quarta-feira, 9 de abril de 2014

A DITADURA DISSECADA

Oitava Comissão da Verdade da Bahia deverá ser criada em Jequié.

Um grupo formado por professores, militantes políticos e ex-perseguidos da ditadura militar se organiza para criar em Jequié, município do Centro Sul do estado, a oitava Comissão da Verdade da Bahia. Assim como as outras sete, a intenção do conjunto é contribuir com a investigação dos casos de violações dos direitos humanos cometidas pelos militares durante o regime (1964-1985), mas com foco na região.


A iniciativa tem tido o apoio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), que tem um campus no município. O movimento ganhou força no mês passado, durante a realização da “Semana do Direito à Memória e à Verdade: 50 anos do Golpe Militar de 1964”, que aconteceu entre os dias 10 e 18, com atividades nas escolas públicas municipais.

Se criada, a Comissão da Verdade de Jequié se juntará ao trabalho já desempenhado pelas comissões do Governo do Estado, da Assembleia Legislativa, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Faculdade de Direito da UFBA, da seção Bahia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA) e dos municípios de Feira de Santana e Vitória da Conquista.

Para o coordenador da Comissão Estadual da Verdade (do Governo do Estado), o sociólogo Joviniano Neto, que também integra o grupo Tortura Nunca Mais, a expansão da investigação tem sido muito positiva porque contribui para “desenterrar a História da Bahia”. Ele acredita que o fim, de fato, da ditadura na Bahia só aconteceu em 2006, com a queda de um grupo político.

“[A expansão das comissões tem] Duas importâncias: a primeira, a capilaridade, porque são mais setores sociais para discutir a questão, e [a segunda] aumentar a possibilidade de digerir, discutir e elaborar sobre uma quantidade imensa de depoimentos e documentos. Em um estado onde a ditadura demorou para cair, onde os grupos que sobreviveram à ditadura dirigiram o estado até 2006, boa parte da história está soterrada”, defende Joviniano Neto.

Descentralização

A criação das comissões nos municípios do interior contribui, também, para uma descentralização do trabalho de investigação, ainda muito focado na capital baiana. A Comissão de Feira de Santana, por exemplo, já tem dado indícios de que há muitos casos de violações, pela quantidade de vítimas levantadas e documentos encontrados: já são mil documentos aguardando análise e 52 depoimentos agendados.

“Quando você faz uma audiência pública, aparecem dezenas de casos e documentos, que vão reconstruir a verdadeira História da Bahia. Feira de Santana tem essa massa imensa de material e pouco tempo para analisar. Mas mais importante é socializar com a sociedade, para que ela saiba o que está acontecendo e esteja participando. A sociedade está descobrindo e reafirmando uma identidade democrática”, finaliza.

Além das sete comissões já existentes, a Bahia conta, ainda, com o Comitê Baiano pela Verdade (CBV), de iniciativa da sociedade civil.

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