





A Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), colocou na Internet para consulta pública todo o seu acervo digitalizado sobre os conflitos no campo do País.

O acervo, que é gerenciado pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da Secretaria Nacional da CPT, está disponível agora no Google Drive, um dos aplicativos do portal de buscas Google.

Os conflitos fundiários, motivados pelo histórico desequilíbrio na distribuição de terras no Brasil, vem sendo registrado e arquivado pela Pastoral desde sua criação, em 1975.

O projeto dividiu as milhares de pastas sobre o tema em três itens, chamados "subfundos". O primeiro "Conflitos no Campo" é formado por mais  de 310.000 páginas de documentos digitalizados, referentes a mais de 25.000 conflitos registrados no banco de dados da CPT.

Bahia
O Subfundo Temático, possui mais de 110.000 páginas de documentos digitalizados, com textos "elaborados pela própria CPT, bem como por seus assessores, profissionais da academia e outros atores sociais, que contribuem à compreensão da complexidade do campo brasileiro".

O terceiro, o Subfundo Institucional contém mais de 5.000 documentos produzidos pelas instâncias nacionais da CPT. Esses três itens se subdividem em vários outros, o que facilita a pesquisa. É possível, por exemplo, realizar estudos por tema, estados e outros.

A pasta sobre a Bahia contém 251 itens sobre os mais diversos ângulos da luta pela terra. Está registrado lá os primórdios do conflito envolvendo índios e fazendeiros no sul da Bahia.

Uma matéria do jornal O Estado de São Paulo, de 1979,  informa que "vários latifundiários da região há anos vem tentando se apossar das terras dos índios Tupiniquins que se aproxima de 50 mil hectares".  A "tática" dos latifundiários para esse processo seria promover o extermínio dos índios fomentando vícios, subornando os nativos ou simplesmente mandando matar "os mais revoltados".

Está registrada também o drama dos moradores de cidades que foram desalojados de suas casas devido às barragens, como a de Itaparica, construídas ao longo do Rio São Francisco.

Há também casos típicos como a luta de agricultores de Canavieiras que atuavam na extração de piaçava. Cansados com a exploração do seu trabalho por fazendeiros, resolverem em 1977 ocupar terras na região para iniciar sua própria produção.

UDR e MST
É possível consultar documentos e recortes de jornal sobre a criação em 1985 da União Democrática Ruralista (UDR) e seu antípoda, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).

A Comissão Pastoral da Terra esclarece que "para acessar todos os documentos do acervo, realizar downloads, utilizar o campo de pesquisa do Google Drive e todos os recursos do mesmo é necessário que o usuário possua uma conta Google (Ex.: Gmail)".

Assembleia instala Comissão da Verdade da Democracia

A primeira reunião marcou o encontro da Comissão e dos movimentos sociais

Homenagem às vítimas do Estado brasileiro em maio de 2006 durante reunião  - Foto: Reprodução/Facebook/Comissão da Verdade da Democracia "Mães de Maio"


A Comissão da Verdade dos Crimes da Democracia “Mães de Maio” foi instalada na sexta-feira (20), na Assembleia Legislativa de São Paulo.

O objetivo da comissão é somar forças na luta de diversas organizações de familiares de vítimas da violência policial, que não medem esforços para ter sua dignidade restituída e para buscar um país mais justo. Só em maio de 2006, ao menos 500 pessoas foram mortas pelo aparato repressor do Estado, sobretudo na Grande São Paulo e na Baixada Santista
Criada pelo deputado Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, durante o evento estiveram presentes movimentos sociais, militantes políticos e organizações, que discutiram a agenda de audiências públicas, abertas aos movimentos.
Além disso, a comissão também conta com consultores da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
A comissão recebeu o nome de “Mães de Maio” em homenagem ao movimento de mesmo nome, criado por mães de mortos durante a onda de violência no Estado de São Paulo em maio de 2006 e em outros períodos democráticos também.

Crimes policiais pós-ditadura serão investigados por comissão em São Paulo

Iniciativa de movimentos sociais, Comissão da Verdade da Democracia será lançada na sexta-feira 20 e terá como principal objetivo a investigação dos crimes de maio de 2006

 

Mães de Maio 

O relatório final da Comissão da Verdade lançou luz sobre os crimes cometidos pela ditadura sem poder, no entanto, punir os agentes públicos, atualmente protegidos pela lei da Anistia, de 1979. Foi recomendado, contudo, a revisão da lei da Anistia e o fim de heranças do período militar, como a militarização da polícia, que até hoje, segundo o relatório, são responsáveis pela morte de civis e minorias pelo governo. Até o momento, nenhuma das medidas sugeridas foram contempladas pelo Poder Público. Entre os efeitos da herança ditatorial estão os números de homicídios recordes no País, a crise do sistema prisional e os constantes casos de chacinas em comunidades pobres, como aconteceu em Salvador no dia 6 de fevereiro.

Para investigar este e outros crimes cometidos pelo Estado durante o período democrático será criada, nesta sexta-feira 20, a Comissão da Verdade da Democracia, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A iniciativa é liderada pelo movimento Mães de Maio e conta com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e de outros movimentos sociais.

A comissão, no entanto, não é institucionalizada por lei. Com isso, não há obrigatoriedade de que os convites para as audiências sejam atendidos. Por outro lado, para os movimentos sociais, a comissão é um primeiro passo importante para que se tornem públicos e sejam investigados os crimes policiais, hoje impunes. A iniciativa tem o apoio formal do deputado estadual Adriano Diogo (PT), cujo mandato vence no dia 15 de março, e ainda procura por outro nome dentro da Alesp para apoiar seus trabalhos.

Segundo a coordenadora e fundadora das Mães de Maio, Débora Silva, o principal objetivo da comissão será investigar os crimes cometidos por policias e grupos de extermínio a partir de 1988. As principais investigações serão dirigidas aos "crimes de maio" de 2006 e crimes cometidos contra negros e pessoas em comunidades pobres. Os crimes de maio são uma série de 493 assassinatos de civis na região metropolitana de São Paulo, promovida por grupos paramilitares como resposta aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC), em 2006. Os ataques da facção criminosa cessaram apenas no dia 15 de maio.

"Temos uma estimativa de que mais de 1300 pessoas tenham sido mortas durante o mês de maio daquele ano, embora o governo contabilize oficialmente apenas 493 mortes de civis", afirma Silva. "Dentre todas essas mortes, apenas um policial foi punido, sendo o restante dos inquéritos arquivados pela justiça estadual. Essa impunidade é inadmissível e a comissão trabalhará para esclarecer isso", explica Silva.

Débora Silva é mãe de Edson Rogério Silva dos Santos, um gari da prefeitura de Santos, assassinado em maio de 2006 em uma ação da polícia no final da noite. Um estudo da ONG Justiça Global revelou que a investigação policial sobre o caso de Edson não ouviu testemunhas e não colheu provas importantes, como as fitas das câmeras de segurança do posto de gasolina onde ele teria sido assassinado. Nem mesmo a perícia do projétil encravado na coluna de Edson foi feita pelo Instituto Médico Legal santista.

Para Débora Silva, o Ministério Público Estadual de São Paulo foi conivente com a Justiça estadual e com outros órgãos do governo do estado a fim de abafar as mortes cometidas no período. Hoje, o inquérito sobre a morte de Edson está arquivado.

Reparação e responsabilização
Com o auxílio de dois consultores Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, a Comissão a Verdade da Democracia pretende iniciar as audiências com os familiares no início de março. "Os crimes cometidos todos os dias por agentes da segurança pública seguem sem esclarecimento e os familiares das vítimas raramente tem voz ou recebem algum tipo de atenção reparatória", afirma Silva. "A reparação pelo Estado é necessária porque o dano psicológico de se perder um familiar é muito grande e iremos trabalhar para isso."

Além das audiências, a Comissão também quer investigar as valas clandestinas utilizadas pela polícia e ações de ocultamento de cadáveres pelo Estado. "Hoje, o Estado ainda enterra gente que sai do hospital com o RG no bolso como indigente. Isso é uma política de ocultação que perdura desde a ditadura", conta.

