quinta-feira, 2 de outubro de 2014

MULHERES INDÍGENAS COMO PROTAGONISTAS NA LITERATURA

Mulheres indígenas contam sua história em livro.

Mulheres indígenas de oito etnias da região Nordeste acabam de lançar o livro "Pelas Mulheres Indígenas", que relata suas vidas, suas dificuldades, sonhos e expectativas. A publicação também traz informações sobre como prevenir e lidar com casos de violência conjugal. 
O livro foi desenvolvido nas oficinas de literatura ministradas pela ONG Thyndêuá, em Ilhéus (BA), dentro das ações de um projeto de formação continuada, com as mulheres indígenas, sobre seus direitos. Uma das metas desse trabalho é a formação de 16 agentes multiplicadoras de transformações sociais. 
Os povos indígenas do Nordeste que participam deste projeto da ONG Thyndêuá são: Tupinambá, Pataxó Hãhãhã, Pataxó Dois Irmãos e Pataxó Barra Velha, da Bahia; Xokó, de Sergipe; Karirixocó e Karapotó Plakiô, de Alagoas; e Pankararu, de Pernambuco. 
Segundo os organizadores do projeto, a expectativa é a de alcançar cerca de 8 mil mulheres indígenas e suas famílias, ao fim de um ano e meio de atividades. O projeto dispõe de um site, formado pela rede multiétnica Comunidade Colaborativa de Aprendizado Pelas Mulheres Indígenas. 
O trabalho contou com a participação da Rede dos Pontos de Cultura Indígenas do Nordeste e do Pontão Esperança da Terra, iniciativas apoiadas pelo Ministério da Cultura (MinC), e também com as parcerias das secretarias de Políticas Públicas para Mulheres da Presidência da República (SEPPIR/PR) e de Políticas Públicas para Mulheres do estado da Bahia. 
Durante o lançamento do livro, realizado no sábado (27) na aldeia Itapoã, em Ilhéus, foram realizadas três rodas de conversas para mulheres, ministradas pela equipe interdisciplinar da Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres do estado da Bahia, com a presença de seis escritoras indígenas.
O lançamento integrou as ações da XIV Caminhada Tupinambá em memória dos mártires do rio Cururupe, massacrados pelos colonizadores portugueses, no ano de 1559, nas margens do rio, em terras que hoje pertencem ao município baiano de Ilhéus.

LUTA FEMINISTA PELA TERRA E POR LIBERDADE.

Encontro visa o empoderamento e autonomia das mulheres Sem Terra

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Fotos: 
 Kleidir Costa

“O que eu mais quero é trabalhar, me organizar e conseguir garantir o pão de cada dia para meus filhos e para mim”, desabafa a trabalhadora rural Maria do Socorro (52), ao participar de uma das oficinas do projeto de Capacitação de Mulheres Assentadas e Acampadas para o Acesso a Políticas Públicas da Bahia.

As oficinas possuem o objetivo de garantir o debate em torno das relações de gênero e a organicidade coletiva de trabalhadoras rurais para terem acesso as diversas políticas públicas implementadas a nível nacional e estadual.

De acordo com Elizabeth Rocha, da direção estadual do MST, “é importante construir um espaço de organização das mulheres, devido ao processo histórico de negação do protagonismo na construção da sociedade. 

Para ela, as mulheres, em especial do campo, “sempre foram invisibilizadas na constituição e direção das lutas e instituições, com um papel secundário nestes espaços”.

Pensando nisto, fortalecer o processo produtivo e econômico das mulheres que estão assentadas ou acampadas é dado pelo MST como uma proposta de enfrentamento a violência e a construção da autonomia feminina nos diversos campos sociais.

As oficinas estão acontecendo em oito regiões da Bahia, iniciando-se neste segundo semestre e com a perspectiva de se encerrar em novembro, com um grande encontro reunindo cerca de 1.000 trabalhadoras rurais.

Metodologia

A princípio todas as oficinas foram pensadas para envolver 400 mulheres lideranças, acampadas e assentadas de todo o estado. Para isso, é realizado previamente um momento de mobilização e planejamento das ações pedagógicas.

Um dos principais objetivos é trabalhar o processo de formação vinculada à ação por meio de um projeto de capacitação continuada subdivididos em 17 núcleos de formação nas regionais de atuação do MST.

Os núcleos de formação (NF) possuem entre 20 e 30 mulheres, e as oficinas possuem a duração de três dias cada.

Estão sendo realizadas também atividades com as crianças, garantindo assim que todas as mães possam participar integralmente.

Temáticas

Os temas abordados procuram dialogar com a história da mulher na sociedade, o enfrentamento a violência e o protagonismo feminino na luta de classe, tendo como base suas diversas conquistas. 

Assim, são três eixos centrais que norteiam os estudos das Sem Terra:

Primeiro, a história e o papel da mulher na sociedade, buscando compreender como a mulher foi sendo formada socialmente, o contexto de formação das classes sociais, sua função, sexualidade e reprodução.

Em seguida, a organização política e as mulheres, tendo como base o seu papel na luta de classes, a luta por direitos, sua organização social e política.

Por ultimo, as políticas públicas, enfatizando a legislação e as políticas específicas para as mulheres, assim como seu acesso e a construção de sua autonomia.

Para Elizabeth, “estes espaços buscam promover nas mulheres o perfil de lideranças sociais no seu espaço, por trazer informações e formação para constituição de ações de empoderamento e autonomia dentro dos assentamentos e acampamentos com acesso as políticas públicas. Queremos que esta ação possa transformar as realidades”, afirma.

