Mais do que um projeto. O ressurgimento
de um povo e de sua cultura. Foi assim que o cacique Juvenal Payaya
descreveu o resultado da Unidade de Produção de Mudas implantada na
comunidade indígena Payaya, no município de Utinga, Território da
Chapada Diamantina. A ação foi executada pelo Governo da Bahia, através
da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vinculada
a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
De acordo com o cacique, o projeto mudou
a realidade dos índios que moram no local. Vimos por muito tempo
nossas famílias partirem dessa região para buscar alternativas de
trabalho e sobreviver, mas hoje temos como referência nosso viveiro.
Agora já é possível fixar as famílias nessa região, que sempre pertenceu
a nossos ancestrais.
A Unidade de Produção de Mudas contou
com a implantação de um sistema de abastecimento de água, um viveiro
coberto com tela, com capacidade de produção anual de 100 mil mudas, um
viveiro a céu aberto para rustificação das mudas, a construção de
sanitários masculino e feminino, um sistema de irrigação automatizado
para a área dos viveiros e a aquisição de 100 mil sacos para mudas.
A atividade, desenvolvida com alegria e
empenho pelos índios, inclui desde a coleta de sementes de árvores
nativas e espécies em processo de extinção ao reflorestamento da Chapada
Diamantina. Hoje, a comunidade dispõe de 20 mil mudas, de tipos
variados como Mulungu, Angico, Açoita Cavalo, Pau Ferro, Barbatimão,
Umbaúba, Umburana de Cambão, Tamboril, Jenipapo, Mutamba, Jatobá do
Serrado, Murta, Olho de Cabra, Canafístula, Saboneteira, Sucupira de
Caatinga, Maniçoba, Aroeira, Jabuticaba, Tento, Flamboyant, Acácia,
Moringa e Jambo Branco.
A água, elemento indispensável para o
sucesso da iniciativa, passou a ser captada do Rio Utinga, bombeada para
o reservatório com capacidade de 100m³ e distribuída por gravidade para
a aldeia, alimentando os sistemas de irrigação do viveiro e as demais
instalações da unidade.
Entre os benefícios trazidos pela
implantação da Unidade estão o reflorestamento da Chapada Diamantina, o
cultivo de ervas medicinais, tradicionalmente usadas pelos povos
indígenas, o uso, em potencial, para paisagismo e jardinagem e para a
agricultura familiar, visando a própria subsistência e comercialização
da produção excedente.
O cacique conta que através do projeto
também foi possível plantar milho, feijão de corda, andu e banana, além
disso, foi iniciada uma criação de galinha caipira e de porcos. O que
colhemos consumimos e vendemos na feira das cidades vizinhas.
De acordo com um dos coordenadores do
projeto, Helbeth Oliva, a iniciativa converge e ajuda a implementação da
nova lei florestal brasileira que estabelece o florestamento e a
recuperação de diversas áreas, principalmente em encostas, nascentes,
matas ciliares e degradadas. Uma excelente alternativa para o
fornecimento das mudas. A atividade possui o simbolismo de ser
ecologicamente correto e socialmente justo.
Para Juvenal é necessário criar no
baiano a cultura do consumo de árvores e uma conscientização ecológica.
A árvore está sempre nosso redor, em mobílias, no papel, na construção
civil. É ela quem nos garante uma sombra e quem colabora para a nossa
sobrevivência, pois garante água através das nascentes recuperadas. O
espírito das águas traz para a natureza, a harmonia entre as árvores e a
vida humana.