 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

DPU pede que Incra acelere delimitação de território quilombola na Bahia

Em Ação Civil Pública ajuizada na quarta-feira passada (11/2) contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Defensoria Pública da União na Bahia pede que o órgão dê prosseguimento célere ao processo administrativo de identificação e delimitação do território ocupado pela Comunidade do Quilombo de Graciosa, localizado no município de Taperoá, Baixo Sul baiano.

De acordo com o defensor federal Átila Ribeiro Dias, titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva, apesar de o pedido ter sido feito há dois anos, o processo administrativo só foi instaurado em outubro passado. Já a certificação da comunidade como remanescente de quilombo teria sido feita pela Fundação Palmares e publicada no Diário Oficial da União há quase sete anos.

“Trata-se de uma comunidade pesqueira quilombola, situada no Baixo Sul do Estado da Bahia, que depende dessas terras ocupadas para sobreviver. O processo administrativo encontra-se inerte, nada foi feito desde a sua abertura. A demora do Incra em dar prosseguimento viola os princípios da duração razoável do processo, da razoabilidade e da eficiência”, afirmou o defensor.

Enquanto isso, segundo Dias, a comunidade vem sofrendo com os impactos negativos da especulação imobiliária sobre a área, inclusive com a venda de lotes à beira do manguezal utilizado por eles para atividades de subsistência.

Na ação com pedido de liminar, a DPU solicita ainda que a Justiça determine a apresentação de um cronograma de início e conclusão do processo administrativo no prazo máximo de 30 dias ou em prazo que o juízo entenda ser razoável. Com informações da Assessoria de Imprensa da DPU.

Dos 20 territórios quilombolas titulados em 2014, nenhum é no ES

Aracruz Celulose (Fibria) e fazendeiros manobram para impedir devolução das terras usurpadas da comunidade negra


Os quilombolas do Espírito Santo continuam a ver navios enquanto esperam a titulação de suas terras. Dos 20 territórios quilombolas titulados no País no ano passado, nenhum é capixaba. O balanço é da ONG Comissão Pró-Índio, de São Paulo. 
 
No Espírito Santo, oito processos estão em andamento para titulação, porém são alvos de sucessivas manobras protelatórias da Aracruz Celulose (Fibria), principalmente, e de fazendeiros, para impedir a devolução das terras aos seus verdadeiros donos.
 
O primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff repetiu a lentidão que marcou as gestões de seus antecessores, Lula e Fernando Henrique Cardoso, nos  processos de titulação dos territórios quilombolas.  
 
Nos estados onde houve titulação dos territórios quilombolas houve decisiva ação dos governos locais em pelo menos 13 das 20 titulações do ano passado: dez na Bahia, duas no Maranhão e uma no Pará. Agora são 154 as terras quilombolas tituladas em todo o Brasil, 80% delas regularizadas pelos governos estaduais. 
 
Para a Comissão Pró-Índio, a morosidade no processo de titulação das terras quilombolas é reflexo dos complexos caminhos que envolvem a desapropriação de imóveis incidentes nos territórios quilombolas. E, ainda, das crescentes contestações judiciais dos processos em diferentes fases, como ocorre no Espírito Santo. 
 
A entidade lembra que os processos em que os relatórios de identificação estão prontos, tecnicamente aprovados, mas que não são publicados, como ocorre com as terras indígenas.
 
No Espírito Santo, além da Aracruz Celulose, que explora desde a ditadura militar os territórios quilombolas em Sapê do Norte, formado pelos municípios de São Mateus e Conceição da Barra, há ainda ocupação das terras por usinas de cana de açúcar e álcool e fazendeiros.
 
A lentidão nos processos no Estado motivou ação civil pública do Ministério Público Federal (MPF-ES), ajuizada no ano passado, para garantir a regularização do território de São Domingos. O processo estava pronto para julgamento, última fase da publicação da portaria, desde janeiro de 2012. Em setembro último, porém, foi anulado pela Justiça Federal.
 
Outro território, Linharinho, também no norte, teve seu Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) concluído este ano, graças a inquérito civil do MPF instaurado para apurar a excessiva demora na regularização. Este é o segundo procedimento que visa à regularização das terras. O primeiro, iniciado ainda em 2004, foi anulado pela Justiça, após recurso da Aracruz.
 
O Ministério Público instaurou, ainda, outros cinco inquéritos para acompanhar a situação das comunidades de Roda D'Água, Bacia do Angelim e São Domingos, localizadas em Conceição da Barra; e São Jorge e Serraria/São Cristóvão, em São Mateus, bem como o processo de delimitação de suas áreas.
 
Enquanto não têm suas terras regularizadas, os quilombolas não conseguem produzir alimentos para subsistência de suas famílias, nem manter sua cultura tradicional. Ilhados pelos eucaliptais, enfrentam quadro de miséria, resultado dos impactos ambientais e sociais gerados pela monocultura do eucalipto no norte do Estado, plantados pela Aracruz Celulose (Fibria).
 
As titulações do ano passado beneficiaram 21 comunidades (3.128 famílias) e somam 26.637 hectares. No balanço da Comissão Pró-Índio, em 2014 o Incra titulou apenas sete terras quilombolas, todas parcialmente. Permanecem no aguardo de conclusão pelo Incra mais de 1.400 processos. A população quilombola  no país é de 214 mil famílias segundo estimativa da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
 
Os territórios quilombolas capixabas que estão sendo titulados estão nos municípios de Conceição da Barra, Cachoeiro de Itapemirim, Santa Leopoldina, Ibiraçu, e em São Mateus.

Levante Popular da Juventude realiza protesto contra o aumento da passagem

 

No último dia 11, jovens organizados do Movimento Levante Popular da Juventude fizeram diversas ações nas ruas de Feira de Santana em protesto contra o aumento da tarifa de ônibus da cidade. Além disso, nas primeiras horas da manhã, os motoristas e pedestres que passaram em frente ao Terminal Norte (foto) puderam ver uma faixa estendida na passarela que dizia: "R$ 2,70 é um roubo". A mensagem do movimento relaciona o aumento da tarifa ao financiamento privado das campanhas eleitorais. O dinheiro doado pelas empresas aos candidatos nas eleições acaba retornando aos cofres privados através de benefícios durante a gestão, como por exemplo, no aumento da passagem. A solução defendida pelo Movimento é de uma Constituinte do Sistema Político, que pode pôr fim ao financiamento privado das campanhas, além de promover outras reformas estruturais que trarão benefícios à sociedade.

De quem é esta terra?

O sul da Bahia enfrenta violentos conflitos que marcaram seu passado e definem o presente. Movimentos de reforma agrária, povos indígenas e quilombolas lutam por espaço. O agronegócio tenta garantir seu futuro ao buscar soluções inovadoras

 

Em 20 anos no Movimento de Luta pela Terra (MLT), a agricultora Vanderlúcia Cunha Farias, de 40 anos, já participou de quatro ocupações da organização no sul da Bahia. Incluindo a última, onde reside com sua família desde 2010, foram ao todo quatro ações de despejo para reintegração de posse no período. "É muito triste quando isso acontece, todo mundo chora. Já vi mais de uma vez passarem trator por cima do meu barraco com as coisas dentro e plantações inteiras serem destruídas na época da colheita, deixando as crianças sem ter o que comer", conta.

Como muitos no movimento, criado em 1994, Vanderlúcia se viu sem ter onde morar e subsistir da terra quando perdeu o emprego em uma grande fazenda de cacau castigada pela vassoura-de-bruxa, praga que assolou o recôncavo baiano entre as décadas de 1980 e 2000. Hoje, ela e 85 famílias, produtoras de mandioca, feijão, milho e abacaxi, estão esperançosas de que conseguirão se assentar de maneira definitiva no acampamento Baixa Verde, fundado sobre 1.330 hectares de uma propriedade de eucaliptos no interior ermo de Eunápolis, cidade a 680 quilômetros da capital, Salvador. "Estamos esperando apenas o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) homologar a demarcação, mas já faz quatro anos que essa disputa continua", afirma a lavradora. A pedido do MLT para fazer a discriminação da área, a CDA da Bahia (Coordenação de Desenvolvimento Agrário) reconheceu que ali era uma terra devoluta do estado, grilada no passado e adquirida ilegalmente pela Veracel Celulose. 

Disputas como essa são uma realidade constante no sul da Bahia. Desde a década de 1970, a região da Costa do Descobrimento tem se caracterizado pela produção de celulose de eucalipto e pela concentração de propriedades rurais por indústrias do segmento agroflorestal, cenário que tem colocado empresas em rota de colisão com militâncias que reivindicam a reforma agrária, comunidades indígenas e quilombolas nos tempos de hoje. O plano de desenvolvimento, idealizado pelo então governo militar (1964-1985) nessa parte do Brasil, previa a criação de diversos Distritos Florestais, que se estenderiam do Nordeste ao Norte do país. Até aquele momento, essa atividade econômica estava restrita ao Sudeste.

"A ditadura foi um período marcado pela estruturação do agronegócio como modelo econômico para o país, impulsionada pelo apoio direto ou indireto do governo ao latifúndio. Os militares seguiam uma tendência mundial de financiar a agricultura e o monocultivo de grande escala", comenta o professor Bernardo Mançano, coordenador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos da Reforma Agrária (Nera) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Ele ressalta que o período entre as décadas de 1960 e 1980 foi o momento mais crítico de expansão de commodities para exportação no país, como a cana-de-açúcar, a soja, o algodão, o cacau e a celulose. "A questão histórica que resulta nos conflitos de terra até hoje é que, a cada novo ciclo de produção dominante no Brasil, os empreendimentos quase totalitários do agronegócio têm causado sérios problemas para a pequena produção. Em alguns casos, os povos tradicionais e a agricultura familiar, que não são grandes produtores capitalistas, são vistos como obstáculo para esses projetos voltados para a exportação", diz Mançano. 

 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O golpe é certo, mas sua vitória não

Tendência capituladora do PT mostra que o governo não resistirá ao golpe, mas a classe operária tende a se levantar contra este ataque 

 

 

 

A direita pró-imperialista brasileira expressa cada vez mais claramente que está encabeçando uma política golpista no país. A deflagração do golpe, no entanto, é uma operação complexa e perigosa e existe o risco de terminar fracassada, podendo culminar em um levante popular e em uma guerra civil. Este desenvolvimento sucedeu boa parte dos golpes deflagrados pelo imperialismo no último período, levando alguns à derrota.

É um dilema: o golpe é uma necessidade para a burguesia conseguir conter um provável levante da classe trabalhadora, mas o próprio golpe pode ser o estopim para este levante. A principal função do PT é justamente conter as tendências de radicalização dos trabalhadores e a derrubada deste governo pode significar justamente o fim desta contenção. São várias as experiências em que isto ocorreu, dentro e fora do Brasil.

Um dos processos golpistas mais conhecidos da história nacional foi durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), que o levou ao seu suicídio. Toda a imprensa, a oposição, a cúpula militar e finalmente sua própria equipe ministerial faziam campanha pela saída de Vargas, apesar de seu grande apoio popular, e pressionado pela situação, o então presidente optou pela própria morte a renunciar ao cargo em vida.

A situação deu lugar a uma grande mobilização popular que conteve a organização de um golpe militar contra Getúlio. Carlos Lacerda, principal figura da oposição, e boa parte do seu grupo tiveram de fugir do país para evitar um linchamento público. A sede do jornal O Globo foi atacada, por ser o principal órgão de imprensa contra o governo e que ainda deu espaço para a oposição no dia seguinte ao suicídio.

O vice João Café Filho, eleito à época separadamente, era da oposição e assumiu por pouco mais de um ano. Em seguida ao governo de Café Filho houve uma série de presidentes getulistas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, até que o golpe fosse deflagrado, 10 anos depois.

Nos casos mais recentes de tentativas e golpes de Estado, chama a atenção que na maioria dos países houve uma reação imediata da população. Na Venezuela, o golpe contra Hugo Chávez em 2002 foi parado pela sublevação da própria população venezuelana, que se armou e permanece armada até hoje, formando milícias populares em diversos bairros operários. Esta situação é o principal obstáculo para os golpistas no país vizinho, mesmo com a bancarrota do governo chavista.

Na Ucrânia, o golpe ocorrido no começo de 2014, declaradamente apoiado pelos Estados Unidos, está se desenvolvendo em uma guerra civil, em que a população do Leste do país se levantou contra o golpe. Além do combate contra a Junta de Kiev, os moradores das províncias de Donetsk e Lugansk declararam a independência de ambas em relação ao governo central e fundaram o Estado Federal da Nova Rússia que luta pelo seu reconhecimento. O desenvolvimento dos conflitos tem gerado um enorme gasto no país e coloca em xeque a viabilidade do golpe, já parcialmente fracassado.

10 verdades e mentiras sobre o “impeachment” de Dilma

10 verdades e mentiras sobre o “impeachment” de Dilma
1. Trabalhadores e jovens que sentem um enorme descontentamento em relação ao governo do PT, que não são tucanos e muito menos direitistas, começaram a ver com simpatia o debate sobre o “impeachment” de Dilma, que vem ganhando mais peso nas redes sociais e na imprensa. Isso ocorre porque corretamente identificam no governo petista a responsabilidade pela crescente inflação, o aumento do desemprego, o risco de apagões, a farra de corrupção nas estatais etc. Conhecem um PT que não reverteu nenhuma das privatizações feitas pelos tucanos, e sim, pelo contrário, encontrou várias vias de seguir privatizando de forma velada, disfarçada, assumindo das mãos dos tucanos o controle da corrupção nos órgãos federais. E estão presenciando um verdadeiro estelionato eleitoral, com um governo que implementa um duro pacote de ajustes,incluindo a retirada de direitos trabalhistas, quando o que tinha prometido nas eleições foi exatamente o contrário.

2. Entretanto, o ato convocado para o dia 15/03, por mais que se esforce para aparecer como algo “espontâneo”, tem por trás tucanos e direitistas de toda a estirpe. São infestados de gente que gosta da ditadura militar, e sua proposta de impeachment é para levar o país mais à direita, no sentido contrário ao da justa indignação dos setores mais explorados e oprimidos da população.

3. Muitos trabalhadores jovens não têm clareza do que significaram os governos tucanos para o país na década de 90. Os tucanos, se estivessem no governo, estariam implementando um pacote de ajustes e ataques ainda mais duros do que os que estão sendo implementados por Dilma. Por mais que Aécio Neves também tenha dito na campanha eleitoral que não iria implementar ajustes nem retirada de direitos, mentia tanto quanto Dilma. É o que vemos em São Paulo, onde Alckmin, tucano de primeira linha, demite professores e coloca mais de 60 alunos em uma mesma sala de aula.

4. Esses bicudos de plumagem azul e amarela estão se utilizando dos escândalos da Petrobrás para defender uma privatização mais descarada e profunda do petróleo, retomando seu velho projeto da Petrobrax (com “X” para ser mais vendável aos estrangeiros), o qual havia sido derrotado pela grande greve de 1995.

5. A falta de água e o risco de apagão elétrico são um resultado das privatizações feitas pelo PSDB na década de 90, cujos capitalistas beneficiários foram escolhidos através de métodos que não autorizam os tucanos a criticar o mensalão e o petrolão petista.

6. Em resposta ao debate sobre impeachment impulsionado pela oposição burguesa, os “formadores de opinião” do PT (blogs, intelectuais, jornalistas, dirigentes sindicais e de movimentos sociais etc.) agitam o fantasma do “golpe de direita”. É o mesmo que fizeram quando as manifestações de junho de 2013 golpearam o governo. Essa é uma operação ideológica que tem o objetivo de constranger todo e qualquer questionamento ao governo Dilma pela esquerda, afirmando que por mais justo que seja esse questionamento, se mobilizar forças que debilitem o governo, terminará fazendo o jogo da direita. De acordo com essa “teoria”, nunca o governo do PT poderá ser questionado por uma mobilização independente dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre, pois sempre o PSDB estará à espreita para capitalizar, como ocorreu nas eleições do ano passado. Por incrível que pareça, inclusive setores de esquerda entram nesse jogo do PT, como é o caso do Partido da Causa Operária (PCO).

7. Na atual conjuntura política e econômica, é muito difícil se efetivar qualquer tentativa séria de impeachment contra Dilma. Não só porque ainda não existe nenhum indício concreto de corrupção que atinja a presidente, mas também porque os setores mais altos da burguesia e a própria cúpula do PSDB têm medo de uma maior polarização política nacional abrir espaço para um novo junho de 2013 ou algo inclusive mais profundo. Por isso, para alimentarem o fantasma do “golpe de direita”, os petistas conscientemente confundem a simpatia pela ditadura militar de boa parte dos manifestantes que integram os atos pelo impeachment e os trâmites jurídicos feitos pelo PSDB para justificar um eventual processo de impeachment no futuro (o que eles chamam de “3º turno”).

8. Mesmo que surja algum indício de corrupção que envolva diretamente a presidente, o impeachment é um mecanismo constitucional que delega sobre o Congresso Nacional – também completamente enlameado de corrupção – a atribuição de decidir sobre quem deve ou não seguir governando o país. Se tudo não terminar em mais uma pizza, no caso de uma decisão favorável à saída da presidente, quem assumiria seria o vice-presidente Michel Temer ou Renan Calheiros, ambos do PMDB, partido que também está atolado na lama até o pescoço. E se vier à tona qualquer envolvimento de Temer com a corrupção, quem assumiria o cargo seria o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, um direitista de primeira linha, inimigo destacado da luta democrática pelos direitos das mulheres e dos homossexuais. Ou seja, pela via do impeachment, vai ser sempre trocar 6 por meia dúzia, como ocorreu com o Fora Collor, quando as manifestações foram não foram capazes de barrar o avanço do neoliberalismo.

9. Marcelo (Pablito) Santos, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP, chama os trabalhadores e a juventude a não participar do ato pelo impeachment convocado para o dia 15/02: “Ao invés de ir aos atos pelo impeachment de Dilma convocados pela direita, os trabalhadores e jovens que querem expressar sua indignação contra o governo do PT precisam se unir às manifestações que estão sendo convocadas contra os ataques aos direitos trabalhistas, contra a falta de água e o aumento das tarifas dos transportes. A esquerda precisa batalhar para unir todas essas demandas em uma só luta, organizando assembleias de base que preparem atos e paralisações unificadas. Chamamos o PSTU, as correntes da esquerda do PSOL, a Conlutas e as Intersindicais e exigirmos juntos que os sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais rompam com seu apoio ao governo petista e impulsionem uma mobilização consequente. Não podemos ter que escolher entre o “fantasma do golpe da direita” agitado pelo PT, que alimenta a passividade enquanto seu governo implementa o pacote de ataques e ajustes; ou os atos pelo impeachment convocados pela direita, que buscam debilitar o PT para fortalecer um projeto ainda mais de direita para o país. Precisamos batalhar por uma alternativa independente, baseada na força da mobilização dos trabalhadores, da juventude e do povo pobre”.

10. Indagado sobre o que seria essa alternativa independente, Marcelo conclui: “Uma forte mobilização independente, que retome o espírito de junho de 2013 e das greves que sacudiram o país nos últimos anos seria capaz de lutar por respostas de fundo para demandas mais sentidas pela população. Cadeia e confisco dos bens de todos os corruptos. Petrobrás 100% estatal e sob controle democráticos dos trabalhadores que a fazem funcionar em aliança com a população. Que todo juiz, parlamentar, político ou funcionário de alto escalão ganhe o mesmo salário que um professor. Estatização de todo o sistema de abastecimento de água e luz sob controle dos trabalhadores e usuários. Revogação dos aumentos de tarifas contra o povo (água, luz, combustível, transportes), e em contrapartida aumento dos impostos sobre os grandes capitalistas e não pagamento das dívidas do Estado com os banqueiros para viabilizar os recursos necessários. Derrubada das leis que retiram os direitos dos trabalhadores. Aumento automático do dos salários de acordo com o aumento do custo de vida. Redução da jornada de trabalho sem redução de salários para que ninguém fique sem emprego. Fim do fator previdenciário para que todos se aposentem de acordo com o salário que recebem na ativa. Esse seria um programa capaz de unificar a atual indignação dos distintos setores explorados e oprimidos em um plano comum de luta. São medidas que, para serem realmente implementado, apontam claramente numa perspectiva revolucionária, de um governo dos trabalhadores e do povo pobre baseado na democracia das assembleias de base de suas organizações de luta”.

Aécio admite: Não há elementos jurídicos ou políticos para impeachment

Apesar de lideranças tucanas com apoio da grande mídia, defenderem publicamente uma interrupção do governo da presidenta Dilma Rousseff, que tomou posse há pouco mais de um mês, Aécio, que também é presidente nacional da legenda, afirma que o impeachment “não está na pauta do PSDB”.

A realidade mostra que não é bem assim. Depois de encomendar um parecer ao jurista Ives Gandra, FHC saiu a público defendendo um impeachment por meio da judicialização da política. Outro a discursar na mesma direção foi o também senador José Serra.

No Congresso, a pauta da oposição tucana também é a mesma: gerar instabilidade política e semear clima de ingovernabilidade. O líder do seu partido no Senado, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que o impedimento de Dilma é legítimo. "Não está na pauta do nosso partido, mas não é crime falar sobre o assunto, como fez o senador Cássio Cunha Lima”, defendeu Aécio.

Divergente

Mas a tese não é unanime entre os tucanos. O governador de Goiás, Marconi Perillo disse que a presidenta Dilma “ganhou e tem o direito de governar”.

“Acho que a Dilma precisa ter condições de governabilidade, precisa tomar muitas medidas que só ela pode tomar, mas ela tem o direito a governar. Ela ganhou”, disse o governador em entrevista ao jornal O Popular, de Goiânia.

“Trabalhei para o Aécio, ele teve uma grande votação em Goiás, mas ele perdeu, nós perdemos”, disse o governador tucano.

Da redação do Portal Vermelho

Comissão da Verdade está preocupada com morte de jovens por policiais

A Comissão Estadual da Verdade - Bahia enviou nesta terça-feira (10) ofício ao governador Rui Costa manifestando sua preocupação com a operação policial da Rondesp, que resultou na morte de 12 jovens, e “com as declarações recentes de representantes do Governo, em defesa prévia e perigosa de fatos possivelmente violadores dos direitos humanos, sobretudo do direito à vida, ainda que apoiados por parte da população”.

Segue , na íntegra, o texto do ofício enviado ao governador do Estado:
“Diante da recente operação policial da Rondesp, que resultou na morte de pelo menos 12 jovens, a Comissão Estadual da Verdade da Bahia,  constituída na forma do Decreto nº 14.227/2012,   para revelar   perseguições, desaparecimentos, mortes e tortura ocorridos no período da Ditadura Civil Militar neste Estado,  e contribuir para a prevenção de fatos semelhantes  no presente e no futuro, considera  cumprimento de seu compromisso  manifestar preocupação:
1-    com as declarações de representantes do Governo,   em defesa prévia e perigosa de  fatos possivelmente  violadores dos  direitos humanos, sobretudo  do direito   à vida ,  ainda que apoiados por parcela da população;
 2-    com  as contraditórias versões entre representantes de órgãos de segurança e moradores dos bairros atingidos   que presenciaram os fatos  mas, compreensivelmente,  temem identificar-se.
Assim, pela efetivação do estado democrático de direito, com a erradicação das práticas recorrentes na Ditadura , confiamos na   imparcialidade para apuração destes e de outros fatos semelhantes, e responsabilização  pelas suas consequências. E sugerimos ainda que ampla campanha educacional seja deflagrada pelo Poder Publico, difundindo valores éticos e respeito à  vida e ao cidadão,  como forma de prevenção ao atual estado de desrespeito aos direitos humanos”.

