Há muito que a juvenil democracia brasileira devia à sociedade o
esclarecimento das atrocidades externadas através de desaparecimentos,
torturas e assassinatos de pessoas que lutaram para a implementação de
direitos humanos e civis e de liberdade de pensamento. De se registrar
que muitos países da América Latina já haviam tomado tal iniciativa,
sendo exemplo maior a Argentina, que aplicou duras penas aos partícipes
de seu regime de exceção. Nada tão cruel quanto ter um parente
desaparecido e sequer perpassar pelo processo de luto, que implica nos
antropológicos atos do velar e do sepultar. Ou ter que engolir que o
parente se suicidou na prisão, quando na verdade tudo não passou de
simulação de cruel assassinato. Com efeito, a palavra que mais se há de
pronunciar sobre tal período não há de ser outra senão: nunca mais!
Daí
gerarem arrepios propostas ou expectativas inflamadas de quererem para o
Brasil o retorno do regime militar, que chaga tão grande deixou em
nossa História e em nossa gente, ainda mais quando a Constituição,
expressão fidedigna da vontade do povo, destina atividade específica às
forças armadas, de proteção do território brasileiro, tendo como chefe
maior a presidente da República. Se nos valermos de historiadores do
porte de Sergio Buarque de Holanda, Boris Fausto e José Murilo de
Carvalho, veremos que a História é um constante processo de aprendizado e
aprimoramento das sociedades, que devem tanto quanto possível valer-se
dos fatos sociais como mecanismos de aperfeiçoamento para que não sejam
cometidos os mesmos erros de outrora e assim venha a sociedade a se
desenvolver em prol de seu povo. Os crimes de lesa-pátria são
imprescritíveis.
Os julgamentos hão de acontecer. Os que
mataram e torturaram hão de ser duramente punidos. O Brasil precisa
virar essa página com galhardia e fortaleza. Nada nem ninguém pode
tangenciar a dignidade da pessoa humana e quedar-se impune!
Emmanuel Furtado
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