A JUSTIÇA TARDIA.
Maria Madalena e Maria Balbina, da Associação 11 de Dezembro.
A justiça demorou a chegar para
as famílias que compõe a ASSOCIAÇÃO 11 DE DEZEMBRO de Santo Antônio de Jesus,
cidade do recôncavo baiano que ganhou projeção nacional por ser uma grande
produtora de fogos de artifício na década de 1990. Porém com a produção
artesanal e sem nenhuma medida de segurança projeção do município aumentou quando
uma explosão em uma das fábricas clandestinas da cidade vitimou 64
trabalhadores e feriu mais 5, num total de 69 vitimas diretas. Os sobreviventes
e familiares se reuniram na Associação 11 de dezembro e começaram então um
movimento para que a justiça fosse feita, para as vítimas, com a indenização e
apoio aos familiares e para os culpados, que, segundo a associação, até hoje
permanecem impunes.
A associação criou uma creche para
que os filhos menores, órfãos que perderam seus pais no acidente não ficassem
abandonados à própria sorte até que fossem reparados, via justiça, pela perda
dos pais. Maria Balbina dos Santos,
presidente da associação, contou à reportagem que muitos filhos atingiram a
maioridade e não receberam nenhuma indenização, embora o caso já tenha sido
julgado e ter sido dado ganho de causa às vítimas.
Maria Balbina
A boa notícia é que, no dia 08 de
outubro foi determinado pela justiça civil o pagamento, como forma de
indenização, de R$ 20.000,00 para cada vítima. Dinheiro insuficiente para pagar
o valor da vida humana, como nos disse a fundadora e primeira presidente da associação, a senhora Maria
Madalena Santos Rocha, que chora a perda de três filhos no acidente e é, com
certeza, a mais aguerrida defensora dos direitos das vítimas, tendo ido às
várias autoridades, nos âmbito estadual e federal, buscar reparação aos
atingidos.
Maria Madalena perdeu
três filhos no acidente.
A luta ainda continua, pois ainda
são buscadas as reparações na justiça do trabalho e as perdas sofridas pelas
famílias que perderam pais, mães, filhos, irmãos, gente que não volta mais. Uma
das principais queixas das famílias das vítimas é de que a produção clandestina
de fogos continua, nas barbas do poder público e que não existe uma
fiscalização efetiva e uma repressão das irregularidades, que as vítimas foram
abandonadas pela autoridade municipal, que não apoiou sua população após a
tragédia e também não se empenhou em evitar que tragédias do mesmo tipo
ocorressem, limitando-se a realizar o repasse de verbas obtidas a nível federal
para manutenção da alimentação das setenta e cinco crianças atendidas pela
creche todos os dias.
A creche 11 de dezembro se
localiza no bairro Mutum, um dos mais pobres de SAJ, mas a queixa principal dos
moradores não é a pobreza ou a violência do local e sim a falta de emprego e o
preconceito existente contra a população que lá reside, situação essa que a
associação 11 de dezembro pretende mudar, levando um estímulo à população local
para que estudem e mudem de vida, aperfeiçoando-se para que não se recorra mais
ao sub emprego das “tendas”, os locais onde se fabricam os fogos
clandestinamente.
Como disseram a ex e a atual
presidente da associação, o que é buscado pelas vítimas não é o dinheiro da
indenização, e sim o respeito às pessoas, o apoio que foi negado as famílias e
a justiça, que os culpados pela perda de 64 vidas e pelo desamparo de mais
tantas que perderam um ente querido, esses devem ser punidos, pois o dinheiro,
para muitos servirá para construir uma sepultura para um ente querido falecido
a quinze anos e até hoje clamando por uma reparação. A justiça dos homens é
lenta para os pobres.
Nossa equipe: Paraná e Beto Costa.
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