Projetos como terceirização e redução da maioridade penal estão entre as pautas mais polêmicas a serem combatidas nas ruas pela juventude
São Paulo – Contra a perda de direitos, um grupo de jovens dos movimentos sociais iniciou ontem (11), em São Paulo, uma discussão sobre a conjuntura política. A iniciativa promovida pelo Coletivo Nacional de Juventude da CUT conta com a participação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da União Nacional dos Estudantes (UNE), Levante Popular da Juventude, Fora do Eixo e Marcha Mundial das Mulheres, entre outros movimentos. Na pauta, dois temas da política nacional que atingem diretamente os jovens: a terceirização irrestrita da mão de obra nas empresas e a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Para
o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre, a atual conjuntura combina uma
crise política provocada e uma ameaça da direita contra a democracia.
Com a piora no ambiente econômico, os jovens são os primeiros a serem
atingidos pelo desemprego.
"Essa
conjuntura que estamos vivendo tem toda a justificativa para que a
juventude se envolva. Nós queremos um país com democracia, com justiça
social, com liberdade. Esse é um tema que tem tudo a ver com a nossa
juventude”, afirma Nobre.
Raul Amorim, do MST,
afirmou que o momento é de dialogar, conscientizar e mobilizar: "É um
momento de debater quais são os desafios. O que esses jovens, a classe
trabalhadora, acham que deve ser mudado, no Brasil". Para garantir êxito
das bandeiras históricas da classe trabalhadora, Raul defende, ainda, a
criação de uma frente ampla de esquerda.
"A
direita, representada no Congresso, tem colocado pautas conservadoras. O
PL 4.330, que é o PL da Terceirização, vem dessa agenda, e nós, da
juventude, temos que combater. Os jovens são um dos mais afetados por
essa agenda", ressalta Laryssa Sampaio, do Levante.
Frente à ofensiva conservadora no Congresso, o secretário de
juventude da CUT, Alfredo Santos Jr., defende a unidade entre os
movimentos sociais, sindicais e estudantis. "As nossas bandeiras, mais
de esquerda, mais trabalhistas, bandeiras de direitos sociais ficam
encalhadas no Congresso Nacional. Então, esse é o momento de ter muita
unidade."
'Pacto das Quebradas'
Cláudio Aparecida da Silva, o Claudinho, é o mais novo coordenador de
políticas para a juventude da prefeitura de São Paulo. Negro, de origem
humilde, Claudinho assumiu o cargo com amplo apoio dos movimentos das
periferias paulistanas.
Morador da favela Monte Azul, na zona sul de São Paulo, Claudinho
coordena uma equipe com a missão de pautar as políticas públicas da
prefeitura para os jovens, principalmente das periferias paulistanas.
"A gente precisa fazer um pacto, o 'pacto das quebradas', em
que a vida seja fundamental, um pacto onde a promoção dos direitos
humanos esteja no foco", defende o novo secretário.
Claudinho pretende inverter a ordem das prioridades, na cidade de São
Paulo. Para ele, a periferia precisa sair das bordas para estar no
centro das atenções e das ações.
"Atuar pelo fim da mortalidade (com violência) da juventude negra e
periférica, que é uma coisa gritante, fortalecer os coletivos juvenis da
cidade, colaborar para que aquele que não estão organizados se
organizarem", é a pauta defendida por Claudinho.
São Mateus contra a redução
Na última sexta-feira (8), em São Mateus, zona leste da capital
paulista, várias organizações sociais levaram para as ruas mais de mil
pessoas, em uma ampla mobilização contra a PEC 171, que propõe a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.
Com cartazes nas mãos, gritos de guerra e batuques, crianças,
jovens, adultos e até idosos fecharam o trânsito de uma das principais
avenidas de São Mateus.
São Mateus é uma das regiões mais carentes e vulneráveis de São
Paulo, com cerca de 600 mil habitantes, dentre eles, 500 mil crianças e
adolescentes. Para os manifestantes, a redução da maioridade penal teria um duro impacto na vida desses milhares de jovens.
"A sociedade já estigmatiza o jovem de periferia,
quem dirá o jovem que passa pelo sistema prisional. Todas as portas, com
certeza, vão se fechando", afirmou Wellington Comunista, educador, que
esteve presente na manifestação.
O presidente do Fórum da Criança e Adolescente de São Mateus, Rafael
Martins dos Santos, ressalta que a prisão não vai evitar que o jovem vá
para o crime. "Dentro da cadeia, o adolescente acaba fazendo, na
verdade, a faculdade do crime. Ele não se regenera, ele não se
ressocializa."
O coordenador de políticas para crianças e adolescente da secretaria
de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo, Flariston Francisco da
Silva, faz coro. Para ele, a discussão sobre a violência entre crianças e
adolescentes precisa ser aprofundada, pois, até agora, vem sendo
tratada de maneira sensacionalista. "Quando essas causas não são
aprofundadas, predomina o senso comum, ou seja, predomina o emocional, e
a sociedade começa a responder, como se rebaixar a maioridade penal
fosse, de fato, solução para o problema da violência."
Após a marcha, o Fórum da Criança e do Adolescente divulgou uma
carta aberta, que será encaminhada as autoridades nos próximos dias,
assinada por diversas organizações e movimentos sociais de São Mateus,
firmando posição contrária a redução da maioridade penal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário