Senador do PT rebate declaração da ministra da Agricultura, que afirmou que não existe mais latifúndio no Brasil; "Infelizmente, a declaração da ministra Kátia Abreu não condiz com a realidade brasileira, que possui essa estrutura de propriedade da terra altamente concentrada", disse Lindberg Farias; fala da ministra causou repercussões nos movimentos sociais
O senador Lindebergh Farias (PT-RJ) contestou, com um texto publicado em sua página no Facebook, a declaração da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, de que não existe mais latifúndio no Brasil. A fala causou grande repercussão entre os movimentos sociais. "Infelizmente, a declaração da ministra Kátia Abreu não condiz com a realidade brasileira", escreve o petista.
"Latifúndio existe sim. E não só existe como está cada dia mais
improdutivo: 71% das 'grandes propriedades' estão abaixo da
produtividade média, descumprindo sua função social de viabilizar
direitos como alimentação e moradia", acrescenta. O parlamentar defende
que é preciso "fazer essa reforma agrária no Brasil avançar", "apesar de
Kátia Abreu". Leia a íntegra:
Não existe mais latifúndio no Brasil?
São chocantes os dados do Incra, que mostram a evolução da
concentração da propriedade da terra no Brasil. De acordo com o
cadastro, 2,5% de proprietários concentram 55% do total de terras do
país!
Infelizmente, a declaração da ministra Kátia Abreu não condiz com a
realidade brasileira, que possui essa estrutura de propriedade da terra
altamente concentrada. Latifúndio existe sim. E não só existe como está
cada dia mais improdutivo: 71% das "grandes propriedades" estão abaixo
da produtividade média, descumprindo sua função social de viabilizar
direitos como alimentação e moradia.
Há muita terra ociosa ou com baixíssimo grau de utilização, que
poderia atender à demanda dos trabalhadores sem terra. Não é favor. É
lei. E a lei diz que o uso da propriedade privada da terra é
condicionado ao bem-estar coletivo, sendo que as terras que não cumprem
sua função social devem ser destinadas para a Reforma Agrária. Dizer
hoje que não existe latifúndio, tratá-lo como ficção, é uma jogada
política e ideológica: ora, se não existe latifúndio (lembrando que 71%
deles não alcançaram patamares mínimos de produtividade), não precisamos
de reforma agrária.
Se queremos falar de justiça social social neste país, é fundamental
garantir o bem-estar do trabalhador rural, do camponês e inseri-lo no
centro do desenvolvimento econômico. A agricultura camponesa hoje
emprega 74% da mão-de-obra no campo, enquanto o agronegócio, apenas 26%.
Paradoxalmente, o agronegócio detém 76% das terras. Precisamos
equilibrar esse jogo.
Além disso, somam-se a essa concentração clássica e histórica da
propriedade da terra no Brasil (favorecida pela completa falta de
tributação fundiária) as fragilidades cadastrais e a apropriação ilegal.
Apesar dos esforços de regularização fundiária pelo governo federal, o
que se vê ainda são situações de apropriação ilegal de terras devolutas
ou mesmo já arrecadadas, e irregularidades no Cadastro, que permitem
que, em alguns casos, a área dos imóveis cadastrados supere a própria
área total do estado.
Enfrentar as desigualdades em nosso país passa pela democratização da
terra e recursos naturais. Negar a existência do problema da sua posse e
uso no Brasil é o mesmo que não trabalhar por mais igualdade e justiça
social.
Agora, apesar de Kátia Abreu, nós vamos fazer essa reforma agrária no
Brasil avançar. Por causa da luta determinada das entidades, do MST -
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, da CONTAG e também porque podemos
contar com o comprometimento do ministro Patrus Ananias, que tem força
política para fazer essa pauta prosperar.
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