Na
semana passada, entre os dias 22 e 26 de fevereiro, uma delegação dos
povos Pataxó e Tupinambá do extremo sul da Bahia esteve em Brasília,
dando início ao ano de lutas pelos direitos dos povos indígenas na
capital federal.
A
primeira delegação indígena a cumprir agendas e manifestar-se por seus
direitos e territórios tradicionais em 2016 em Brasília, simbolicamente,
trouxe os povos que historicamente habitam a região onde deu-se o
primeiro contato com os invasores portugueses, mais de 500 anos atrás.
“Fomos
os primeiros povos a serem contatados e estamos sendo os últimos a
serem ouvidos”, afirma Mandỹ Pataxó, da coordenação da Terra Indígena
(TI) Comexatibá. “Dali que surgiu toda a violência”.
Ainda em luta pela terra
A
delegação trouxe à capital do país 48 indígenas dos povos Pataxó e
Tupinambá, representando sete terras indígenas e 39 aldeias Pataxó e a
Terra Indígena Tupinambá de Belmonte. Em todas estas terras, a luta pela
demarcação efetiva dos territórios tradicionais destes povos ainda está
presente, e a violência decorrente da demora na conclusão dos processos
demarcatórios também.
Na
TI Comexatibá, por exemplo, uma violenta reintegração de posse feita
pela polícia em janeiro deste ano resoltou na destruição completa da
aldeia Cahy, com todas as casas e até a escola colocadas abaixo por
tratores. A TI Comexatibá já é reconhecida e delimitada pela Funai, o
que não foi suficiente para garantir um mínimo de segurança jurídica
para os indígenas.

Conflitos com órgão ambiental do governo
Além
disso, sobreposto a esta mesma área está o Parque Nacional do
Descobrimento, mantido pelo Instituto Chico Mendes de Preservação da
Biodiversidade (ICNBio). Ironicamente, depois de séculos desta região
sendo mantida e preservada pelos indígenas, a ICNBio quer a expulsão dos
Pataxó da região, também por meio de ação de reintegração de posse e
sem sequer buscar diálogo com o povo tradicional.
A
mesma situação de conflito com o órgão governamental repete-se em outra
área Pataxó, a TI Barra Velha, que passa por processo de ampliação de
seus limites e sobre cujo território incide o Parque Nacional Monte
Pascoal. Por isso, entre as agendas dos indígenas em Brasília, esteve
uma reunião com o Ministério do Meio Ambiente, onde tentaram a abertura
de um diálogo com o governo para a solução do conflito.

“Os povos indígenas estão atentos”
Na
manhã do dia 24, os Pataxó e Tupinambá do extremo sul da Bahia
realizaram uma marcha na Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três
poderes, reivindicando a demarcação de seus territórios tradicionais,
contra a PEC 215 e o marco temporal.
Em
Brasília, acompanharam também uma sessão da CPI da Funai/Incra,
capitaneada pelos ruralistas com a finalidade de deslegitimar a Funai e o
Incra para inviabilizar a demarcação de terras tradicionais indígenas e
a titulação de terras quilombolas.
No
Supremo Tribunal Federal (STF), os indígenas também protocolaram cartas
pedindo aos ministros que respeitem os direitos indígenas e não
utilizem a tese do “marco temporal” em seus julgamentos, como já
aconteceu em três ocasiões. O marco temporal – incorporado à PEC 215 –
determina que só podem ser demarcadas como terras tradicionais aquelas
que estivessem sob posse dos indígenas em 5 de outubro de 1988, o que
desconsidera todas as violações sofridas antes da Constituição de 1988 e
a falta de autonomia dos indígenas até então.

Por
fim, os indígenas tiveram também reuniões com o presidente da Funai e
com a Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena (Sesai), onde
reclamaram da falta de estrutura para os atendimentos de saúde e,
especialmente, no caso dos Pataxó, da falta de água potável que tem
atingido as aldeias, em função das práticas agressivas do agronegócio e
do plantio de eucaliptos.
“A
gente achava que ia ter impacto sobre a água em 20, 40 anos, mas os
poços artesianos da região estão secando, córregos no centro da mata já
não tem mais água. Rios que eram de grande influência e grande volume de
água hoje estão cortados no meio com um fiozinho que você atravessa num
passo”, afirma Mandỹ Pataxó.
“Essa
vinda nossa é para marcar que os povos indígenas estão atentos”, afirma
Aruã Pataxó, presidente da Federação Indígena dos Povos Pataxó e
Tupinambá do extremo sul da Bahia.
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