Aproveitando a data em que ocorreu o golpe militar em 1964, os
movimentos sociais programam um ato de defesa ao mandato da presidente
Dilma Rousseff para 31 de março. A manifestação será em Brasília e
reunirá a Frente Brasil Popular, que tem o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) e entidades sindicais como a Central Única dos
Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e a Frente Povo Sem Medo, que tem
grupos mais refratários ao governo, como o Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto (MTST) e a Intersindical - Instrumento de Luta e Organização da
Classe Trabalhadora, ligada ao PSOL.
"Ditadura, a gente já viveu no passado, não podemos ter golpe de
novo. Em relação à presidenta Dilma, não tem absolutamente nada que
impeça ela de governar", disse o secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre,
ao Broadcast Político. "Nossa democracia ainda é recente e frágil. Não
há razão legal para o impedimento da presidenta", disse Gilmar Mauro, um
dos líderes do MST, à reportagem.
A manifestação virá mais de duas semanas depois do ato programado por
movimentos antiDilma, com apoio da oposição, em 13 de março. "Não
estamos demorando a responder porque não é uma manifestação de resposta.
Não vamos ser pautados por esse povo (pró-impeachment). Esse pessoal
que está insistindo em agravar crise política está prestando um grande
desserviço ao País. Um dia, a história vai mostrar isso", disse Nobre.
Ele também criticou a postura do presidente nacional do PSDB, senador
Aécio Neves (MG), de apoiar grupos como Movimento Brasil Livre (MBL),
Vem Pra Rua e Revoltados Online. "O papel dele era ajudar o País a
crescer. Isso prova que ele não tinha estatura para ser presidente, que o
povo fez certo ao não escolher ele (nas eleições de 2014)."
Mauro afirma que a data permitirá também uma maior organização entre
as dezenas de movimentos e centrais que integram as frentes. O líder do
MST afirma que não há qualquer estimativa oficial da organização do ato
do dia 31, mas que ele acredita ser possível reunir entre 50 mil e 100
mil manifestantes em Brasília.
Os líderes dos movimentos dizem que seguem críticos à orientação da
política econômica do governo, mas que isso não significa uma
autorização para depor Dilma. Eles rebatem a ideia de que a prisão do
marqueteiro João Santana, na Operação Lava Jato, seja motivo para
impeachment ou para uma cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE).
"Evidentemente, somos críticos ao governo Dilma, muito críticos, mas
ela foi eleita legitimamente. Se a presidente for impedida por isso
(caixa dois de campanha), todos os governadores, prefeitos, a maioria
dos deputados teria de ser impedida. O caixa dois é parte da lógica da
política brasileira e continuará sendo, enquanto não houver uma
verdadeira reforma política", disse Mauro.
"Defendemos que tem de se investigar, mas todas as campanhas, não um
lado só. Os mesmos caixas que financiaram o PT, financiaram o PSDB e o
PMDB. Não há equidade no processo de apuração", complementou Nobre.
Críticas econômicas
Novamente, o ato dos movimentos sociais e das centrais sindicais vai
às ruas com a pauta de defesa do direito da presidente Dilma governar,
mas levará duras críticas à política econômica do governo. A principal
crítica deve se centrar à proposta da reforma da Previdência. "Não dá
para misturar as duas coisas.
Defendemos a democracia, mas somos contra a reforma da Previdência e
toda essa política econômica de ajuste, que é uma fórmula de desemprego e
depressão", afirmou Mauro, do MST. "Temos como eixo principal a defesa
do emprego, contra a reforma da Previdência com essa proposta de idade
mínima e equalização da idade de aposentadoria de homens e mulheres",
disse Nobre, da CUT.
Apesar das críticas, os líderes não levantam a bandeira de "Fora
Barbosa" como fizeram em 2015 com o "Fora, Levy". Apesar de o ministro
da Fazenda, Nelson Barbosa, defender a reforma previdenciária, ele tem
um relacionamento antigo com as centrais e a base petista e a avaliação é
que ainda tem crédito com essa parcela. "O Barbosa ainda precisa dar
uma sinalização mais clara de qual vai ser a rota, mas temos de dar
tempo pra ele, ele acabou de assumir", disse Nobre. Nelson Barbosa
assumiu a Fazenda em 21 de dezembro.
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