quinta-feira, 20 de março de 2014

TODOS E TODAS CONTRA O RACISMO.

Bahia estuda adotar medidas de combate ao racismo durante a Copa

O árbitro de futebol Márcio Chagas da Silva apitou a partida entre o Esportivo e o Veranópoles, pela 13ª rodada do Campeonato Gaúcho, que aconteceu no último dia 5 de março, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. O jogo terminou com derrota por 3 a 2 do Esportivo, o clube anfitrião. A culpa foi atribuída pela torcida ao juiz e um detalhe é importante para o entendimento da história: Márcio Chagas é negro.


Ao sair do campo, o árbitro ouviu dos torcedores do Esportivo ofensas relacionadas à sua cor da pele. “Macaco imundo!” e “Negro sujo!” foram alguns dos gritos vindos das arquibancadas. E não parou por aí. O automóvel de Márcio, estacionado em um local privativo, foi danificado. Bananas foram arremessadas ao veículo, em mais uma insinuação de que o juiz era macaco.
Árbitro Márcio Chagas

A história de Márcio Chagas ganhou repercussão nacional, mas não é uma exceção no esporte. Há menos de um mês do caso, o jogador brasileiro Tinga também havia sido insultado durante uma partida da Libertadores da América, entre o Cruzeiro e o peruano Real Garcilaso, no Peru. A torcida adversária do Cruzeiro começou a emitir sons de macaco quando Tinga tocava na bola.

Essa repetição de casos de racismo no futebol tem preocupado as autoridades da Bahia, estado que vai sediar a Copa do Mundo de 2014 e que tem oito das 10 cidades mais negras do país, segundo o último Censo do IBGE, de 2010. Em Salvador, onde está localizada a Arena Fonte Nova, que receberá os jogos do mundial, a população afrodescendente chega a 80%, o que dá à capital baiana o título de cidade mais negra fora do continente africano.

No último dia 25 de fevereiro, a chefe de gabinete da Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Olívia Santana, esteve em Brasília para participar de uma reunião com o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo. Na pauta: a preocupação com o racismo durante a Copa do Mundo no Brasil e a necessidade de se pensar em ações de combate à discriminação.

Olívia Santana é conhecida pela luta antirracista. Ela integra a Unegro (União de Negros pela Igualdade) e está à frente da luta de combate ao racismo no PCdoB, partido a qual ela é filiada. Pelo partido, Olívia se elegeu três vezes vereadora de Salvador e é a autora do projeto que instituiu o 21 de janeiro como Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, muito por conta da perseguição que sofrem as religiões de matriz africana.

Para Olívia, o combate ao racismo não deve ser restrito à Copa, mas deve acontecer principalmente no megaevento. “Defendo a elaboração de uma campanha de combate ao racismo no esporte e, com a proximidade da Copa, com foco no futebol. O negro deu grandes alegrias ao futebol brasileiro, à torcida brasileira. A história do futebol é marcada pelo protagonismo dos jogadores negros”, afirma a chefe de gabinete da Setre.
Torcedores racistas europeus.

Copa sem racismo

Uma das medidas apresentadas por Olívia Santana ao ministro foi a adoção de um livreto educativo sobre a discriminação racial, principalmente no mundo futebolístico. A publicação seria distribuída à população local e aos turistas, nos dias dos jogos do mundial. A sugestão é que o livreto adotado seja “Copa sem racismo”, elaborado pela editora baiana Humanidades Educação.

A Humanidades tem uma política de só publicar trabalhos paradidáticos, relacionados a temas como diversidade e promoção da igualdade e da paz, por exemplo. O Vermelho conseguiu, com exclusividade, os detalhes do livreto que poderá ser adotado. Com 40 páginas, o “Copa sem racismo” traz informações sobre a legislação relacionada ao racismo (Constituição, Estatuto da Igualdade Racial, Estatuto do Torcedor, Código de Ética da FIFA, entre outros).


O livreto dispõe, ainda, de orientações sobre como proceder e a quem procurar em casos de discriminação. São indicadas instituições como as secretarias de Reparação e Igualdade, a Defensoria Pública, ONGs, entre outras. “É um conteúdo que poderia ser utilizado em todas as cidades-sede [da Copa]”, defende a editora de conteúdo da Humanidades, Mariana Barahona.

A editora adianta, também, que casos emblemáticos de racismo no futebol são lembrados na publicação. Entre as histórias, estão as ofensas sofridas pelos jogadores Neymar (em Londres) e Roberto Carlos (na Rússia). Mariana Barahona pretende atualizar os casos e o próximo a ser incluído será o do jogador do Cruzeiro Tinga, citado no início da reportagem.

As discussões sobre as ações de combate à discriminação na Copa do Mundo continuam e Olívia Santana pretende fortalecer as movimentações. Ela espera que, pelo menos na Bahia, estado conhecido pela alegria do seu povo, a Copa seja realizada com festa e fraternidade entre todos. “O ambiente do futebol é incompatível com racismo”, finaliza.

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