terça-feira, 1 de julho de 2014

A LUTA CONTINUA.

Mais um ano de movimentos históricos.


As greves continuam sendo deflagradas pelo País, apesar de ser ano eleitoral e ainda a Copa do Mundo ocorrer no Brasil, nada desvia a atenção dos trabalhadores, que clamam por seus direitos.

No Brasil todo, cerca de 14 categorias em 23 Estados, como Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Ceará  e outros, estiveram em greve até junho de 2014, de acordo com uma publicação da revista Veja. Em Goiás, os números também foram relevantes, tanto classes de servidores públicos municipais quanto federais aderiram aos movimentos grevistas. Hoje, a saúde e educação municipal estão em greve, recentemente foi findada a greve dos motoristas do transporte coletivo na capital. Apesar dos pontos negativos que toda greve traz consigo, especialistas garantem que, no geral, os movimentos que ocorreram em Goiás e em todo País tiveram bons resultados, o sofrimento do povo não foi totalmente em vão, mesmo com as poucas conquistas das classes.
O vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores, Ademar Rodrigues, cita que houve greves da administração das universidades federais, que, de acordo com ele, nem foram recebidas pela presidente, Dilma Rousseff, para conversa. "Nossos amigos da área de cultura também, mas retomaram as atividades recentemente, a Polícia Federal negociou com o governo e, apesar de não conseguir uma negociação totalmente satisfatória, voltou ao trabalho. Os servidores da limpeza pública deixaram o serviço por conta de atrasos salariais por um tempo neste ano", explica.
Além das entidades citadas por Ademar, também houve a paralisação do Instituto Medico Legal (IML), dos bancários da Caixa Econômica Federal, dos servidores do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFG) e até mesmo dos jogadores do Formosa Esporte Clube, por atraso salarial.

Greves acontecem em todas as esferas do País

Ademar ressalta que a greve que foi novamente deflagrada pela educação só foi retomada pelo não cumprimento do governo quanto ao acordo firmado no início do ano. "Nas cidades de Valparaíso e Águas Lindas de Goiás e outras cidades, tivemos a paralisação dos policiais militares e civis, os motoristas de ônibus da capital também conseguiram findar as negociações há poucos dias", afirma. Ele ainda cita os movimentos estudantis, que mesmo não se tratando de greves foram importantes no Estado.
Quando a possíveis abusos, tanto da parte dos grevistas quanto do governo, Ademar explica que o que mais chamou a atenção foi a prisão de três estudantes durante os protestos do movimento estudantil em Goiânia. "Tanto foi abusivo que tiveram de soltá-los posteriormente. Eu sou totalmente contra qualquer tipo de depredação, tudo deve ser feito legalmente e de maneira responsável", diz. O vice-presidente cita também a greve dos funcionários dos Correios, que tiveram boas negociações: "Mas isso ocorreu porque a empresa é particular e não pública, eles têm mais formas de negociação e o acordo coletivo, que é outra luta que buscamos para os trabalhadores públicos", explica.
De modo geral, Ademar analisa que, apesar das muitas greves, os benefícios para os trabalhadores não foram relevantes. "Em alguns casos eles nem foram recebidos ou ouvidos, em outros houve alguns reajustes, como para os motoristas, mas nada muito grande. Por ser um ano eleitoral, e ter os jogos da copa, as pessoas acham que era o momento de fazer greve, mas não é bem assim. Independente desses aspectos, elas iriam ocorrer", afirma.
saldo 
positivo
Para o sociólogo Leonardo de Moraes, mesmo com todo desgaste causado na população pelas greves e as privações causadas pelas mesmas, no geral há um saldo positivo, o Brasil aprende e cresce com tais movimentos. "O nível de organização dessas greves é alto, são movimentos conscientes de categorias profissionais como no caso dos educadores e trabalhadores da saúde. Existem lideranças e são por questões consistentes não insólitas", reflete.
Leonardo cita que o nível de reflexão causado pelas greves na sociedade é outro ponto positivo. "As pessoas se veem obrigadas a pensar a respeito, seja para discordar ou concordar com tal movimento. Isso leva as pessoas a debaterem o assunto e o debate é sempre um crescimento, é uma forma de mostrar as opiniões", diz. A avaliação aponta que uma sociedade pensante é mais produtiva e consciente do que aquela que não tem nada a se discutir, as greves levam à reflexão e também ao crescimento do senso crítico do povo. Levando em consideração que este é um ano eleitoral, tal situação se torna mais vantajosa ainda para o País.
Resquícios 
históricos
O sociólogo esclarece que esta não é a primeira vez que este fenômeno ocorre, o número de greves em todo o País já esteve inclusive maior, como nos anos 70 e 80, no entanto, desta vez, há alguns diferenciais. "Essas dos anos anteriores são marcos históricos, agora temos uma retomada, não chega a ser como na Argentina, com uma greve geral, no entanto o que ocorre no Brasil o movimenta de forma intensa", explica. Leonardo diz que, ao mesmo tempo, as greves no Brasil são genéricas e isso é novo, o nível de escolaridade dos grevistas e da população em geral é maior que em outros tempos. "O poder econômico do País e da população também melhorou, o que dá de certa forma um nível novo de repercussão desses pontos de vista", afirma.  
Não se trata mais só de direitos trabalhistas, o brasileiro busca por melhor qualidade de vida: "Como um trocadilho, eles querem acordar, ou seja, dar cor ao dia a dia aos processos e ao seu trabalho", diz. Ele ressalta que as greves deixam um legado social muito grande para as novas gerações. Adolescentes e crianças que estão, hoje, vendo esses movimentos poderão avaliar melhor suas condições futuras, em todos os aspectos da vida. "É perceptível que até mesmo os discursos dos candidatos mudaram, eles percebem que o povo acordou para sua realidade e exigem melhora. Isso pode sim trazer mais cultura, e educação e melhorias para o povo", analisa Leonardo.

Movimento “Vem pra Rua” completou um ano

No último dia 20 de junho a manifestação com a #vemprarua completou um ano. Em Goiás, assim como aconteceu em dias de jogos, alguns estabelecimentos fecharam as portas em prol da democracia, a concentração iniciada no centro da cidade trouxe boa parte dos goianienses para o movimento, que, apesar dos ânimos, correu bem. No dia, cerca de 10 mil rosas brancas foram entregues para os cidadãos pela Polícia Militar.
Para a especialista em psicologia social Margarete Regina, ouvida pela reportagem do DM na época, o aumento do valor da passagem dos ônibus do transporte coletivo foi apenas o estopim para que a manifestação ganhasse força. "Nunca conseguiremos mudança pedindo pelo amor de Deus, a sociedade se mexe, quando as pessoas sentem o que está acontecendo, e, portanto, fazem parte daquilo, se veem assim, na obrigação de participar e fazer o seu papel", explicou. Ela cita que há vantagens e desvantagens nesse tipo de movimento. "A vantagem disso é que estamos nos movimentando, fazendo abaixo assinado e nossas reivindicações. As desvantagens são as pessoas mal-intencionadas, que vão fazer depredação, bagunça e, principalmente, instigar a violência", relata.
De acordo com o cientista político e professor Luiz Signates, o Brasil nunca esteve dormindo, e que esse movimento foi mais uma demonstração da força que a sociedade tem quando quer expor sua vontade e direitos. No ano passado ele acreditava que o "Vem pra Rua" pudesse mudar algo na sociedade e política brasileira, no entanto não foi o que aconteceu de fato. "Acho que serviu sim para chamar atenção da classe política para mudanças que podem ainda ocorrer, isso nós veremos nas urnas em outubro. No entanto, não vi nenhuma mudança. A animação em torno do futebol acabou ofuscando e o movimento não se renovou", explica Luiz. O cientista político afirma que o foco de mudança principal do movimento "Vem pra Rua", infelizmente, não findou, que era a reforma política no País.

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