CNBB suspeita de crimes em série contra índios no Nordeste.
O assassinato de três lideranças indígenas no Nordeste em uma intervalo
de oito dias causou preocupação aos povos que vivem na região e fez o
Cimi (Conselho Indigenista Missionário) –entidade ligada à CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)– levantar a hipótese de que
as mortes sejam “seletivas” e terem relação entre si por envolverem
índios que se destacavam na luta pela terra.
As mortes ocorreram no Maranhão e na Bahia. A primeira vítima foi Eusébio Ka´apor, morto no dia 26 de abril, no Maranhão.
Depois, foram assassinados Adenilson da Silva Nascimento, no dia 1º; e
Gilmar Alves da Silva, no dia 3 de maio –ambos os crimes na Bahia.
“Avaliamos que os ataques covardes não são fatos isolados. Trata-se
de assassinatos sequenciais e seletivos de líderes e integrantes de
povos indígenas no Brasil”, afirmou Cimi, que emitiu um manifesto nessa
quarta-feira (6) demonstrando preocupação e pedindo investigação dos
casos.
Para o Cimi, os assassinatos “atestam o aprofundamento do processo
de violação de direitos e de violências contra os povos indígenas no
Brasil.”
A entidade alega que é fundamental que os assassinos sejam identificados e punidos.Para o órgão, três fatores principais justificariam as mortes: “Os
discursos racistas proferidos por parlamentares ruralistas do Congresso
Nacional, a paralisação dos procedimentos de demarcação e a omissão
quanto à proteção das terras indígenas por parte do governo Dilma e
decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que anularam
atos administrativos de demarcação de terras nos últimos meses.”
No dia 29, o secretário-executivo do Cimi, Cleber Buzatto, denunciou
ao Fórum Permanente para Questões Indígenas ONU (Organização das Nações
Unidas), em Nova York, a insegurança de lideranças indígenas que lutam
por seus territórios e pediu providências pela retomada das demarcações
das terras indígenas no Brasil.Também pediu uma “ampla consulta com os povos indígenas e construção uma legislação inclusiva sobre biodiversidade”.
As mortes
O agente indígena de saneamento Eusébio Ka’apor, 42, da aldeia
Xiborendá, da Terra Indígena Alto Turiaçu (MA), foi assassinado no dia
26 de abril com um tiro nas costas. Ele voltava de uma aldeia onde mora o
filho e estava de carona em uma moto, quando dois homens encapuzados
abordaram o veículo, pediram que parasse e, em seguida, o acertaram um
tiro.Testemunhas afirmam que o crime foi cometido por madeireiros do município de Centro do Guilherme.
Eusébio era integrante do Conselho de Gestão Ka’apor e teria sido
morto em retaliação a ações de fiscalização e vigilância territorial
iniciadas em 2013 pelos índios. Em março, a tribo fechou todos os ramais
de invasão madeireira da Terra Indígena Alto Turiaçu. Eusébio era
considerado um líder combativo contra a exploração ilegal de madeira.
Diante da repercussão, o Ministério Público Federal no Maranhão
requisitou abertura de inquérito à Polícia Federal para investigar o
caso. Os índios afirmam que temem prestar queixa na delegacia da cidade
por conta de possível apoio da polícia local aos madeireiros.
O agente indígena de saúde Adenilson da Silva Nascimento, conhecido
como “Pinduca”, 54, foi assassinado no dia 1º, numa estrada que liga
Ilhéus ao município de Una, nas proximidades da aldeia Serra das
Trempes, Terra Indígena Tupinambá de Olivença (BA).
Segundo o Cimi, o assassinato de Adenilson ocorreu em situação
semelhante ao de Eusébio. Dois homens encapuzados cercaram e atingiram
Eusébio com um tiro nas costas. A Polícia Civil ainda investiga o caso.Em protesto pelo crime, cerca de 300 indígenas Tupinambá fecharam,
na última segunda-feira (4), a ponte que liga o distrito de Olivença a
Ilhéus.
Já o indígena Gilmar Alves da Silva, 40, foi morto enquanto ia à aldeia Pambú, povo Tumbalalá, no município de Abaré (BA). Ele
também pilotava uma moto, que foi interceptada por um automóvel. Com o
impacto, Gilmar caiu e foi alvejado por uma sequência de tiros. Ele
ainda conseguiu voltar a sua a aldeia, mas não resistiu e morreu. A Polícia Militar conseguiu apreender o carro usado. O suspeito do crime está sendo procurado, mas não teve o nome revelado.
Funai acompanha
Ao UOL, a Funai (Fundação Nacional do Índio) informou que está
acompanhando as investigações das mortes de Eusébio Ka’apor e Adenilson
da Silva Nascimento, mas que em relação a morte de Gilmar Alves não tem
conhecimento do caso.
Sobre as demarcações, o órgão disse que a orientação do governo
federal “é no sentido de promover o maior dialogo possível entre os
órgãos da administração pública federal e entes federados eventualmente
atingidos pela demarcação de terras indígenas, de forma a minimizar os
conflitos de interesse, construir consensos, contribuindo para a redução
de conflitos.” A Funai ainda disse que, com essa orientação, o resultado, em um
curto prazo, é o “retardamento da edição dos referidos atos
administrativos”.
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