
Lideranças dos povos Pataxó e Tupinambá do extremo sul da Bahia
fizeram um protesto, quarta-feira (24), na Praça dos Três Poderes, em
Brasília, para chamar a atenção para problemas ligados à demarcação de
terras indígenas.
“Estamos aqui reivindicando principalmente questões territoriais da
nossa aldeia”, disse a cacique Cátia Tupinambá, uma das cerca de 50
indígenas que participaram da manifestação. Segundo a líder, a questão territorial vem preocupando as populações
indígenas. “A paralisação nas demarcações das terras indígenas é uma das
nossas principais preocupações.”
No protesto, os indígenas reforçaram posição contrária à Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 215, que tira do Poder Executivo a
prerrogativa de decidir sobre a demarcação de terras indígenas e
remanescentes de quilombos. Pela proposta, caberá ao Congresso Nacional a
palavra final nos processos.
“Nosso objetivo é fazer uma reivindicação ao governo federal para a
demarcação de terras indígenas no Brasil, porque nos últimos governos
está havendo um retrocesso da política indigenista brasileira, inclusive
com medidas legislativas, através da PEC 215. A gente vê que a bancada
ruralista está bastante forte, os interesses dos ruralistas, dos
latifundiários e dos grileiros de terras estão falando mais alto que a
Justiça”, disse o cacique Aruã Pataxó.
Além da questão territorial, os indígenas também cobraram na
manifestação de hoje o fortalecimento da Funai (Fundação Nacional do
Índio). Segundo o cacique pataxó, a instituição está fragilizada devido a
cortes provocados pela crise econômica.
“Vários órgãos e ministérios estão extinguindo cargos. No Ministério
da Justiça foram 173 – 114 deles na Funai – então, você vê que estão
querendo acabar com a Funai. Têm várias outras instituições no
ministério e estes cargos poderiam sair de outra instituição e não da
Funai” disse.
Questão indígena no STF
Após a manifestação, os índiosforam ao Supremo Tribunal Federal
(STF), onde entregaram uma carta nos gabinetes dos ministros da Corte. O documento lista demandas sobre a PEC 215, a Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) que investiga a atuação da Funai e a tese jurídica do
marco temporal para demarcações indígenas, que diz que os índios só
teriam direito às terras efetivamente ocupadas até a data da promulgação
da Constituição de 1988.
“São os três grandes eixos que estão sendo discutidos no STF. Todos
eles, se o STF não garantir a inconstitucionalidade ou a nulidade destes
atos do Legislativo e do Executivo, vão retirar muitos direitos dos
povos indígenas e especialmente direitos territoriais”, explicou o
assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Rafael
Santos. “Em suma, os índios entregaram uma carta pedindo que os ministros
julguem estes processos e julguem favorável a garantia da efetivação dos
direitos que são constitucionais dos índios”, acrescentou.
Além da carta, os índios entregaram aos ministros da Segunda Turma do
STF um memorial referente a uma terra Terena no Mato Grosso do Sul que
teve o decreto homologatório anulado pela turma.
O grupo que protestou ficará em Brasília até sexta-feira (26). Os
indígenas vão tentar entrar em contato com ministros de outas pastas.
Eles pretendem debater, entre outros temas, demandas de saúde e
educação.
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