quinta-feira, 25 de junho de 2020

Bolsonaro diz que não irá demarcar mais pedidos de terras quilombolas

Em um evento para empresários nesta terça-feira em Miami, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não irá demarcar mais terras quilombolas no país, apesar dos 900 pedidos que existem hoje prontos para serem assinados, assim como não ampliará as demarcações de terras indígenas.
Bolsonaro discursa a brasileiros em Miami
09/03/2020
REUTERS/Marco Bello
Bolsonaro discursa a brasileiros em Miami 09/03/2020 REUTERS/Marco Bello
Foto: Reuters
Segundo o presidente, as demarcações de terras quilombolas foram uma invenção de governos de esquerda para “atrapalhar o Brasil”.
“Os governos de esquerda descobriram outras formas de atrapalhar o Brasil, com comunidades quilombolas. Com todo respeito que temos àqueles que vieram para o Brasil e foram escravizados, abominamos a escravidão, graças a Deus não existe mais no Brasil. Mas essas demarcações de terras quilombolas, têm 900 na minha frente para serem demarcadas, não pode ocorrer. Somos um só povo, uma só raça”, afirmou.
O Brasil tem hoje 206 terras quilombolas tituladas pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), responsável pelas demarcações, e 977 processos de demarcação estão abertos apenas na região Nordeste.
Bolsonaro voltou a dizer que existe uma “indústria de demarcações” no Brasil e que não irá mais fazer demarcações também de terras indígenas.
“Nossa Amazônia sofreu de 1992 para cá uma verdadeira indústria da demarcação de terras indígenas. Hoje em dia o Brasil tem 14% de seu território demarcado em terras indígenas. Ninguém tem isso no mundo”, discursou. “Alguns países da Europa queriam que chegasse a ser 22%. Isso não será realizado, o Brasil mudou, a Amazônia é nossa e vamos lutar por ela.”
O que chama de excesso de áreas indígenas é uma das críticas constantes do presidente à situação da Amazônia. Recentemente, o governo enviou ao Congresso um projeto que abre as terras indígenas para exploração comercial de mineração, energia, petróleo e agricultura e pecuária.
Bolsonaro defende que há “milhares de riquezas” sob o solo nessas regiões e isso precisa ser explorado.

Por: Lisandra Paraguassu
MATÉRIA RETIRADA DO SITE TERRA
 
http://conaq.org.br/noticias/bolsonaro-diz-que-nao-ira-demarcar-mais-pedidos-de-terras-quilombolas/

terça-feira, 23 de junho de 2020

Com apenas 0,02% do orçamento da União, valor gasto pela Funai até junho é o mais baixo em dez anos

23/06/2020

Com apenas 0,02% do orçamento da União, valor gasto pela Funai até junho é o mais baixo em dez anos

Ações de demarcação e fiscalização de terras indígenas, muitas das quais invadidas durante a pandemia de covid-19, tiveram baixa execução orçamentária entre janeiro e maio de 2020

ATL 2018. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi
ATL 2018. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi

Por Renato Santana e Tiago Miotto, da Assessoria de Comunicação – Cimi

O orçamento total da Fundação Nacional do Índio (Funai) para este ano representa 0,02% do orçamento da União, que é de R$ 3,6 trilhões. Os recursos destinados ao órgão indigenista nunca foram suficientes para dar conta da demanda, e a cada ano são reduzidos ainda mais. Com a pandemia do novo coronavírus, a defasagem se somou à baixa execução orçamentária para aprofundar as dificuldades vividas pelos povos indígenas em seus territórios.
O valor gasto pela Funai nos cinco primeiros meses de 2020 é o mais baixo dos últimos dez anos, em valores reais: R$ 189 milhões, segundo os dados da plataforma Siga Brasil, do Senado. O orçamento autorizado para o órgão, neste ano, é de R$ 640 milhões para todas as suas despesas – de pagamento de pessoal e previdência a ações como demarcação de terras e proteção dos direitos indígenas.
Embora o percentual executado entre janeiro e maio esteja dentro da média para o período, o fato de que o valor gasto é o mais baixo em dez anos reflete o contínuo estrangulamento do órgão no último período. Essa situação pode ser verificada também em relação ao orçamento de uma das principais atribuições da Funai, que diz respeito à proteção e à regularização dos territórios dos povos indígenas do Brasil.
Até junho, a Funai gastou apenas R$ 2,1 milhões dos R$ 20,4 milhões reais destinados à regularização, demarcação e fiscalização de terras e proteção dos povos indígenas isolados, o que equivale a aproximadamente 10,5% do orçamento disponível.
Se mantido o ritmo verificado nos primeiros cinco meses do ano, até o final de 2020 o órgão terá executado cerca de um quarto do valor destinado para estas ações.
O mesmo ocorre com o orçamento para demarcação e regularização de terras indígenas. Além do menor montante dos últimos dez anos, com apenas R$ 7,1 milhões, a atividade teve a mais baixa execução entre janeiro e maio desde 2011: R$ 84,7 mil, o que representa inacreditáveis 1,18% do já pequeno valor autorizado.
“O problema não é técnico nem financeiro, ele é eminentemente político”
R$ 6 mil por ação de fiscalização
Diversos povos indígenas têm denunciado a presença de invasores em seus territórios e cobrado dos órgãos públicos medidas de fiscalização e coação contra os invasores. Sob a pandemia, a devastação ambiental e os conflitos ocasianados pela presença de madeireiros, garimpeiros e fazendeiros em terras indígenas somam-se ao risco real de contaminação das populações indígenas pelo coronavírus, como vêm denunciando os Yanomami.
Apesar das diversas denúncias feitas pelos povos indígenas e dos riscos ampliados pela covid-19, somente R$ 823 mil dos R$ 6,6 milhões autorizados para ações de fiscalização de terras indígenas foram gastos nos primeiros cinco meses do ano – pouco mais de 12% do baixo valor disponível.
Segundo a Funai, o montante executado até o início de junho resultou na “participação em 136 ações de fiscalização em 63 terras indígenas”. Isso significa que, em média, foram gastos cerca de R$ 6.050 por ação de fiscalização – ou R$ 13.060 por terra indígena fiscalizada.
“A baixa execução dessas ações, em específico, tem a ver com uma escolha política do governo, que tenta a todo custo acabar com as demarcações e para quem a fiscalização atrapalha”, avalia Leila Saraiva, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). “As ordens que vêm de cima na Funai são mesmo para que essa ação não saia do papel. Ao mesmo tempo, pouco pessoal e com pouca competência técnica também contribuem para que o pouco recurso alocado não seja utilizado”.
A Funai sempre foi um órgão com insuficiente capacidade orçamentária, explica Alessandra Cardoso, também assessora política do Inesc. “O problema não é técnico e também não é financeiro, ele é eminentemente político”, analisa.
A baixa execução orçamentária para ações de defesa dos territórios indígenas que se verifica nos anos de 2019 e 2020 podem ser melhor entendidas se avaliada em conjunto com outras iniciativas do órgão, como a Instrução Normativa 09/2020, que permite a certificação de propriedades particulares dentro de terras indígenas cuja demarcação não está concluída, aponta o secretário executivo do Cimi, Antônio Eduardo de Oliveira.
“O empenho da Funai na aplicação do seu orçamento, principalmente em 2019 e 2020, demonstra descaso e um total descompromisso para com os direitos indígenas no Brasil. Isso vem de acordo com uma postura política do atual governo de desrespeito, preconceito e que tem gerado violência contra os povos indígenas no Brasil e contra a Constituição brasileira”, afirma Oliveira.
“Faltam ações para a regularização dos territórios, que está completamente paralisada, apesar das imensas dificuldades que os povos estão tendo e da reivindicação que eles têm feito para que essas ações tenham continuidade. Na verdade, existem ações da Funai no rumo contrário, como a retirada dos servidores públicos das áreas não regularizadas, a desistência de ações judiciais, a Instrução Normativa 09. Ou seja, a Funai foi totalmente aparelhada pelo agronegócio, que está tomando seus setores estratégicos. O órgão passou a fazer a defesa do agronegócio predador e não a defesa dos direitos indígenas”, critica.


Combate à pandemia
Desde o início da pandemia, a covid-19 já matou 324 indígenas, contaminou 4185 e atingiu 110 povos, conforme levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e dados divulgados pela Sesai. Com 36 óbitos para cada cem mil pessoas, a doença já atingiu uma mortalidade 50% maior entre os povos indígenas do que entre a população em geral, onde a mortalidade é de 24 para cada cem mil. Um estudo da Fiocruz aponta que 48% dos indígenas que buscam atendimento hospitalar acabam morrendo – a maior proporção do país (Fiocruz).
Para o novo Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos dos Povos Indígenas, José Francisco Cali Tzay, o desafio de lidar com a pandemia entre os povos indígenas vai muito além de combater apenas a sua doença. Trata-se, sobretudo, de prevenir o que a potencializa.
“Os povos indígenas que perdem suas terras e meios de subsistência são empurrados para uma maior pobreza, taxas mais altas de desnutrição, falta de acesso à água potável e saneamento, assim como a exclusão de serviços médicos, que, por sua vez, os torna particularmente vulneráveis a doenças”, declarou.
Nos três meses decorridos desde a declaração da pandemia de covid-19 pela OMS, segundo dados da plataforma Siga Brasil, a Funai executou R$ 6,2 milhões do total de R$ 23 milhões de reais de que o órgão dispõe para ações de combate à pandemia e proteção dos povos indígenas.
Deste total, R$ 18,3 milhões vieram de suplementações orçamentárias determinadas pelas Medidas Provisórias (MPs) 942 e 965, editadas pelo governo federal  em abril e maio para estabelecer ações emergenciais para o combate ao coronavírus. Outros R$ 4,7 milhões foram deslocados pelo próprio órgão para medidas deste tipo.
Nestes três meses, apenas 27% do valor destinado a ações de enfrentamento de emergência ao coronavírus foram efetivamente gastos, especialmente em gêneros de alimentação (R$ 3 milhões), material de limpeza e produtos de higienização (R$ 570 mil) e pagamento de diárias (R$ 391 mil).
A Funai informa, por outro lado, que já investiu R$ 20,7 milhões em ações de combate à covid-19. Segundo o órgão, o valor teria sido gasto em ações como distribuição de materiais de higiene e limpeza e a entrega de cestas básicas, realizada em parceria com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
“Temos como desafio não apenas conter o máximo a chegada do vírus nas aldeias, mas também lidar com as invasões dos territórios, a falta de saneamento, acesso à água”
Aquisição de veículos
Chama atenção o fato de que o segundo montante mais alto do recurso recebido do governo federal para o combate à covid-19 entre os povos indígenas foi empenhado pela Funai na aquisição de veículos.
Ao todo, conforme os dados do Siga Brasil, R$ 2,7 milhões de reais oriundos do recurso disponibilizado ao órgão via medida provisória foram destinados à compra de veículos para as coordenações regionais nos estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Roraima, Bahia e Acre.
Em abril, o jornal O Estado de São Paulo noticiou a aquisição de oito picapes pela Funai, com preços individuais de R$ 131 e R$ 138 mil. Em nota, a Funai respondeu que os recursos do aporte orçamentário “serão utilizados para diferentes fins”, como a compra emergencial de alimentos, o deslocamento de equipes às Frentes de Proteção das terras indígenas e a “aquisição de veículos e embarcações” para transportar servidores e indígenas até aldeias e unidades de saúde.
Na avaliação de Leila Saraiva, esta medida pode ser entendida como um indício da situação de desmonte vivenciada pelo órgão. “A Funai precisa de pessoal qualificado para que esse recurso chegue na ponta, e também de infraestrutura”, aponta a assessora política do Inesc. “Como a Funai vai circular nas aldeias, se não tem carro? Acho que isso só demonstra que o órgão está sem equipamento de trabalho faz tempo”.
“Temos como desafio não apenas conter o máximo possível a chegada do vírus nas aldeias e comunidades, mas também lidar com as invasões dos territórios, a falta de saneamento, acesso à água. São problemas antigos, mas que nesse momento pioram muito o enfrentamento à covid-19”, diz Dinamã Tuxá, da coordenação executiva da Apib.

Fonte: https://cimi.org.br/2020/06/com-apenas-002-orcamento-uniao-valor-gasto-funai-junho-mais-baixo-dez-anos/

Entregadores por aplicativo se organizam em tempos de pandemia

Greve dos entregadores do dia 1º de julho deveria estar no calendário de toda a organização e pessoa que luta pela democracia, pela vida, pelos direitos sociais


Quando a pandemia se abateu sobre o Brasil, encontrou 50 milhões de pessoas que não estão protegidas por um contrato de trabalho, além das 13 milhões de brasileiros desempregados. Essa condição de informalidade – em que o trabalhador necessita ganhar sua renda diariamente e depende da circulação de pessoas –, somado a um governo negacionista e irresponsável na condução sanitária, resultou na atual situação: o Brasil está prestes a alcançar os Estados Unidos em número de mortes por Covid-19.
Tal situação não é propriamente novidade. O fator novo é que parte desse proletariado vulnerável, em sua maioria composta por jovens, encontrou maneiras de se organizar e resistir. Emerge do seu seio manifestações antifascistas nas ruas. E para dia primeiro de julho, um marco importante, eles anunciaram a primeira greve dos entregadores de aplicativos.
Eles reivindicam direitos trabalhistas e acesso a equipamentos de proteção individual para garantir mais segurança contra a Covid-19, segundo informa o Brasil 247. Os entregadores de aplicativo trabalham em média doze horas por dia, carregando aquelas caixas de alimentos nas costas, para ganhar cerca de R$ 900 por mês. “Menos do que um salário mínimo, e menos do que um salário digno”, como lembra um vídeo elaborado pelo Meteoro Brasil.
Expostos ao risco do vírus, eles são o símbolo do que os especialistas têm chamado de “uberização das relações de trabalho”. O mais assustador é que esse fenômeno já não é a exceção, mas sim a regra. Hoje, no Brasil, existem mais vagas de trabalho precarizadas e informais, do que cobertas minimamente por direitos trabalhistas.
Os aplicativos de entrega exploram o trabalho desses entregadores sem assumir nenhuma responsabilidade, pois não há contrato de trabalho firmado. Esses aplicativos faturam uma fortuna em cima de uma falcatrua que não é permitida a um empregador convencional: o dono de um restaurante precisa contratar funcionários e arcar com despesas trabalhistas, pagar impostos; o aplicativo, não.
É como se o aplicativo fosse uma empresa e o entregador, outra. O entregador é chamado cinicamente de “microempreendedor individual”. Em tese, ele “colabora” com o aplicativo. É um colaborador, um parceiro. Faz o serviço se quiser, a hora que quiser. Lindo, né? Só que não. A suposta liberdade de trabalhar quando quiser é mentirosa. Se o entregador não ralar 12 horas ou mais por dia, não vai ganhar nem perto de um salário mínimo. Como sustenta a sua família? Como isso pode ser liberdade?
Outra coisa que fica escondida nessa relação perversa entre aplicativo e entregador são as punições que o entregador pode sofrer e os critérios dessa repreensão. Existe o chamado “bloqueio branco”, que é quando o entregador sofre restrições que não podem ser explicadas por critérios técnicos. O entregador Paulo Lima, também conhecido como Galo, denunciou em entrevista à Rede Brasil Atual que, quando seu nome apareceu por ter se manifestado contra o aplicativo, ele foi bloqueado para fazer entregas. “O cadastro fica ativo, você fica online, mas não recebe nenhum pedido, nada chega para você”, relatou Paulo.
Este trabalhador, sem uma rede de proteção, como sindicato ou a justiça trabalhista, não tem nada a fazer, ninguém para socorrê-lo. Nem mesmo uma pessoa da empresa mostra a cara para lhe ouvir. Ele é atendido por robôs, que lhe dão respostas automáticas, e nenhuma solução. A distopia dos filmes de ficção chegou à realidade. As pessoas são descartáveis e dispensadas sem nenhuma possibilidade de proteção.
Essa situação estava mais ou menos invisível até agora, pois esses trabalhadores não dispõem das mesmas condições de outras categorias para se organizarem. Mas, em meio à pandemia, essa organização parece começar a surgir. A paralisação anunciada para o próximo dia 1º de julho é uma iniciativa desses entregadores para evidenciar que suas condições pioraram ainda mais com a chegada da pandemia.
Suas reivindicações pedem o básico: melhor remuneração, auxílio saúde, seguro em caso de roubo, equipamentos de proteção individual que reduzam sua exposição ao vírus. Essa iniciativa da paralisação lança luzes sobre um drama invisível. É uma oportunidade para evidenciar que existe, sim, a relação patrão (aplicativo) e empregado (entregadores) e cobrar responsabilidades por parte das empresas.
Nós estamos assistindo a mudanças que ocorrem em escala global, que vão transformando o trabalho informal numa regra. A chamada economia do bico, da informalidade, vai virando o novo normal. Qual a implicação disso? Como vai impactar outras categorias?
Ora, nas universidades, espaços de formação de mão de obra qualificada, está em debate justamente a desregulamentação, a flexibilização por meio da educação remota, vendida como a grande novidade. As disciplinas que falam do empreendedorismo, que cultuam o empresário de si, estão sendo aprovadas em todos os currículos, defendidas como o futuro. Que futuro é esse? Qual é a relação com esse presente sofrido já vivido pelos entregadores?
É por isso que a luta dos entregadores não é só deles. É a luta de quem precisa de seu trabalho para sobreviver. É a luta de quem tem pequenos negócios e assume responsabilidade por seus funcionários. É a luta de quem não quer que o País seja comandado por grandes oligopólios transnacionais sem rosto e agindo na sombra do mundo digital, enriquecendo à custa de trabalhadores precarizados. É a luta de quem quer emprego digno para todos e todas.
A greve dos entregadores do dia 1º de julho deveria estar no calendário de toda a organização e pessoa que luta pela democracia, pela vida, pelos direitos sociais. É o momento de exercer na prática o valor da solidariedade. Podemos contribuir com campanhas de conscientização nas redes e boicote aos aplicativos no dia 1º de julho. Sejamos todos entregadores. A unidade é bandeira da esperança e só é um valor que se concretiza na prática e na ação.

https://vermelho.org.br/2020/06/22/entregadores-por-aplicativo-se-organizam-em-tempos-de-pandemia/

MST oferece Escola Popular de Agroecologia para combate ao coronavirus em Itamaraju

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST 


Com 759  casos do Covid-19 (coronavirus) confirmados na Bahia, o prefeito Marcelo Angenica (PSDB), do município de Itamaraju se recusa aceitar do governo estadual 20 leitos de tratamento intensivo para a população para unidades na cidade em questão.
A decisão causou polêmica uma vez que contraria as indicações da OMS (OMS Organização Mundial da Saúde) que, além de prever o isolamento, salienta a importância dos estados e municípios aumentarem a capacidade hospitalar para que possam atender o maior número de pessoas possível.
Após essa noticia o MST no Extremo Sul da Bahia, começou a se organizar
para ajudar o município e contornar essa medida insana que coloca a vida das pessoas em risco, por isso, na tarde desta terça-feira hoje (14), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra colocou à disposição a Escola Popular de Agroecologia Egídio Brunetto, para ser usada como a sede de cuidados intensivos do covid-19 no município.
De acordo com MST a localização da EPAAEB é central e pode aliviar a rede hospitalar. O espaço dispõe de quartos, suítes, escritórios, secretária, cozinha e um amplo espaço arborizado.
“Nesse momento de crise, partindo desse pressuposto, o MST se posiciona em favor da vida e coloca nosso espaço à disposição do governo em favor do povo”, afirma Evanildo Costa, da direção nacional do MST.
Ainda segundo Costa, “esse momento é propicio para exercitar a solidariedade entre os povos, apesar de ser uma prática constante do MST, estamos desenvolvendo ações em toda a Bahia. Além disso, dia 17 de abril estamos organizando uma grande doação de alimentos por todo o estado, essa iniciativa também é parte da nossa jornada nacional de lutas, que esse ano está sendo ressignificada de acordo com a conjuntura. “Entendemos que disponibilizar a estrutura da EPAAEB é assumir a
responsabilidade social neste momento tão crítico. Estamos dispostos a
colaborar em todas as ações necessárias para a minimização da epidemia e suas consequências”, finalizou Costa.

*Editado por Maura Silva

https://mst.org.br/2020/04/15/mst-oferece-escola-popular-de-agroecologia-para-combate-ao-coronavirus-em-itamaraju/

Em Sergipe, Sem Terra realizam doações de alimentos para trabalhadores urbanos

Por Luiz Fernando
Da Página do MST



Na última sexta-feira (17), famílias do MST realizaram a doação de alimentos a trabalhadores urbanos da ocupação Vitoria da Ilha, no Município da Barra dos Coqueiros.
A ação que fez parte da Jornada Nacional de Lutas do MST, em memória aos Mártires de Eldorado dos Carajás foi realizada em um ato de entrega simbólico junto ao Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por direitos (MTD) e o Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (MOTU).
Diante das consequências causadas por causa da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), em Sergipe, aproximadamente oito toneladas de alimentos produzidos por famílias acampadas e assentadas estão sendo distribuídos em comunidades na grande Aracaju, para minimizar o sofrimento desses grupos acometidos pela falta de insumos. Atualmente, o estado soma 53 casos confirmados e quatro óbitos pela doença.
“Para nós do MOTU, que somos parceiros na luta, em momento de crise como esse, é importante exercitarmos a solidariedade de classe. Apoiamos a luta pela Reforma Agrária porque também queremos o direito a ter uma alimentação saudável e sem veneno”, afirmou Dalva da Graça, da coordenação do MTD/MOTU.
Já José Roberto, da coordenação estadual do MST, lembrou que as doações representam o resultado da luta daqueles que buscam o direito à terra e a uma alimentação saudável para todos.

“Aqui trouxemos o fruto da luta de cada companheiro acampado e assentado no estado de Sergipe”, destacou.
“Agradeço aos guerreiros e guerreiras de luta pelo que estão fazendo por nós. É com muita satisfação que nós recebemos esse alimentos, finalizou João Silva, trabalhador do MOTU.
Aproximadamente 120 famílias receberam cestas com alimentos para atravessar esse período de quarentena e isolamento social.

https://mst.org.br/2020/04/20/em-sergipe-sem-terra-realizam-doacoes-de-alimentos-para-trabalhadores-urbanos/

Na Bahia, MST doa 200 toneladas de alimentos durante Jornada de Lutas

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST


Seguiremos a nossa luta em defesa da Reforma Agrária Popular, da agricultura camponesa, da produção agroecológica e da democratização do acesso à alimentos saudáveis para a população brasileira.

Diante disso, o MST da Bahia realizou nesta sexta-feira (17), a doação de 200 toneladas de alimentos em todo estado como parte da Jornada Nacional de Lutas.

Mais de 40 tipos de alimentos, entre frutas, raízes, grãos, verduras, legumes, leite, queijo e polpas de frutas foram doados para as instituições sociais, famílias em vulnerabilidade econômica e hospitais.
Segundo Joelson Souza, do assentamento Luanda, no município de Itajuípe, a organização na comunidade para foi intensa, de muito
trabalho, mas também muito gratificante.
Ele que participou de todas as fases da organização afirmou ainda que é em ações como essa que é possível reafirmar a luta.

“Quando distribuímos as doações, naquele momento pude sentir o que o nosso povo está passando, por isso, precisamos permanecer na luta por uma sociedade mais justa e solidária”, afirmou.
Para Vó Tina, do orfanato Casa Criança, localizado no município do Prado, as doações chegaram no momento certo. Hoje a Casa Criança presta cuidados para 45 crianças de 0 a 17 anos.

“Para nós que vivemos de doação esse período está sendo muito
complicado, por isso, a minha gratidão aos Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra por esse ato de solidariedade em nossa mesa”, disse.

Além da doação de alimento, também aconteceu no município de Teixeira de Freitas uma doação de sangue, organizada pela juventude que atuou o em todo o processo de construção da campanha.
“Envolver a nossa juventude em atividades como essa desperta o espírito revolucionário de transformação”, afirmou Adelaide Purificação, do setor de Juventude do MST no Extremo Sul, que relatou ainda que a ideia da campanha de doação surgiu ao perceberem a necessidade que os bancos de sangue estão tendo durante a pandemia.
Ações
As ações forma parte da Jornada Nacional de Lutas do Movimento Sem Terra que esse ano lembrou 24 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, quando 19 trabalhadores Sem Terra foram
assassinados pela Polícia Militar do Pará.
Para Ivoneide Assunção, da direção estadual do MST, “nesse momento de crise, que estamos vivendo no Brasil, é mais do que importante prestar solidariedade à toda nossa população.
Todo ano temos o compromisso de marchar pedindo justiça tanto para esses crimes como para muitos outros que aconteceram e continuam acontecendo no Brasil, escolhemos esse dia para mostrar para o país inteiro os resultados da Reforma Agrária Popular, e ao mesmo tempo, denunciar esse desgoverno que vem criminalizando os movimentos sociais”, finalizou, Ivoneide.

https://mst.org.br/2020/04/18/na-bahia-mst-doa-200-toneladas-de-alimento-durante-jornada-de-lutas/

Leonardo Boff: “Coronavírus é uma resposta do planeta”

Por Nara Lacerda
Do Brasil de Fato


“Qual é a verdadeira alegria?”, a histórica pergunta feita a São Francisco de Assis por Frei Leão há oito séculos abriu o encontro virtual Terra, Teto e Trabalho, que teve participação do teólogo Leonardo Boff. Assista ao evento aqui.
Com foco em uma mudança global, o evento reforça o chamado do Papa Francisco pela busca de novas estruturas para a existência da humanidade, permeadas por solidariedade e cuidado com o planeta.
Na resposta de São Francisco, Boff encontra a força motora para essa mudança: “Se eu tiver paciência e não ficar perturbado, nisso está a verdadeira alegria”. Longe de ser uma afirmação passiva, a fala do santo católico aponta para uma mudança interna e individual, que busca a evolução coletiva. A reação não pode repetir as características e ter o mesmo caráter da opressão.
Segundo Leonardo Boff, a mudança precisa estar focada nas populações mais vulneráveis, nas garantias de terra, moradia, trabalho e – acima de tudo – solidariedade.  Ele ressaltou as tarefas que o Papa Francisco coloca para a juventude: primeiro a vida e não o mercado, foco na justiça social pela paz no mundo e cuidados com o meio ambiente. Ao citar a fala do próprio papa, o teólogo lembrou:
“Não esperem nada de cima, porque vem sempre mais do mesmo ou mais do pior. Sejam vocês os poetas, criadores do novo. Uma nova democracia participativa que venha de baixo e que inclua. Uma nova agroecologia, familiar, com participação de todos.”
O teólogo fez uma defesa aprofundada da chamada Economia de Francisco e Clara. O movimento atende ao chamado do Papa Francisco na encíclica Laudato si, que pede união global pelo cuidado com a terra e combate ao capitalismo, ao consumismo, à desigualdade e à destruição ambiental.
“Nunca ofendemos e agredimos tanto a mãe terra como nos últimos séculos. Agora chegou um ponto em que ela diz ‘Basta! Não aguento mais!’. E ela mandou os petardos dela. Contra atacou. O coronavírus é uma resposta à nossa agressão. O vírus é uma reação da natureza. Porque nós movemos durante séculos uma guerra contra ela. Nós não temos nenhuma chance de ganhar essa guerra. Nós podemos desaparecer, a terra vai continuar girando em volta do sol por milênios.”
Leonardo Boff relembra que o exemplo de São Francisco de Assis foi uma primeira resposta ao capitalismo na sua origem. Nas palavras do teólogo, o desafio não é pequeno, frente às necessidades de sobrevivência e de ganho do pão de cada dia. Ainda assim, ele afirma que o caminho precisa ser trilhado com uma mentalidade diferente. É preciso ser antissistema e anticapitalista nas ações individuais, com troca, diálogo, apoio aos movimentos sociais e ao desenvolvimento sustentável.

Edição: Douglas Matos/ BdF

Fonte: https://mst.org.br/2020/06/22/leonardo-boff-coronavirus-e-uma-resposta-do-planeta/