Eliminar o termo “revolução” das publicações oficiais em alusão ao
golpe militar de 1964, incluir a luta pela redemocratização no currículo
escolar, criar espaços culturais nos “centros de tortura e morte” que
funcionaram em Curitiba e renomear logradouros designados com figuras
ligadas à violação dos Direitos Humanos. Essas foram as quatro
recomendações feitas pela Comissão Estadual da Verdade à Câmara
Municipal, nesta quarta-feira (13), durante a tribuna livre.
A convite do vereador Pedro Paulo (PT), o advogado Daniel Godoy
Júnior esteve no Legislativo para apresentar o relatório final da
Comissão Estadual da Verdade, criada em 2012 pelo governo do Paraná,
cujo trabalho reuniu diversos casos de violação aos Direitos Humanos
ocorridos no Estado de 1964 a 1985. Além de integrar o grupo, Godoy
Júnior preside comissão homônima na OAB-PR (Ordem dos Advogados do
Brasil no Paraná).
“O documento homenageia a jornalista Tereza Urban, defensora dos
Direitos Humanos, que foi assessora parlamentar desta Casa, foi vítima e
teve seu caso reconhecido pela Comissão Estadual da Verdade”,
contextualizou o advogado. O relatório, disponível para consulta pela
internet, foi divido em dois volumes, sendo o primeiro, com 800 páginas,
destinado ao teor daquilo que foi apurado, e o segundo, com mil
páginas, às provas documentais obtidas durante a investigação.
“É importante ressaltar o papel da Comissão Estadual da Verdade, cujo
trabalho deu visibilidade, por exemplo, ao massacre de índios Xetá, no
Norte do Paraná”, exemplificou Godoy Júnior. À imprensa ele explicou que
a comissão não buscou quantificar os casos, pois entendeu que todo
trabalho nesse sentido seria incapaz de abranger a totalidade das
violações aos Direitos Humanos, “mas tentamos dar visibilidade àquilo
que aconteceu, pois a população tem o direito de ser informada sobre o
que aconteceu”.
Godoy Júnior lembrou que a criação de Comissões da Verdade ocorreu em
decorrência de uma condenação da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos). “Em 1996 um
grupo de familiares dos desaparecidos do Araguaia, dizendo que provocou a
Justiça brasileira sem obter resposta, recorreu à OEA. Em 2009, a Corte
condenou o Brasil e o país foi obrigado a reparar prejuízos materiais e
morais causados pela ditadura, no sentido de resgatar a memória e a
justiça. As Comissões da Verdade são uma resposta a isso”, afirmou.
Pedro Paulo defendeu que o debate sobre o assunto, e a divulgação do
relatório final da Comissão da Verdade, “é importante nesse momento de
reflexão, onde pessoas ingenuamente defendem a volta da ditadura
militar”. “A lembrança dessas pessoas, que foram torturadas e
assassinadas, deve reanimar nossa vivência democrática. Por isso
convidamos a Comissão da Verdade para municiar aqueles que desejam uma
democracia ampla, irrestrita e eternizada”, declarou o vereador.
Nomes da ditadura
“Sabemos, na Comissão Estadual da Verdade, que tramita na Câmara dos
Vereadores um projeto de lei determinando a retirada de nomes ligados à
ditadura militar dos logradouros públicos. Em nome do procurador Olympio
Sotto Maior, do Ministério Público, e da comissão, queremos firmar
compromisso no sentido de assegurar a efetivação dessa medida”, disse
Godoy Júnior.
O projeto citado é do vereador Pedro Paulo e aguarda instrução
técnica da procuradoria jurídica para tramitar nas comissões temáticas
da Câmara Municipal (005.00070.2015). A proposição revoga todos os atos,
decretos ou leis municipais que tenham conferido a ruas, avenidas e
edifícios públicos, nomes relacionados à ditadura militar aos governos
ou às autoridades que lideraram o governo durante o período ditatorial
(leia mais).
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