A Comissão Estadual da Verdade é formada pelos jornalistas Carlos Navarro (coordenador) e Walter Pinheiro, advogados Vera Leonelli e Jackson Azevedo e pelos professores Amabília Almeida, Dulce Aquino e Joviniano Neto.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Justiça exige correção de relatório que limita área de quilombo, diz DPU

Incra delimitou território menor ao aceito pelo Rio dos Macacos, diz defesa.
'Assim, toda área coletiva vai ser retirada da gente', diz líder comunitária.

 

Quilombo Rio dos Macacos (Foto: Cathy Rodrigues/Defensoria Pública) 


A Justiça Federal determinou que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) corrija o edital do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação da comunidade (RTID), publicado em agosto do ano passado, sobre o Quilombo Rio dos Macacos, segundo informações da Defensoria Pública da Bahia (DPU-BA). O G1 ainda não conseguiu contato com o Incra.

A decisão para correção do edital ocorreu porque a informação que foi publicada nele é de que o quilombo seria delimitado em 104 hectares, espaço proposto pelo governo e que não foi aceito pelos quilombolas em audiência pública ocorrida em maio do ano passado, ocorrida na sede do Ministério Público Federal (MPF). O Incra considera como área remanescente de quilombo a área total do terreno, que possui cerca de 300 hectares.

"Teve uma assembleia no Ministério Público com a gente, mas depois o governo se juntou com o Incra e eles decidiram pela vida da comunidade e colocaram 104 hectares no Diário Oficial. Nessa divisão, toda a área coletiva da comunidade vai ser retirada da gente, área de mata, de rio, que a gente usa a água e pesca. Dos 104 hectares, a gente não pode mexer em 70% porque é uma parte da mata e comunidade preserva essas áreas. A comunidade vive da roça", disse a líder comunitária Rosemeire Silva, em defesa da área total do território.

A Defensoria Pública considera que houve descumprimento da decisão liminar, porque o documento divulgado não está em concordância com o relatório favorável à comunidade quilombola. Pela determinação judicial, o Incra tem até esta quarta-feira (11) para republicar o edital. A primeira publicação do edital do relatório foi determinada pela juíza da 1ª Vara Federal de Salvador em junho do ano passado. A decisão judicial foi motivada por uma ação civil pública ajuizada pela Defensoria em conjunto com o Ministério Público Federal.

A publicação
Dois anos após o início das discussões lideradas pela Secretaria-Geral da Presidência da República, o Incra publicou os limites do Quilombo Rio dos Macacos, região alvo de disputa entre moradores da comunidade e Marinha, na edição do Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (26).

Conforme publicação, os trabalhos envolvidos na elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) definiram que, dos 301,3 hectares de terra que integram o quilombo, 104 serão destinados à regularização fundiária de 67 famílias remanescentes.

De acordo com o Incra, o desenho da delimitação foi definido por meio da necessidade de que fossem asseguradas a regularização das terras quilombolas e também a manutenção de áreas necessárias à segurança nacional. Além das famílias que vivem no quilombo, a Marinha do Brasil mantém no local a Vila Naval e a barragem que abastece a Base Naval de Aratu, uma das mais estratégicas bases do país, que funciona desde a década de 1970.

Em maio deste ano, o governo federal ofereceu à comunidade quilombola uma área de 86 hectares ao norte da barragem que existe no local, como também seis hectares ao sul da Vila Naval. O Governo da Bahia concedeu mais uma área de 12 hectares ao lado do terreno de propriedade da Marinha, totalizando 104 hectares.

Segundo o Incra, durante reunião entre os envolvidos no processo, ocorrida no dia 21 de agosto, em Brasília (DF), houve a aprovação final do governo e definição da regularização fundiária do território da comunidade. O relatório foi aprovado no dia 22 de agosto pelo Conselho Diretor do Incra.

Conforme publicação no Diário Oficial da União, os envolvidos no processo têm 30 dias para manifestar posicionamento sobre a delimitação definida, e mais 90 dias para contestar a decisão.

quilombo rio dos macacos; bahia; incra (Foto: Gabriel Gonçalves/G1)
 
Histórico
O conflito com a Marinha começou na década de 70, depois que a Base Naval de Aratu foi construída e a União pediu a desocupação da área. Com isso, em 2009 os moradores do quilombo solicitaram uma intervenção do MPF que agora atua junto à Justiça para provar que eles são remanescentes de escravos e têm o direito de posse.

Uma decisão liminar proferida em novembro de 2010 foi favorável ao pedido da ação reivindicatória proposta pela Marinha e ordenou o despejo das famílias. Há um ano, o juiz Evandro Reimão dos Reis, titular da 10ª Vara Federal, manteve a sentença, sem suspender seus efeitos até o pronunciamento da instância superior, e ordenou o despejo dos quilombolas, mas até agora nenhuma medida de execução foi tomada.

O governo federal tenta acordo para transferir os moradores para outro terreno da União, mas os quilombolas, que há várias gerações ocupam a área, resistem em sair do local. Estudo técnico realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) apurou detalhes sobre a ocupação e  reconheceu a área como terreno quilombola.

 

AGU realiza acordos entre índios e fazendeiros no sul da Bahia

A Advocacia-Geral da União (AGU) tem colaborado na realização de acordos em conflito envolvendo índios e fazendeiros no sul da Bahia. A região é alvo de violenta disputa. 

Para evitar mortes e agressões, a presença da Força Nacional é constante e até o Exército ocupou a área no início de 2014, a pedido do governador da Bahia.

Os indígenas aguardam a conclusão do processo de demarcação da Terra Tupinambá de Olivença, situada nas cidades baianas de Ilhéus, Buerarema e Una.

Por outro lado, os produtores rurais se opõem à homologação da área e pedem a reintegração de posse dos imóveis ocupados.

Com o auxílio da Procuradoria Seccional Federal em Ilhéus (BA)  tem sido possível chegar a soluções provisórias de convivência pacífica entre indígenas e produtores rurais.

As conciliações são realizadas durante inspeções nas fazendas, bem como em audiências de conciliação e tentativas de conciliação extrajudiciais na sede da própria Procuradoria.

"Ações conjuntas da Procuradoria Seccional Federal com a Justiça Federal têm contribuído para redução da violência e solução dos conflitos relativos à terra indígena na região. Esta não é uma ação isolada, mas faz parte de um conjunto de esforços perenes para tentar pacificar a disputa pela terra indígena", destaca o procurador federal da PSF/Ilhéus Daniel Gadelha.

Como exemplo, na última terça-feira (3), advogados públicos participaram de conciliação que ocorreu em inspeção judicial realizada pela Justiça Federal em quatro fazendas ocupadas por índios na região da Serra das Trempes.

Na ocasião, foi possível chegar à solução para o conflito em duas propriedades. Os indígenas concordaram em deixar os imóveis e se comprometeram em não voltar a ocupá-los.

"Os resultados das conciliações não são definitivos, são solução provisória até a demarcação do território indígena e buscam apaziguar o antagonismo e evitar violência entre os fazendeiros e indígenas", ressalta Gadelha.

Tupinambá de Olivença
A Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu oficialmente a etnia tupinambá de Olivença em 2001. Em abril de 2009, foi concluída a primeira fase de demarcação do seu território, com a publicação do relatório de identificação e delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.

O nome da etnia tem origem na vila de Olivença, localizada no município de Ilhéus. Fundada em 1680 por missionários jesuítas, o local é o marco da área que está sendo proposta pela Funai.

Segundo a Funai, os tupinambás de Olivença habitam em pequenas unidades familiares distribuídas em uma área que abrange região de mata atlântica e se estende pelo litoral até as serras das Trempes e do Padeiro.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O passado investigado pela CNV pode ajudar o futuro

O relatório da Comissão Nacional da Verdade causou reações extremadas. Mas suas recomendações apontam para consolidação da democracia e de novas informações sobre a história do país

Longe de propor uma volta ao passado, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), apresentado em dezembro, pode ser visto como uma tentativa de aumentar a compreensão da sociedade para um período histórico e, quem sabe, mudar comportamentos, já que o cotidiano, embora sob um ambiente democrático, ainda produz discriminação, desaparecidos e torturados. “Quase tudo já era conhecido. O importante é ser uma comissão oficial do Estado, uma coisa sem precedentes na nossa história. A verdade e a memória viraram um direito”, diz o deputado Nilmário Miranda, ex-secretário de Direitos Humanos.

“O objetivo maior é a não repetição, é consolidar a cultura democrática”, acrescenta Nilmário. “As gerações novas não conhecem a história. Qualquer pessoa sabe da Independência, da abolição, da Revolução de 30, mas não sabe nada sobre o golpe de 1964.” Desconforto existe, porque quem praticou violações de direitos humanos jamais esperava que as histórias fossem vir à tona, como ele observa. “A exposição da verdade já é em si um processo. Doloroso, mas necessário.”

A primeira reação, previsível, foi de que a CNV, formalmente extinta desde 16 de dezembro, não investigou “os dois lados”. Militares de reserva, principalmente, insistiram nesse argumento. “O outro lado pagou com mortes, desaparecimentos, demissões, sequestros, violência até contra bebês. O lado que enfrentou a ditadura já pagou por isso”, reage Nilmário, que ressalta a legitimidade da comissão. “O Congresso aprovou. Quando a presidenta sancionou, estavam lá todos os ex-presidentes, inclusive as Forças Armadas. Todas as correntes ideológicas votaram pela Comissão da Verdade.”

Para a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora aposentada da Universidade de São Paulo e colaboradora do Programa de Pós-Graduação em História Social da USP, questões como desmilitarização da PM e mudanças na formação das Forças Armadas, que se incluem entre as recomendações da CNV, podem até não ser efetivadas ou demorar para acontecer. “Não compete à PM ou as Forças Armadas promover justiça com as próprias mãos. Tem de seguir o trâmite legal. É um avanço que vai ter um andamento mais lento.”

Entre as 29 recomendações da CNV estão questões atuais, como a discriminação, inclusive na legislação, a homossexuais, a figura jurídica do auto de resistência à prisão (mortes e lesões justificadas como reação a ações de policiais), modificação do conteúdo curricular de academias militares e policiais e desvinculação dos institutos médico-legais das secretarias de segurança. O relatório constata que o cenário de graves violações de direitos humanos persiste nos dias atuais. “Embora não ocorra mais em um contexto de repressão policial – como ocorreu na ditadura militar –, a prática de detenções ilegais e arbitrárias, tortura, execuções, desaparecimentos forçados e mesmo ocultação de cadáveres não é estranha à realidade brasileira contemporânea.”

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Nova leitura

A democracia é um processo, observa a historiadora. “Não é algo que se institua pela lei. Você pode derrubar alguém do poder. Mas mudar a sociedade e a mentalidade leva muito tempo.” Do ponto de vista da educação, ela avalia que mudanças já começaram a acontecer. “Hoje já existe uma revisão dos livros didáticos.”

Maria Aparecida também rebate a versão da existência de um “outro lado” a ser investigado. “Quando os militares chamaram as ações de luta armada de ‘terrorismo’, isso tinha outro significado. Temos 720 processos na Justiça Militar contra pessoas, grupos, agremiações. É uma inverdade completa, total e absoluta. Como você vai dizer que essas pessoas não foram julgadas?”

O escritor Luis Fernando Verissimo, em artigo publicado em dezembro no jornal O Globo, é outro a contestar a tese; para ele, se trata de invocar uma simetria inexistente. “Nenhum dos mortos de um lado está em sepultura ignorada como tantos mortos do outro lado. Os meios de repressão de um lado eram tão mais fortes do que os meios de resistência do outro que o resultado só poderia ser uma chacina como a que houve no Araguaia, uma estranha batalha que – ao contrário da batalha de Itararé – houve, mas não deixou vestígio ou registro, nem prisioneiros.”

Verissimo demarca: a principal diferença entre um lado e outro é que os crimes de um lado, justificados ou não, foram de uma sublevação “contra” o regime, e os crimes do outro lado foram “do” regime. “Agentes públicos, pagos por mim e por você, torturaram e mataram dentro de prédios públicos pagos por nós. E enquanto a aberração que levou a tortura e outros excessos da repressão não for reconhecida, tudo o que aconteceu nos porões da ditadura continua a ter a nossa cumplicidade tácita”. Para o escritor, o relatório da CNV, assim como o da CIA nos Estados Unidos sobre torturas, “é um informe à nação sobre o que foi feito em seu nome”.

Trabalho sem fim

Coordenador da Comissão da Verdade de Pernambuco, o ex-deputado Fernando Coelho observa que a lei que criou a CNV “objetivamente definia como objetos de estudo as violências praticadas por agentes do Estado”. A comissão pernambucana tem um banco de dados com 100 mil documentos digitalizados e “comprovatórios de violência”. É um trabalho que não termina, afirma, destacando a importância de levantamento de fatos históricos ocultados durante décadas: “Cada dia a gente descobre uma coisa nova”. Uma dos itens que deve constar do relatório da comissão pernambucana é a persistência do Estado brasileiro, via Itamaraty, em impedir que dom Hélder Câmara recebesse o prêmio Nobel da Paz, nos anos 1970, ou mesmo que chegasse a cardeal.

Outra polêmica reavivada após a divulgação do relatório foi a da Lei da Anistia. Os chamados jornalões publicaram editoriais criticando a Comissão da Verdade, sustentando que a lei aprovada em 1979 “pacificou” o país. Assim, não haveria espaço para punição a agentes do Estado responsáveis por torturas, sequestros e ocultação de cadáveres recomendada pela própria comissão. Mas o Direito internacional entende que tais crimes são imprescritíveis – e a anistia não tem alcance em tais casos.
Deputado em 1979 pelo MDB, Fernando Coelho afirma que a Lei da Anistia não resultou de nenhum entendimento, mas de imposição. “Você não encontra um discurso, um projeto, vamos dizer, que perdoe torturadores. O que houve foi uma confrontação o tempo todo. Impuseram a versão deles (governo). Esse acordo foi uma mentira.”

Depois da aprovação, a oposição ainda tentou emplacar uma emenda de Djalma Marinho (Arena-RN) que ampliava os efeitos da anistia. Perdeu apertado: 206 a 201, com 15 votos de dissidentes do partido oficial. Na interpretação de Coelho, se fosse resultado de acordo, a lei aprovada “deveria ter maioria estrondosa”. A Lei 6.683 foi sancionada às 9h de 28 de agosto pelo então presidente João Figueiredo, diante dos ministros das Casas Civil e Militar, além do comando do Serviço Nacional de Informações, o extinto SNI.

Existe a expectativa de que o Supremo Tribunal Federal reveja seu posicionamento de 2010 a respeito da Lei da Anistia. Naquele ano, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro no caso Araguaia. Agora, o relatório da CNV pode representar uma pressão adicional. A recomendação de rever a lei foi a única que não teve unanimidade, entre as 29 da comissão nacional (teve um voto contra, de José Paulo Cavalcanti Filho). A conclusão foi de que agentes do Estado envolvidos em crimes contra a humanidade não podem se beneficiar da anistia.

“A expectativa é também que o tripé (memória, verdade e justiça) se complete. Não queremos torturar as pessoas que estão vivas, só que elas sejam processadas criminalmente, com direito a ampla defesa”, diz o coordenador da comissão do Rio Grande do Sul, Carlos Guazzelli, que também discorda da questão dos “dois lados”. “O lado que se rebelou foi julgado. Meu pai defendeu vários presos políticos. A ditadura brasileira tinha uma lei para julgar os adversários (Lei de Segurança Nacional) e uma justiça. Todos foram processados e julgados. E além disso foram castigados ilegalmente”, afirma Guazzelli, criticando ainda os principais meios de comunicação. “Todas as famiglias de comunicação sabem, porque cresceram com o regime militar. O outro lado já foi punido. Isso tem de ser contado nas escolas.”

A comissão gaúcha incluiu em suas recomendações a alteração de currículos nas disciplinas de História e Ciências Sociais, nos níveis fundamental, médio e superior, “com a introdução de conteúdos relativos” ao golpe de 1964 e dos 21 anos de “governos ditatoriais que se seguiram a ele”.

Fonte de consulta

O professor Paulo Giovani Antonio Nunes, da Universidade Federal da Paraíba, presidente da Comissão da Verdade no estado – com forte presença das Ligas Camponesas –, acredita que os relatórios da comissão nacional e dos vários colegiados que se formaram no país podem ajudar na discussão sobre questões atuais, como a das policias militares. “No mínimo, chamou a atenção para o período”, observa. Ele considera que o Brasil já tem historiografia consolidada sobre o período e, portanto, não aposta em grandes modificações nos livros didáticos. “Mas acredito que pode ser uma fonte importante a ser utilizada pelos autores de livros didáticos, principalmente alguma coisa nova que a historiografia não tenha esclarecido. Como o relatório também tenta sintetizar todo um período, isso também poderá facilitar a consulta.”

O documento da CNV estará disponível para consulta no Arquivo Nacional e na página da comissão na internet. Em seus últimos atos, o colegiado destacou a importância de compartilhar o conteúdo e, com isso, garantir o chamado resgate da memória. Afinal, mais de 80% dos brasileiros nasceram após o golpe. E 40% da população, ou 80 milhões de pessoas, nasceram depois da ditadura. Uma geração inteira não sabe como foi aquele período.

“O relatório produzido pela Comissão Nacional da Verdade, assim como as recomendações ao Estado brasileiro, devem deflagrar um novo período de lutas aos movimentos sociais que atuam contra a impunidade, com centralidade na luta pela justiça”, diz Lira Alli, militante do Levante Popular da Juventude, movimento responsável, entre outros, pelos “escrachos” organizados para denunciar agentes do Estado responsáveis por torturas.

Um traço civilizatório pôde ser notado antes mesmo da divulgação do relatório, ainda em outubro, quando a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Superior Tribunal Militar (STM) assinaram um termo de cooperação para abrir os arquivos dos julgamentos realizados naquele órgão. O chamado Projeto Vozes da Defesa deve dar acesso aos áudios da defesa primeiro aos advogados, sendo posteriormente liberados.

“É evidente que o Estado brasileiro continua em dívida com as vítimas”, afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo o historiador José Luiz del Roio. “Ouvir as vítimas é fundamental para uma comissão que nasceu para dar voz a elas. Então, é claro que as famílias têm razão de estarem insatisfeitas.” Del Roio considera o relatório “um marco” na história do país, por se tratar de um documento de Estado. Além dos crimes do Estado nunca terem sido julgados, ele identifica um “crime original” ocorrido naquele período histórico: “Rasgar uma Constituição, a Carta de 1946, sem nenhuma consulta à sociedade”.

“Os torturadores, assassinos e os financiadores da repressão seguem sem condenações criminais. O Brasil continua a ser um Estado fora da lei no tocante aos direitos humanos”, diz a comissão da Assembleia Legislativa de São Paulo, comandada pelo deputado Adriano Diogo (PT), em seu relatório parcial, também divulgado em dezembro.

A frustração pela falta de informações novas sobre o paradeiro de desaparecidos e pela ausência de julgamentos continua. Mas o trabalho das dezenas de comissões, não apenas da nacional, ajudou a jogar luz sobre um período ainda obscuro da história brasileira. E pode abrir caminhos à frente.

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Um dos momentos emblemáticos de 2014, quando se completaram 50 anos do golpe que derrubou João Goulart, foi o retorno de Jango a Brasília: os restos mortais do ex-presidente, que passariam por perícia, foram recebidos com honras de chefe de Estado. Em dezembro, saiu o resultado das análises: não era possível afirmar que Jango foi envenenado, mas esta também não era uma hipótese descartável. Oficialmente, ele morreu após sofrer um infarto, em 6 de dezembro de 1976.

“Sabíamos de antemão que quando a família decidia esse doloroso passo, com 37 anos decorridos, eram remotas as possibilidades que nós tínhamos”, afirmou João Vicente Goulart, filho do ex-presidente. “Tínhamos a obrigação de tentar. Vamos continuar lutando. Sempre soubemos que tínhamos três meios de chegar à verdade.” Além da exumação e da perícia, a família tem ainda documentos e a investigação do Ministério Público Federal. “Existe um processo aberto”, lembra João Vicente, que ainda tem a expectativa de que agentes norte-americanos, supostamente envolvidos no caso, sejam ouvidos.

A perícia foi coordenada pela Polícia Federal, a pedido da Secretaria de Direitos Humanos e da Comissão Nacional da Verdade. “Os dados clínicos, as circunstâncias relatadas pela esposa, relativamente ao dia e ao momento da morte, são compatíveis com morte natural”, disse na apresentação dos resultados o perito criminal Jeferson Evangelista Corrêa, da PF. Segundo ele, o infarto agudo do miocárdio pode ter sido a causa da morte do ex-presidente, mas “também não é possível negar que a morte tenha decorrido de um envenenamento”.

Outro episódio rumoroso foi a morte de Juscelino Kubitschek, também em 1976, pouco meses antes de Jango. A CNV acolheu a versão oficial, que fala em acidente automobilístico. Para o colegiado, não há evidências de que JK e Geraldo Ribeiro, seu motorista, foram vítimas de homicídios. A conclusão é contestada pelas comissões da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de São Paulo. “A ditadura matou Juscelino. Essa história precisa ser contada”, diz o deputado estadual Adriano Diogo (PT), presidente da comissão da Assembleia, que leva o nome do ex-deputado Rubens Paiva.
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Olho no OlhoOlho no olho –
Durante audiência pública realizada em agosto de 2013 no Rio de Janeiro, um momento mais tenso: o advogado José Carlos Tórtima (em pé), torturado durante a ditadura, encara o major bombeiro Valter da Costa Jacarandá, apontado como torturador: “Nunca é tarde, major, para o senhor se conciliar com essa sociedade ultrajada por essas barbaridades que pessoas como o senhor cometeram”

Audiência CNVNada consta – Em fevereiro, a CNV encaminhou pedido ao Ministério da Defesa para que as Forças Armadas apurassem desvios de finalidade em sete instalações militares usadas como centros de tortura. Quatro meses depois, Aeronáutica, Exército e Marinha mandaram relatórios em que afirmavam não haver registro de anormalidade. Para Pedro Dallari, coordenador da agora extinta comissão, a resposta significou uma “briga com a verdade comprovada”

RiocentroCaso Riocentro – Um dos casos mais polêmicos ocorridos no regime de exceção foi o do Riocentro, no Rio de Janeiro, durante um show em 30 de abril de 1981, em comemoração ao Dia do Trabalho. Uma bomba matou um sargento e feriu um capitão, frustrando um atentado capaz de resultar em tragédia; havia 20 mil pessoas no centro de convenção. A Justiça chegou a aceitar a denúncia do Ministério Público Federal contra seis pessoas envolvidas no caso, mas a ação foi arquivada.

Paulo MalhaesMorte do delator – O coronel reformado Paulo Malhães, em depoimento à CNV em março, afirmou ter participado de torturas durante a ditadura e relatou envolvimento na prisão e desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva, morto sob tortura em 1971. Um mês depois, foi encontrado morto no sítio em que morava em Nova Iguaçu (RJ) 

Dops Rio de JaneiroCaso Paiva – O ex-deputado Rubens Paiva foi preso em janeiro de 1971, torturado e morto – provavelmente nas dependências do I Exército, no Rio, segundo a CNV. Até hoje, o seu corpo não apareceu. Em maio do ano passado, o Ministério Público Federal apresentou ação contra cinco militares, por homicídio e ocultação de cadáver. Recorreram, apelando para a Lei da Anistia. Em dezembro, o procurador-geral da República rejeitou a reclamação e pediu julgamento urgente do caso

Protesto UstraVai a julgamento? – O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra pode ir a julgamento. No início de dezembro, o Tribunal Regional Federal de São Paulo reverteu decisão de primeira instância, que havia extinguido o processo, e encaminhou o caso à Justiça Federal. Além de Ustra, ex-chefe do Doi-Codi, a ação envolve o ex-delegado Alcides Singillo. Eles são apontados como responsáveis pela morte do estudante de Medicina Hirohaki Torigoe, em 1972. Seu corpo nunca apareceu, e ocultação de cadáver é crime permanente e contra a humanidade – ou seja, imprescritível

Doi Codi Casa VovóCinquenta anos depois – O local abriga hoje uma delegacia. Mas durante a ditadura foi um dos mais “eficientes” centros de tortura. Ativistas calculam que passaram por lá até 8 mil presos políticos – e 50 foram mortos, incluindo o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho. A antiga sede do Doi-Codi de São Paulo, na rua Tutoia, foi palco de um ato em 31 de março, nos 50 anos do golpe. Ali se desenvolveu a “tecnologia da repressão”, disse Rosa Cardoso, ex-integrante da CNV. No final de 2014, o jornalista Marcelo Godoy lançou livro (A Casa da Vovó) em que detalha o funcionamento do Doi-Codi, a partir de depoimentos de ex-agentes 

Dops SPVisitas ao Dops – A comissão da Assembleia Legislativa de São Paulo descobriu documentos no Arquivo Público do Estado que registravam a entrada e saída de pessoas no Dops de São Paulo, entre 1971 e 1973. Em alguns casos, o visitante entrava à noite e só saía na manhã seguinte. Alguns assinavam como representantes da Fiesp e do consulado dos Estados Unidos. O prédio no centro de São Paulo, hoje sede do Memorial da Resistência, era um dos principais centros de tortura

Com projeto cancelado, índios temem que Petrobras descumpra acordo

terreno  povo Anacé



Os índios que tiveram terras desapropriadas para dar lugar à refinaria da Petrobras no litoral do Ceará vivem tempos de incerteza. Com o cancelamento do projeto, o povo Anacé teme que a estatal descarte também o apoio à transferência dos indígenas para uma nova reserva, algo acertado em troca da cessão da área que abrigaria o empreendimento.

Em 28 de janeiro, a Petrobras informou no balanço do terceiro trimestre que as duas refinarias Premium, no Ceará e Maranhão, não sairiam do papel. A empresa sofre uma grave crise e anunciou nesta sexta (6) seu novo presidente. Uma cidade no norte do Maranhão também conta os prejuízos.

O cancelamento dos empreendimentos gerou perdas de R$ 2,707 bilhões. Cerca de R$ 600 milhões já haviam sido investidos pela estatal em serviços como a construção de dutos e terraplanagem do terreno destinado à Premium II.

O povo Anacé afirma que concordou em deixar as áreas de Matões e Bolso, que ficam no limite entre as cidades de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, no litoral cearense, sob as seguintes condições: que o governo do estado construísse uma nova reserva para a comunidade, a União reconhecesse o território como indígena e a Petrobras investisse no processo de transferência para amenizar os impactos da saída do local onde viveram.

Outro ponto do acordo foi não remover o cemitério indígena do povoado.

O terreno onde ficará a nova morada dos Anacé fica dentro de Caucaia, a 13 km da atual. O governo diz que o valor das obras da reserva é de R$ 13.752.248,23 (proposta vencedora da licitação). “A reserva, que espalhada por uma área de 540 hectares, terá escola, posto de saúde, casas, sistemas de abastecimento de água e esgoto entre outras benfeitorias para abrigar as 163 famílias a serem realocadas”, diz nota. A previsão de conclusão das obras é março de 2015.

Terra “sufocada”
As terras indígenas de Bolso e Matões foram cortadas por cercas, gasodutos e rodovias que iriam abastecer a refinaria. Alessandra Maria, moradora de Matões, se diz “sufocada” na própria terra.

Os moradores têm de conviver com o trânsito e a violência. Heloísa Gustavo se queixa da movimentação de caminhões que fazem a “poeira subir” e causam doenças respiratórias nos filhos. “O sossego e a tranquilidade daqui não existem mais. Até violência, que não tinha por aqui, já virou comum”, afirma Alessandra Maria.

“O melhor é que a gente não tivesse que sair daqui, mas nosso terreno foi tão invadido, tão cortado por estradas, descaracterizado, que o melhor é ir para a nova reserva. A gente fica triste. É ruim ter que deixar aqui, mas já decidimos”, diz ela.

Falta de definição
A União já declarou a terra como área dos Anacé, e o governo do estado dá continuidade às obras da reserva, com construção de casas, posto de saúde e escola. Da Petrobras, eles seguem sem respostas, segundo os índios que conversaram com o G1 em visita à aldeia.

A companhia não deu posicionamento sobre a questão até a publicação desta reportagem.O governo cearense diz que “as obras da Reserva Anacé estão em andamento normal, já com a conclusão dos serviços de terraplenagem, instalação de rede de energia, vias de acesso, execução e delimitação dos lotes”.

São 134 famílias de Matões e 29 de Bolso já indenizadas esperando a conclusão da reserva para fazer a mudança. Parte do lugar onde moram daria lugar à Premium II.

O acordo feito pela Petrobras segundo os Anacé, era financiar a transferência da produção das famílias afetadas, como as hortaliças de Antônio Alexandre. “A nossa vida agora é de incerteza. A gente não sabe se vale a pena ficar aqui e expandir a produção, se aguarda para investir na reserva que está em construção ou se vão manter os acordos que tinham de ajudar a transferir nossa produção”.

Vários indígenas da região plantam hortaliças que abastecem mercados das cidades vizinhas. Com a desistência da Petrobras em investir na refinaria, eles não sabem como será a transferência do cultivo.

Reunião na segunda
Os indígenas têm reunião marcada com membros da Funai (Fundação Nacional do Índio) e da Petrobras nesta segunda (9), na sede do Ministério Público Federal no Ceará, em Fortaleza. No encontro, eles vão reivindicar do governo e da Petrobras o cumprimento dos acordos. Os líderes indígenas afirmam que ainda não foram notificados formalmente sobre o fim do empreendimento e só devem comentar oficialmente sobre o assunto após a reunião no Ministério Público.

Outra preocupação dos indígenas é a manutenção dos serviços de educaçao e sáude na futura reserva. Na quarta-feira (4), as 134 famílias da área participaram de uma campanha de vacinação contra o sarampo. A cidade de Caucaia registrou um caso da doença neste ano, o que colocou o Ceará em estado de atenção.

“O serviço de saúde é muito eficiente, atende quem é indígena e quem não é porque temos o apoio do governo municipal de Caucaia. O que não temos certeza, e também queremos garantir, é que isso tudo continue no terreno da União”, diz Alessandra Maria.

O governo estadual diz que um posto de saúde será construído na nova reserva.

Denúncias
O Ministério Público Federal apura denúncia de problemas na construção das casas previstas no projeto Taba dos Anacés. Lideranças indígenas informaram as que obras estariam causando danos ao meio ambiente, por conta de aterramento de uma lagoa.

Também relataram irregularidades em dimensões das residências, utilização de materiais de baixa qualidade nas obras e que equipamentos de seguranças não estariam sendo utilizados por trabalhadores contratados pela empreiteira.

O governo do estado nega as denúncias de problemas na construção e diz que a obra ”respeita todas as especificações do edital” e é fiscalizada por dois engenheiros da Secretaria Estadual da Infraestrutura.