Para os seres acabados, os “moderninhos” e os da esquerda “bem comportada”
Postado em 06 novembro 2013 no site www.indiosonline.net
Lendo o Brasil de Fato,
sobre a defesa que o Subcomandante Marcos Todos Somos Marcos dos
anarquistas, diante da critica recebida da esquerda “bem comportada” e
de “moderninhos”, ambos ficam orbitando a luta de classes, orbitando por
diversos motivos, inclusive filhos e filhas de industriários,
latifundiários e até herdeiros da aristocracia, que ficam “brincando” de
revolucionários, mas quero ver quando a pólvora entrar pelas narinas,
se realmente vai se voltar contra seus pró-genitores ou se irão
preservar a manutenção da propriedade da família e coloco propriedade
aqui como bem tratou Proudhon.
O texto de Marcos, me fez pensar muito e me ajudou a formular algumas
coisas. Principalmente na relação entre indígenas e não-indígenas de
boas intenções.
Eu afirmaria que é uma resposta ao PSTU, mas infelizmente, não cabe só ao PSTU, que muito tem errado em seus julgamentos de companheiros e companheiras que adotam a tática Black Bloc. Essa carapuça serve para milhares de “moderninhos” e esquerdistas “bem comportados”, pois almejam o poder, tanto quanto Lula, Fernando Henrique, Serra, Maluf, Alkimim, Hadad, Kassab, Cabral e os cambal.
Eu afirmaria que é uma resposta ao PSTU, mas infelizmente, não cabe só ao PSTU, que muito tem errado em seus julgamentos de companheiros e companheiras que adotam a tática Black Bloc. Essa carapuça serve para milhares de “moderninhos” e esquerdistas “bem comportados”, pois almejam o poder, tanto quanto Lula, Fernando Henrique, Serra, Maluf, Alkimim, Hadad, Kassab, Cabral e os cambal.
Quantos e quantos chegam numa aldeia com o intuito de ensinar, com
toda boa intenção do mundo. É agroecologia, é permacultura, é gestão
territorial, é construções ecologicamente corretas, adobe, taipa, bambu,
roupa e por aí vai. Até o socialismo tem gente indo ensinar para os
povos indígenas.
Muitos que chegam para “ensinar” seus ismos, chegam com tanto ceitos,
prés e cons que não conseguem escutar. Não nos escutam. Mas falam da
forma que vivemos tanto na cidade, como no campo e na floresta, lugar
que para estes bem intencionados, nós nunca deviamos ter saído, pois
“lugar de índio é na floresta”. Mas qual floresta, “cara pálida”? Aquela
que os seus destruíram? Nos criticam porque estamos nas cidades, mas
não nos escutam para saber em qual contexto chegamos nas cidades ou em
qual contextos as cidades chegaram onde nós estamos, dois exemplos que
nos serve de fonte de aprendizado são os Guarani Mbyá da cidade de São
Paulo e os Tuxá de Rodelas.
Os Guarani Mbyá vivem em duas minúsculas aldeias na zona noroeste de São Paulo, com privações de tudo, terra, saneamento, moradia
adequada a sua cultura e a sua sobrevivência e inclusive liberdade. Não
são livres para caçar, pois não tem onde caçar, não são livres para
pescar, pois não tem peixe nos rios, não são livres para ir e vir, pois
tem rodovia, ferrovia e uma cidade para atravessar. E há as duas aldeias
no extremo sul da cidade, com outro contexto, porém com algumas
semelhanças nas privações. Quantos olhares recebem dos bem
intencionados, desde os “moderninhos” aos da “esquerda bem comportada”?
Só mesmo os próprios Guarani Mbyá podem nos dizer.
Os Tuxá, vivem em contexto totalmente diferente das
dos Guarani Mbyá, porém a cidade de Rodelas chegou até eles/elas, no
sertão do extremo norte da Bahia, as margens do grandioso Opará. Moram
numa aldeia construída pela usina hidrelétrica, que os expulsaram de sua
taba de origem, alagando tudo com as aguas represadas. Para os
preconceitos, se trata de um condomínio, como estas vilas que vemos em
alguns bairros operários de São Paulo. Casas de alvenaria, bem acabadas,
cada uma no seu quadrado. O que diriam esses bem intencionados lá?
“Nossa, perderam a sua cultura”. Creio que isso deve ter acontecido com
muitos que passaram por lá. Muitos desses que Marcos trata em seu texto.
Que chegam com seus ismos e ceitos. Não conseguem aprender nada, pois
chegam acabados e um ser acabado nada aprende, não é mesmo Paulo Freire?
Tive a felicidade de poder ir lá para conhecer os
Tuxá de Rodelas. Conhecer e aprender que não é o contexto que nos faz.
Que não é a violência extremada dos que só tem a ganancia para nos
ensinar que vai nos tirar o que somos. E que ótimo que temos bem aqui do
lado um povo chamado Mapuche, que nos ensinam muito sobre isso.
Nos primeiros segundos estranhei um pouco aquelas
casas. Mas como nasci e cresci num contexto urbano, não tive nenhum
ceito, nem pré nem con. E o que não me foi surpresa, vi toda a cultura
Tuxá expressa no cotidiano daquela gente. Não importa se em sua
totalidade, mais estava ali presente e nem tenho parâmetro suficiente
para afirmar se foi ou não alterado sua cultura, pois juntando todas as
vezes que estive com os Tuxá de Rodelas, não chega a 60 dias, prazo
muito pouco para poder ter dimensão de uma cultura, ainda mais em
relação a povos indígenas e ainda, os Tuxá não deixam que terceiros
assistam a todas suas manifestações culturais. Então, nunca eu iria
saber.
Tive outras experiências muito semelhante com os
Nhandeva, Kaiowá e Terena do MS, Pankará e Pankararu do Pernambuco e
aqui em São Paulo mais de 30 povos, que vivem em mesmo contexto que eu,
mas cada com sua especificidade pertinente a sua origem étnica.
Com os Zapatistas muito aprendi e aprendi porque
não sou um ser acabado, pois este é um dos requisitos para o aprendizado
constante e permanente: ser inacabado, que escuta, que observa.
Esta matéria foi publicada originalmente na Rede Índios on Line - www.indiosonline.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário