A importância de processos participativos e integrados de gestão ambiental.

A Convenção da Biodiversidade, aprovada na Conferência das Nações
Unidas na Rio 92, reconhece o papel fundamental das comunidades
tradicionais para a preservação e conservação dos ecossistemas.
Comunidades indígenas, quilombolas, pescadores artesanais,
extrativistas, dentre outros, são grupos que atuam de forma concreta na
construção de um modelo sustentável de desenvolvimento, apesar de muitas
vezes serem excluídos socialmente ou dos processos deliberativos.
A construção de políticas públicas transformadoras, destinadas à
conservação do patrimônio ecológico, deve estabelecer relação direta com
as comunidades que dependem e se relacionam com determinados
ecossistemas no seu dia a dia.
Os pescadores artesanais, por exemplo, não podem garantir a sua plena
subsistência frente ao crescente processo de industrialização da pesca.
Os extrativistas dependem da manutenção das florestas para a colheita
da sua base produtiva. Já as comunidades indígenas e os quilombolas
dependem da preservação da natureza como elemento de proteção dos seus
próprios valores culturais.
Algumas políticas públicas de sucesso na conservação da
biodiversidade relacionam-se diretamente pela integração de vários
setores, incluindo as comunidades tradicionais.
Um exemplo é o “Projeto Tamar”, patrocinado pela Petrobrás,
referência internacional no resgate da biodiversidade marinha, e que
integra o trabalho articulado de universidades, governos, centros de
pesquisas, entidades da sociedade civil, e de pescadores.
Hoje são os próprios pescadores que fiscalizam a auxiliam na
preservação das tartarugas marinhas, libertando-as de redes de pesca, ou
protegendo locais de desova, o que acaba resultando na efetividade do
projeto.
Outro trabalho importante é a ação do Ministério do Desenvolvimento
Agrário para o incentivo das ações das comunidades extrativistas da
Amazônia, especialmente dos coletores de castanha, em projeto que
integra a Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do
Trabalho e Emprego, e o próprio Ministério do Meio Ambiente.
Um dos instrumentos que pode ser utilizado para fortalecer a ação conservacionista das comunidades tradicionais é o “pagamento pelos serviços ambientais”, medida esta que ainda é um tabu tanto entre os órgãos governamentais, como entre as empresas privadas.
Chama atenção que os próprios processos de licenciamento
ambiental acabam desconsiderando o pagamento dos serviços prestados
pelas comunidades tradicionais nas compensações ambientais, tema este
que merece uma forte revisão em todos os órgãos ambientais, notadamente junto ao IBAMA e órgãos estaduais.
Se todo o impacto ambiental é, em princípio, local, não se justifica
que os recursos das compensações ambientais sejam aplicados fora do
território dos municípios onde são desenvolvidos os empreendimentos que,
muitas vezes, acabam sendo contemplados apenas com a externalização do
impacto dos empreendimentos.
Assim, é importante revisar muitas políticas ambientais
conservacionistas fortalecendo a relação com as comunidades
tradicionais, redirecionando as prioridades das compensações ambientais,
e fomentando o pagamento dos serviços ambientais prestados por estes
grupos.
Pagar os membros das comunidades tradicionais pelos
serviços que prestam ao ambiente é uma medida de reconhecimento político
da relevância da atuação destes agentes de conservação da natureza,
assim como já ocorre com agentes urbanos em muitas cidades, notadamente
os catadores de material reciclável.
Trata-se de um investimento essencial para a construção de uma
política conservacionista concreta, pois nem sempre a priorização das
unidades de proteção integral é o melhor caminho.
Particularmente, entendo que a participação social
efetiva da sociedade é muito mais importante para a construção de
políticas ambientais concretas do que o mero controle,
motivo pelo qual entendo como fundamental aproximar o licenciamento
ambiental e outras medidas de gestão ambiental das comunidades que são
afetadas diretamente pelo projeto.
As decisões realizadas à distância, em conselhos e câmaras, como
ocorre hoje com as compensações ambientais, tem resultados em diversas
formas de injustiça para com as comunidades que são mais diretamente
impactadas e, nem sempre, considera o efeito das atividades econômicas
sobre as comunidades tradicionais, motivo pelo qual o modelo deve ser
revisto.
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