Ao participar da oficina, a assentada Maria Dalva conta que a vida para as mulheres nunca foi fácil, “e a história serve como norte para observarmos isso. Eu, por exemplo, sou casada, tenho cinco filhos e sempre achei que a minha obrigação é cuidar da casa, dos filhos e do meu marido. Sinceramente, preciso cumprir o meu papel quanto mulher e trabalhadora Sem Terra”.

Já Salém Batista, também assentada, acredita que é possível realizar mudanças, mas para isso as mulheres precisam se unir e lutar contra qualquer tipo de violência e fazer do trabalho o alicerce de sua autonomia.

Este projeto de capacitação e formação está sendo construído em parceria com a Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Social, Cultural e Ambiental (Fundesf), Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM).

Até então já foram realizadas 12 oficinas em todo o estado, faltando apenas construir mais cinco espaços de formação e capacitação.
 

A INTOLERÂNCIA FAZENDO VÍTIMAS.

PAÍS REGISTROU 218 ASSASSINATOS DE HOMOSSEXUAIS ESTE ANO.

Enquanto no Chile, onde a população total é quase 18 milhões de pessoas, ocorreram quatro assassinatos de transexuais, travestis, lésbicas, bissexuais ou gays (LGBT) no ano passado, no Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, o número foi 313 homicídios, segundo levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). “Comparei esses índices e vi que a chance de um LGBT ser assassinado aqui é 80 vezes maior”, explicou o antropólogo Luiz Mott, um dos pioneiros do movimento no país.

Mott é o responsável pela pesquisa feita há mais de dez anos e baseada em notícias divulgadas pela imprensa e denúncias coletadas principalmente em cidades do interior do país, onde as estruturas de garantia de direitos humanos é mais precária. Segundo ele, 44% dos casos de homofobia letal identificados em todo o mundo ocorrem em território brasileiro.

Só no último mês foram registradas 16 ocorrências. De janeiro até hoje, foram 218 mortes de LGBT no país, dos quais 71 por tiros, 70 a facadas, 21 espancados, 20 por asfixia, 11 a pauladas e seis apedrejados, entre outros.

Apesar dos números apontarem que a maior parte dos casos envolvem gays (124), Mott explicou que os transexuais são, proporcionalmente, os mais afetados pelos crimes. “Enquanto os gays representam 10% da população, cerca de 20 milhões, as travestis não chegam a 1 milhão e têm número de assassinatos quase igual ao de gays”. Este ano, 84 travestis foram assassinadas, número bem superior ao de lésbicas (cinco) e bissexuais (dois).

 “Nunca se matou tantos gays e, sobretudo, lésbicas, que teve um número muito maior de assassinatos do que em anos anteriores”, lamentou Mott. Ele acredita que a única forma de redução de ocorrências fatais seria a criminalização da homofobia. Luiz Mott ressaltou que há um Brasil cor-de-rosa das paradas gays e um Brasil vermelho “que pode ser representado pelos crimes e por amostras dadas por pessoas públicas como [o candidato à Presidência da República] Levy Fidelix (PRTB). Se ele tivesse falado metade do que disse sobre negros já estaria preso”, destacou.

Fidelix declarou em um debate na TV Record, no domingo (28), que homossexuais precisam de atendimento psicológico e comparou a homossexualidade à pedofilia. Desde que a declaração foi feita, quase 3 mil denúncias de violação dos direitos da populac a o de transexuais, travestis, lésbicas, bissexuais e gays foram registradas pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) por meio de números como o Disque 100 e o Ligue 180, segundo assessoria de imprensa do órgão. A reportagem tentou contato com os responsáveis pela estatística, mas até o fechamento da matéria não foram indicados nomes que pudessem comentar os números e por que foi feita a relação entre a declaração do candidato e o volume de denúncias.

No Congresso Nacional, tramita, desde 2006 um projeto que altera a Lei 7.716, de janeiro de 1989, que trata dos crimes de preconceito de raça ou de cor, criminalizando a homofobia e incluindo a prática na lei. O texto está na Comissão de Constituição e Justiça do Senado desde o final do ano passado aguardando votação.

No cenário internacional, o Brasil liderou, ao lado de Uruguai, Chile e Colômbia, uma resolução que foi aprovada na semana passada pela Organização das Nações Unidas (ONU), estabelecendo que a entidade apresente um estudo sobre as violações contra homossexuais ocorridas no mundo. Essa resolução é um segmento de uma outra apresentada em 2011 sobre o mesmo tema”, explicou Camila Asano, coordenadora de Política Externa da organização não governamental Conectas Direitos Humanos, que desde janeiro de 2006, tem papel consultivo na organização.

Segundo ela, depois da apresentação do primeiro estudo sobre casos de violência, elaborado pela ONU, o tema perdeu espaço nas discussões da organização. Para Camila Asano, a nova resolução é uma maneira de assegurar as conquistas de três anos atrás. “Os grandes feitos dessa resolução, que o Brasil foi líder junto com a África do Sul, foram reconhecer como direito humano a orientação sexual e a identidade de gênero e de condenar a violência e a discriminação”, explicou.

A coordenadora da Conectas, que acompanhou as negociações na reunião deste ano, em Genebra, lembrou que a diplomacia brasileira precisou redobrar esforços para aprovar o texto que foi aprovado num placar de 25 votos favoráveis, 14 contrários e sete abstenções. “A resolução acabou gerando uma ira muito forte de países conservadores, como alguns africanos que criminalizam os homossexuais, como os islâmicos. O Brasil teve que usar de toda sua capacidade e vantagem diplomática para fazer a negociação e fazer com que o texto fosse aprovado. É uma vitória histórica”, disse.