terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Comissão da Verdade

Há muito que a juvenil democracia brasileira devia à sociedade o esclarecimento das atrocidades externadas através de desaparecimentos, torturas e assassinatos de pessoas que lutaram para a implementação de direitos humanos e civis e de liberdade de pensamento. De se registrar que muitos países da América Latina já haviam tomado tal iniciativa, sendo exemplo maior a Argentina, que aplicou duras penas aos partícipes de seu regime de exceção. Nada tão cruel quanto ter um parente desaparecido e sequer perpassar pelo processo de luto, que implica nos antropológicos atos do velar e do sepultar. Ou ter que engolir que o parente se suicidou na prisão, quando na verdade tudo não passou de simulação de cruel assassinato. Com efeito, a palavra que mais se há de pronunciar sobre tal período não há de ser outra senão: nunca mais!

Daí gerarem arrepios propostas ou expectativas inflamadas de quererem para o Brasil o retorno do regime militar, que chaga tão grande deixou em nossa História e em nossa gente, ainda mais quando a Constituição, expressão fidedigna da vontade do povo, destina atividade específica às forças armadas, de proteção do território brasileiro, tendo como chefe maior a presidente da República. Se nos valermos de historiadores do porte de Sergio Buarque de Holanda, Boris Fausto e José Murilo de Carvalho, veremos que a História é um constante processo de aprendizado e aprimoramento das sociedades, que devem tanto quanto possível valer-se dos fatos sociais como mecanismos de aperfeiçoamento para que não sejam cometidos os mesmos erros de outrora e assim venha a sociedade a se desenvolver em prol de seu povo. Os crimes de lesa-pátria são imprescritíveis.

Os julgamentos hão de acontecer. Os que mataram e torturaram hão de ser duramente punidos. O Brasil precisa virar essa página com galhardia e fortaleza. Nada nem ninguém pode tangenciar a dignidade da pessoa humana e quedar-se impune!


Emmanuel Furtado

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