Os assassinatos de três lideranças
indígenas no Maranhão e na Bahia, no curto espaço de oito dias, podem
ter relação entre si. A suspeita de crimes em série, praticados contra
Eusébio Ka'apor, no dia 26 de abril, Adenilson da Silva Nascimento, no
dia primeiro, e Gilmar Alves da Silva no dia 3 de maio, foi levantada
pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), entidade ligada à
Confederação Nacional dos Bispos (CNBB).

"Os crimes não são fatos isolados, estão dentro de um contexto
macropolítico de um já prolongado processo de incitação ao ódio e à
violência contra indígenas, principalmente de setores ligados à bancada ruralista",
afirmou Cleber Buzatto, secretário-executivo do CIMI. Para ele, não há
um mandante especificamente dos crimes, mas o clima de ódio seria o
responsável por incitar a prática.
No dia 26 de abril, foi assassinado o agente indígena de saneamento
Eusébio Ka'apor, da aldeia Xiborendá, da Terra Indígena Alto Turiaçu, no
Maranhão. Ele levou um tiro nas costas quando voltava de uma aldeia
onde morava seu filho. Dois homens encapuzados abordaram o veículo onde
ele estava, pediram para que parasse, e o acertaram com um tiro. Segundo
Buzatta, não foi feito o laudo cadavérico do corpo de Eusébio. Na
segunda-feira, o Ministério Público Federal notificou a Polícia Federal
para que realizasse uma investigação do crime, que ainda não começou a
ser feita.
"Ali no Maranhão, o problema é a invasão das terras indígenas feita
pelos madeireiros", diz Buzatta. As terras dos Ka'apor já estão
demarcadas e homologadas. A briga ali, segundo o CIMI, é com os
madeireiros, que tentam invadir o espaço demarcado para explorar o
local. "O ambiente é de conflito ali e os povos estão fazendo a resistência".
Os outros dois crimes ocorreram na Bahia, em terras que foram delimitadas pela Funai, mas aguardam ainda o reconhecimento do Governo.
Por isso, também são lugares onde há conflitos. No dia 1 de maio, o
agente indígena de saúde Adenilson da Silva Nascimento foi assassinado
em uma estrada que liga Ilhéus ao município do Una, na Terra Indígena
Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. As circunstâncias foram as
mesmas do assassinato de Eusébio: Adenilson foi abordado por dois homens
encapuzados e levou um tiro nas costas. Segundo Buzatta, a esposa de
Adenilson também foi alvejada, nas costas, mas sobreviveu. Em Tumpinambá
duas casas foram queimadas nas últimas semanas. Nessa região, de 2013
para cá, ocorreram 18 assassinatos.
Já o indígena Gilmar Alves da Silva foi alvejado enquanto ia para a
aldeia Pambú, povo Tumbalalá, em Abaré (BA). Ele também pilotava uma
moto que foi interceptada por um automóvel. De lá saíram os criminosos
que o alvejaram.
"Existe uma orientação que tem dado causa a esses crimes", afirma
Buzatta. Segundo ele, "outras pessoas estão na lista de morte em que
Eusébio estava". Ele afirma que ameaças às lideranças aumentaram nesses
três locais onde os crimes foram cometidos.
Em nota, a CMI afirma que os assassinatos
são resultados da associação de três fatores principais: "os discursos
racistas proferidos por parlamentares ruralistas do Congresso Nacional, a
paralisação dos procedimentos de demarcação e a omissão quanto à
proteção das terras indígenas por parte do governo Dilma e decisões da
2ª. Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que anularam atos
administrativos de demarcação de terras nos últimos meses. Esses fatores
servem de combustível que alimentam a sanha assassina dos inimigos dos
povos indígenas no Brasil".
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