segunda-feira, 17 de março de 2014

DITADURA, NUNCA MAIS!

Forte do Barbalho foi o principal centro de tortura na Bahia

A placa na entrada informa que a edificação  foi construída por Luiz Barbalho, em 1638, e entregue   ao 7º Batalhão de Polícia Militar em 18 de maio de 1982, pelo então governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães.
Não há, porém, qualquer referência ao fato de o Forte do Barbalho ter sido o maior centro de tortura de presos políticos do estado durante a ditadura militar.
No dia 1º de abril, aniversário de 50 anos do golpe de 1964,  ato organizado pelo Comitê Baiano da Comissão  da  Verdade reunirá no local pessoas que lá estiveram detidas, muitas delas torturadas.
Integrante da organização Ação Popular, grupo que chegou a promover a luta armada durante a ditadura, o  escritor e jornalista Emiliano José foi um dos muitos que passaram pelo forte. Ficou preso no local entre novembro de 1970 e janeiro de 1971, quando foi mandado para a galeria F da penitenciária Lemos de Brito, em Salvador, onde ficou por quase quatro anos.
Emiliano afirma que foi torturado assim que chegou ao centro de detenção, vendado. "Porrada de mão e barra de ferro. Depois, afogamento no tanque. Em seguida,  pau de arara. Fui levado de volta para a cela na maca", relata.
Barbárie
"Aquilo é um calabouço, o Forte do Barbaro", define o jornalista Sebastião Nery, ao misturar as palavras Barbalho e bárbaro. Deputado estadual em 1964, se posicionou contra o golpe e foi preso. Ficou no  Forte do Barbalho de abril a maio daquele ano. Chegou a passar 28 dias na solitária. "Não podíamos dormir nem em cima de papel de jornal. Tinha que ser no chão molhado. O forte  era usado como depósito de gasolina do Exército, então pingava um óleo pelo chão. Parecia curral de bezerro; era uma água melada', relata.
Nery não foi torturado no local, mas lembra dos gritos que ouvia. "Uma vez, pegaram na rodoviária um rapaz que não queria servir e torturaram a noite toda", afirma o ex-parlamentar, que teve o mandato cassado.
A Assembleia Legislativa da Bahia realizará no dia 31 de março uma sessão especial de devolução do mandato de 13  cassados pelo regime.
Militante do PCdoB à época, o advogado Ruy Medeiros foi preso no dia 25 de maio de 1973, em Vitória da Conquista, onde era procurador do município.
Levado para a capital, ficou preso no Forte do Barbalho. "Não tomávamos banho e não tinha sanitário. Apenas uma lata que era substituída a cada três ou quatro dias", conta. Medeiros diz que sofreu torturas por cerca  de 15 dias, em dias intercalados. "Às vezes, a gente perdia até a noção do tempo", afirma o advogado, que mora em Conquista.

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