Moradores da serra relembram que foram obrigados a entregar suas casas aos militares.
Na semana em que foi entregue o relatório final da Comissão Nacional da
Verdade, que investigou por quase três anos os crimes cometidos durante
a ditadura militar no Brasil, uma história mineira, escondida pelo
passar dos anos, é finalmente revelada. Há cerca de 40 anos, a Serra da
Canastra, localizada no Centro-sul de Minas, foi cenário de um dos
episódios mais violentos protagonizados pelo regime que dominou o país
entre 1964 e 1985. Apesar de pouco conhecido, o relato de
desapropriações forçadas, espancamentos e tortura segue vivo na memória
de quem foi vítima.
Por estar em uma localização estratégica, logo acima da represa de
Furnas, e alvo, segundo o governo militar, de ameaças vindas de grupos
de guerrilha da região, a ditadura logo viu a necessidade de criar um
dispositivo de segurança: o Parque Nacional da Serra da Canastra.
Cenário de dezenas de cachoeiras e de uma fauna única, ali está a
nascente do rio São Francisco.
As mais de 170 famílias que moravam na região, distribuídas em pequenas
vilas, se transformaram em obstáculo para os planos do governo militar.
Assim, trabalhadores rurais, fazendeiros, indígenas e operários foram
obrigados, a entregar seus terrenos.
Amparado por uma decisão de 1974, que declarou a área do parque como de
“interesse social”, coube ao Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), ligado ao Ministério da Agricultura, executar
as desapropriações.
Nilta Sobral, 58, conta que sua família foi a primeira a abandonar o
local. “Eles chegavam, mostravam os documentos e já saíam mandando a
gente se mudar. Ficamos com medo e nos mudamos, levando só as roupas e
alguns pertences. A casa, com todos os móveis, foi logo destruída” diz.
Espancamentos.
Emocionada, Nilta conta que sua história, apesar de dramática, é uma das
menos violentas. “Eles batiam sem dó em quem não atendesse o que eles
mandavam. Atiravam nos porcos, colocavam fogo nas plantações, destruíam
os baldes de leite e o queijo produzido nas fazendas. Um horror”
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